“Há uma submissão na esquerda brasileira ao Partido Democrata”, diz Breno Altman
Jornalista critica a postura de lideranças de esquerda no Brasil em relação ao apoio acrítico à candidatura de Kamala Harris
247 – Durante sua participação no programa Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman fez duras críticas à postura de setores da esquerda brasileira em relação ao Partido Democrata dos Estados Unidos. Segundo Altman, há uma "submissão" por parte de partidos e lideranças de esquerda ao partido norte-americano.
"Parte da esquerda brasileira se comporta em relação ao processo eleitoral dos EUA de uma forma vergonhosa. Aparentemente o que causa esse comportamento vergonhoso é o medo. O medo do fascismo, o medo de Trump, o medo para onde o mundo está se encaminhando, que é para uma confrontação entre campos. E esse medo leva setores da esquerda a se abraçarem a qualquer coisa para combater essa extrema direita. Isso abre portas para que setores e lideranças de esquerda simplesmente esqueçam tudo para defender a democracia liberal contra a extrema direita, e passem a apagar nos seus pronunciamentos, nas suas posições, quaisquer diferenças, ou contradições, ou antagonismo em relação ao Partido Democrata. Vimos várias pessoas e vários partidos, porque isso é transversal, passa pelo PT, pelo PSOL, pelo PCdoB, uma política de submissão em relação ao Partido Democrata, tratando o Partido Democrata como se ele fosse uma contraposição profunda, antagônica, ao Partido Republicano, como se fossem blocos políticos antagônicos entre si, quase como se o Partido Democrata fosse esquerda, e isso não é", disse Altman.
Ele prosseguiu: "Os Democratas e os Republicanos são duas alas do mesmo sistema imperialista. Qualquer que seja o resultado, quem continuará governando são os inimigos dos povos, com Trump, com Kamala Harris, ou com qualquer que seja o candidato democrata, daqueles candidatos democratas que estão no jogo. É rigorosamente uma solução dentro do bloco imperialista, dentro do bloco que representa os piores interesses da burguesia norte-americana. Portanto, é razoável que uma pessoa de esquerda ache melhor para o Brasil que ganhe a Kamala Harris. É uma boa análise achar que seja melhor ganhar Kamala porque a vitória de Trump fortalece Bolsonaro, é uma boa análise. É uma análise pelo menos, digamos assim, séria, pode-se concordar ou não com ela. Mas a vibração, a euforia, o encanto, a apologia a isso é vergonhoso. É vergonhoso de um jeito inacreditável! Kamala Harris defende a mesma política pelo o massacre do povo palestino. Ela é inimiga de muitas das pautas dos movimentos negros americanos. Kamala Harris, quando procuradora da Califórnia, foi uma defensora incondicional do encarceramento em massa, e o encarceramento em massa nos Estados Unidos tem como suas principais vítimas os negros norte-americanos."
Para Altman, esse ponto de vista, conduzido pelo medo, e que de maneira eufórica e acrítica vibra com a candidatura de Kamala, é a "nau da insensatez". "Nós temos uma capitulação ideológica de setores da esquerda brasileira que deseduca. Não há problema em achar que Kamala Harris é melhor do que Trump, mas essa euforia é muito grave. Mostra como a esquerda brasileira está contaminada pelo liberalismo. Mostra como a luta contra o neofascismo está se transformando em um álibi para setores e lideranças de esquerda capitularem às ideias liberais."
Altman finalizou afirmando que "O PT, PCdoB, PSOL não nasceram para ser sucursais do Partido Democrata dos EUA. O Partido Democrata dos EUA é um braço do imperialismo. Não podemos incorporar o Partido Democrata." Assista:
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