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Brics em Kazan: a geopolítica global em um ponto de virada, aponta Pepe Escobar

A cúpula em Kazan pode definir o futuro da multipolaridade e reestruturar a ordem econômica global

(Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | ABR)

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247 – A cúpula dos BRICS que acontecerá em Kazan, de 22 a 24 de outubro, é considerada um dos eventos mais importantes do ano para a geopolítica mundial. Segundo o analista Pepe Escobar, que tem acompanhado de perto as movimentações do grupo ao longo de 2024, esta edição poderá marcar um ponto de inflexão crucial para o desenvolvimento de uma nova ordem econômica global. Em vídeo do Pepe Café divulgado em seu canal do YouTube, Escobar compartilhou suas impressões sobre a relevância do encontro, destacando as expectativas e desafios que envolvem os principais países emergentes e seus parceiros.

Escobar ressaltou que, ao longo do ano, a Rússia, que detém a presidência rotativa dos BRICS, conseguiu cumprir aproximadamente 90% dos seus objetivos. "Os últimos 10% são os mais difíceis, é o sprint final dos 100 metros", comentou, enfatizando a importância das negociações que acontecerão até o início da cúpula. Ele também destacou a relevância das discussões internas e o papel de novos parceiros, como a Arábia Saudita, que, embora ainda não tenha definido plenamente sua posição no bloco, será um dos países observados de perto.

A Arábia Saudita está, como definiu Escobar, "em cima do muro". Embora tenha sido convidada para Kazan, o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman não comparecerá, enviando em seu lugar o ministro das Relações Exteriores. Há várias especulações sobre a ausência de MBS, sendo uma das mais recorrentes a preocupação com a instabilidade interna e a possibilidade de um golpe, situação exacerbada pela constante interferência estrangeira. Ainda assim, o país mantém uma estreita relação com a Rússia e a China, especialmente na OPEC+ e no comércio de energia.

Outro ponto-chave da cúpula será o avanço nas discussões sobre uma nova moeda de reserva, um tema levantado com força nos últimos meses, principalmente por Paulo Nogueira Batista Júnior, ex-diretor executivo do FMI, que discursou recentemente sobre o assunto em Moscou. "A criação de uma nova moeda de reserva é um passo necessário para que o Sul Global possa se libertar da dependência do sistema financeiro ocidental", afirmou Batista, segundo Escobar. Além disso, ele ressaltou que as transações em moedas nacionais continuarão a ser uma prioridade nas próximas reuniões.

A cúpula dos BRICS, que começa na terça-feira e se estende até quinta, reunirá não apenas os líderes dos países-membros, mas também parceiros estratégicos e possíveis novos membros. A expansão do bloco é um dos principais temas da pauta, com o número de interessados em ingressar no BRICS aumentando exponencialmente. "Praticamente todo o Sul Global quer fazer parte desse movimento", afirmou Escobar, explicando que o atual sistema de "ordem internacional baseada em regras" promovido pelo Ocidente já não atende mais às necessidades de grande parte dos países em desenvolvimento.

As discussões que antecedem a cúpula também são intensas. Na semana passada, ocorreu a reunião dos ministros das Finanças e dos chefes de Bancos Centrais dos BRICS, evento que Escobar acompanhou de perto em Moscou. Uma das figuras de destaque foi Elvira Nabiullina, presidente do Banco Central da Rússia, que fez uma intervenção precisa sobre a estabilidade financeira e o desenvolvimento de alternativas ao sistema de pagamentos internacional. 

Com todas essas questões em jogo, a cúpula de Kazan se configura como um evento geopolítico e geoeconômico essencial para o futuro global. A presidência dos BRICS será passada para o Brasil em 2025, o que aumenta as expectativas sobre o papel do país na continuidade dessas discussões. “Se os BRICS desapontarem o Sul Global na próxima semana, as consequências serão profundas", advertiu Escobar, ressaltando que o bloco precisa ir além de declarações e adotar medidas práticas audaciosas.

As decisões tomadas em Kazan também terão impacto direto nas relações internacionais e no equilíbrio de poder entre o Ocidente e o Sul Global. A criação de um sistema financeiro alternativo ao SWIFT e a intensificação do comércio entre os membros do bloco nas suas respectivas moedas são alguns dos temas que devem estar na declaração final da cúpula. "A maioria Global não aguenta mais o sistema atual", concluiu Escobar, apontando para o desejo de transformação das nações em desenvolvimento. Confira:

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