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"Cúpula de Kazan começa a libertar o mundo da hegemonia do Ocidente", diz Pepe Escobar

Analista geopolítico comenta os avanços estratégicos dos BRICS e afirma que o veto à entrada da Venezuela põe em xeque a liderança brasileira

Pepe Escobar | Bandeiras do Brics (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Reuters)

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247 – Em seu programa Pepe Café, no YouTube, o analista geopolítico Pepe Escobar discutiu os desdobramentos da recente cúpula do BRICS em Kazan, Rússia, destacando os esforços do bloco em direção a uma nova ordem geoeconômica que busca libertar o mundo da hegemonia ocidental. Segundo Escobar, a cúpula marcou uma série de avanços para o bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, incluindo o fortalecimento de sistemas alternativos de pagamento e a consolidação de uma rede de conectividade logística com a Ásia e o Oriente Médio. "A história está sendo feita aqui em Kazan", comentou Escobar. "Esse trem-bala geoeconômico está finalmente saindo da estação rumo à independência do Ocidente."

Escobar, que acompanhou a coletiva de imprensa do presidente russo Vladimir Putin ao lado de outros 250 jornalistas, relatou a importância das discussões sobre um sistema de pagamento independente do Swift. Putin teria esclarecido que, embora o BRICS ainda não esteja implementando um sistema próprio, as nações integrantes vêm explorando alternativas ao dólar e ao sistema financeiro norte-americano. “O BRICS está realizando testes fundamentais com o BRICS Pay. Esse trem-bala já está em movimento”, disse Escobar, sublinhando o papel do presidente russo ao presidir um ano considerado crucial para o fortalecimento do bloco.

Outro ponto enfatizado por Escobar foi a crescente cooperação entre Rússia e Coreia do Norte, apesar de boatos sobre uma possível participação de tropas norte-coreanas na guerra na Ucrânia. "Putin classificou isso como 'nonsense' e enfatizou que a relação com Pyongyang envolve treinamento militar, mas longe do front ucraniano", esclareceu Escobar. A proximidade estratégica com a Coreia do Norte, segundo ele, sinaliza uma nova articulação no leste da Ásia, área historicamente sensível para a geopolítica russa.

Um tema que causou frustração entre alguns dos analistas presentes, segundo Escobar, foi o veto brasileiro à adesão da Venezuela ao grupo BRICS. Informações vazadas indicaram que a decisão teria sido comunicada diretamente pelo presidente Lula e pelo assessor especial da presidência, Celso Amorim. "Este veto coloca em xeque o papel de liderança que o Brasil tinha até então no BRICS", analisou Escobar. "Isso foi diretamente contra os interesses de Rússia, China e Irã, que têm relações estratégicas com a Venezuela", concluiu.

A cúpula em Kazan também foi palco para discussões sobre a expansão do BRICS e o papel dos novos parceiros, como a Arábia Saudita, que entrou no bloco, mas com certa cautela. Segundo Escobar, Putin destacou que “com um simples telefonema, os ativos sauditas em Nova York e Londres poderiam ser congelados, o que dificulta uma adesão plena de Riad ao BRICS”. Escobar explicou que essa situação obriga a Arábia Saudita a manter um equilíbrio estratégico, de olho nas relações com Washington e na crescente influência chinesa e russa.

Para Escobar, outro ponto alto da cúpula foi a ênfase em novas rotas de conectividade. Putin, em seu discurso, mencionou corredores comerciais estratégicos como o Corredor Internacional Norte-Sul, que liga São Petersburgo à Índia via Irã. “Essa rota representa uma via direta para fortalecer o comércio entre os BRICS e reduzir a dependência do canal de Suez”, analisou Escobar. Ele também destacou que, com o Brasil assumindo a presidência do BRICS no próximo ano, será esperado um papel de liderança para coordenar os avanços do BRICS Pay e outras alternativas econômicas.

Para Pepe Escobar, os dias em Kazan revelaram o potencial de um mundo multipolar que já começa a moldar um novo cenário econômico e político global. "O que estamos vendo aqui é o início da liberdade de um mundo que esteve preso à hegemonia ocidental", concluiu o analista. A expectativa para o próximo ano é de que o bloco BRICS apresente propostas ainda mais práticas e robustas, reforçando o papel de liderança do Brasil sob a presidência de Lula. Assista:

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