"Maduro quer restabelecer, o mais prontamente possível, as relações que Brasil e Venezuela historicamente tiveram", diz Altman
Breno Altman fala sobre os desafios diplomáticos e o papel do governo brasileiro nas relações com a Venezuela e a América Latina
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o jornalista Breno Altman analisou a atual conjuntura das relações entre Brasil e Venezuela, destacando o papel central do governo brasileiro no restabelecimento de laços diplomáticos com o país vizinho. A entrevista foi marcada por uma reflexão sobre os caminhos que o Brasil deve seguir em sua política externa e os erros cometidos até agora, especialmente na condução das questões relacionadas às eleições venezuelanas e ao BRICS. Segundo Altman, "ficou claro pra mim que a disposição do presidente Nicolás Maduro é restabelecer o mais prontamente possível as relações que historicamente Brasil e Venezuela tiveram, ao menos desde 2003, quando Lula assume a Presidência pela primeira vez."
A crise diplomática, de acordo com Altman, não foi provocada diretamente pelo presidente Maduro, mas pela postura do governo brasileiro, que teve dificuldades em lidar com a questão das eleições venezuelanas e, em um erro estratégico, vetou a participação da Venezuela no BRICS. "A crise foi provocada pela atitude que o governo brasileiro teve em relação às eleições venezuelanas e depois em relação ao BRICS. Então, eu não vejo como o presidente Maduro tenha muito o que fazer a esse respeito, ou seja, o restabelecimento de relações normais entre a Venezuela e o Brasil depende fundamentalmente do governo Lula", disse o jornalista.
Altman também abordou o ambiente político da América Latina, especialmente o impacto da vitória de Donald Trump, e a necessidade de uma aliança mais sólida entre os países da região para enfrentar as políticas norte-americanas. Para ele, o embate contra a política dos EUA deveria ser "acima de quaisquer divergências que existiram nos últimos meses". Altman ressaltou que o governo brasileiro "meteu os pés pelas mãos na questão venezuelana", mas que Maduro demonstrou uma postura conciliatória, declarando que "da nossa parte está tudo ok, vida que segue, página virada".
Em relação à postura do Brasil diante da situação, Altman destacou que existem sinais positivos, como a presença da embaixadora brasileira na posse de Maduro e a mudança na retórica de autoridades brasileiras, como o chanceler Mauro Vieira e o assessor internacional Celso Amorim, que pararam de comentar sobre a Venezuela. "São sinais de distensão, como se dizia ali no início dos anos 60, durante a Guerra Fria", afirmou Altman. No entanto, ele alerta que o governo brasileiro precisa dar um passo mais firme, especialmente no que diz respeito ao BRICS, e corrigir o erro estratégico cometido anteriormente.
O jornalista também fez um balanço das relações atuais entre Brasil e Venezuela, destacando que, apesar de não ter ocorrido um "encontro de alto nível" como um encontro de chanceleres ou uma bilateral entre os presidentes, há "relações fluídas nos temas pertinentes". Ele citou um exemplo concreto: o acordo entre Brasil e Venezuela para a compra de energia elétrica em Roraima, que ajudou a reduzir drasticamente os custos da energia para a população local. "A Venezuela topou na boa vender energia elétrica, muito mais barata do que Roraima compra atualmente de fornecedores nacionais", disse Altman, destacando que a relação continua importante, mesmo em meio a desafios diplomáticos.
Altman também dedicou parte da entrevista a questões internacionais, como o comportamento de Donald Trump em relação aos palestinos e sua política contra os imigrantes. Para ele, a retórica de Trump tem semelhanças com a de Hitler, especialmente em relação ao discurso de ódio contra os latinos e os palestinos. "Ele está, de certa maneira, repetindo o que o Hitler fez ao propor o preconceito contra latinos e os povos pobres do planeta", afirmou. O jornalista também criticou o sistema imperialista, vinculando as políticas de Trump a uma "família ideológica" que inclui o nazismo, o sionismo e o liberalismo.
Em sua análise sobre a política externa dos Estados Unidos e a situação na Palestina, Altman apontou que, embora o governo de Trump seja mais agressivo, o de Joe Biden também não pode ser considerado generoso em questões raciais. "Esse discurso contra os imigrantes, faz parte da própria natureza do sistema imperialista", concluiu Altman, refletindo sobre a complexidade das relações internacionais e o papel do Brasil na construção de uma frente latino-americana mais coesa e ativa.
Por fim, Breno Altman deixou claro que a situação atual exige um novo enfoque nas relações internacionais e nas ações do Brasil na América Latina. Ele concluiu, com um tom otimista, que "a Venezuela é a mais avançada experiência de esquerda da América Latina", e que o Brasil, apesar das dificuldades, ainda tem um papel crucial a desempenhar no cenário global. Assista:
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