"Lula está cansado de saber que pesquisa a esta altura do campeonato não vale nada", diz Marcos Coimbra
Marcos Coimbra descredibiliza levantamento patrocinado pelo mercado e afirma que pesquisas distantes da eleição dizem pouco sobre o cenário real
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o sociólogo e cientista político Marcos Coimbra, fundador do Vox Populi, empresa especializada em pesquisas de opinião e de mercado, afirmou que levantamentos realizados com muita antecedência em relação ao pleito têm pouca ou nenhuma utilidade para compreender o verdadeiro cenário eleitoral. A crítica foi direcionada à repercussão de um levantamento recente financiado por agentes do mercado financeiro e amplamente promovido por veículos tradicionais da imprensa, como O Globo. “A pergunta sobre a importância [da pesquisa] é: nenhuma”, afirmou Coimbra logo no início da conversa.
O sociólogo ironizou o uso político do levantamento por setores da grande mídia, citando especificamente o colunista Merval Pereira, que utilizou os dados para alegar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria em “pânico”. “Não sei de onde ele tirou essa informação. Essa é a única utilidade dessa pesquisa, que não tem significado nenhum”, declarou Coimbra, sugerindo o caráter panfletário da divulgação.
Segundo ele, existe na sociedade brasileira um setor que é “profundamente hostil” ao PT, ao presidente e a qualquer figura identificada com a agenda progressista. Esse setor, conforme apontou, está apoiado por um ecossistema midiático coeso e atuante: “É um grupo unido, que se legitima e legitima uns aos outros. E a briga é difícil.”
Coimbra também destacou que a pesquisa em questão foi financiada por uma instituição do sistema financeiro, o que, segundo ele, já se tornou prática recorrente no país. “Temos uma das famosas jabuticabas brasileiras: bancos, corretoras e instituições do mercado que encomendam e divulgam pesquisas como e quando querem. Vamos supor que seja por altruísmo, por espírito público”, disse, com ironia.
Ao relativizar os números divulgados, Coimbra relembrou um exemplo recente: “No final de 2021, faltando menos de um ano para a eleição, Lula tinha 60% e Bolsonaro, 30%, segundo o Datafolha. E o que aconteceu na eleição todo mundo sabe: a diferença foi de cerca de seis pontos no primeiro turno e de dois e meio no segundo.” A lembrança, para ele, serve de advertência contra o uso de dados precoces como prognóstico eleitoral. “Se o Bolsonaro tivesse levado a sério aquelas pesquisas, tinha desistido da eleição, ido pra casa cuidar das joias dele”, ironizou.
Durante a entrevista, Coimbra também abordou o desinteresse da população por política como um dos fatores que reduzem a capacidade preditiva dessas pesquisas feitas fora do período eleitoral. Segundo ele, aproximadamente 60% do eleitorado popular afirma não ter qualquer interesse por política. “Fizemos uma pesquisa com perguntas básicas — quem é o vice-presidente, o presidente da Câmara, qual a duração do mandato de senador — e mais de 50% da população adulta brasileira não acerta nenhuma”, afirmou. Para o sociólogo, esses dados refletem “baixo interesse, baixa informação e pouco envolvimento”.
Apesar disso, é justamente esse eleitorado desinformado e distante da política que frequentemente aparece nas pesquisas que ganham destaque na imprensa, moldando de maneira distorcida o debate público. “É isso que vai pro jornal e enseja a manifestação do Merval Pereira dizendo que Lula está fulminado”, criticou.
A avaliação de Coimbra deixa evidente que, mais do que questionar a metodologia ou os resultados numéricos, é necessário considerar o ambiente sociopolítico em que essas pesquisas são realizadas — e quais interesses estão por trás de sua promoção. Segundo ele, Lula, com longa trajetória em disputas eleitorais e enfrentamentos com a mídia, conhece bem o jogo. E por isso, como resumiu: “está cansado de saber que pesquisa a esta altura do campeonato não vale nada”. Assista:
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