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"Marçal tem força eleitoral porque a direita se apropriou da rebeldia e da contestação ao sistema", diz Jones Manoel

Filósofo marxista afirma que a esquerda passou a representar o status quo

Jones Manoel (Foto: Arquivo pessoal)

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247 – Em uma entrevista ao jornalista Leandro Fortes, reproduzida em seu canal no Youtube, o historiador e comentarista político Jones Manoel afirmou que Pablo Marçal se consolidou como uma das principais lideranças da extrema-direita no Brasil ao adotar um discurso antissistema, tradicionalmente associado à esquerda. Durante um vídeo no YouTube, Manoel traçou um panorama histórico do deslocamento ideológico no país, destacando que Marçal tem conseguido atrair grande parte da juventude e se posicionar como uma alternativa política relevante no cenário nacional.

Manoel contextualizou que, nas décadas de 1970 e 1980, a identificação com a direita no Brasil era mínima, e as principais figuras políticas preferiam se situar no centro ou centro-esquerda. A ascensão da direita no país, segundo ele, começou após a consolidação do Partido dos Trabalhadores (PT) como a maior força da esquerda a partir de 1989. Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2002, essa mudança acelerou, e as grandes capitais começaram a apresentar uma população que, majoritariamente, se identificava com a direita.

A força de Marçal, argumenta Manoel, está em sua capacidade de canalizar o descontentamento popular e de se apresentar como um líder antissistema. Esse discurso, caracterizado por críticas ao "sistema político tradicional", à mídia e às elites globais, é uma estratégia que, até recentemente, era mais associada aos movimentos de esquerda. "Todo o discurso que deveria ser revolucionário, eles capturaram", afirmou Manoel, referindo-se à forma como figuras da extrema-direita, como Marçal, adotaram uma retórica de enfrentamento ao sistema, que historicamente era usada pela esquerda para criticar as elites econômicas e a mídia corporativa.

Crítica ao status quo

O slogan de Bolsonaro em 2022, "Supremo é o povo", foi mencionado como um exemplo da eficiência desse discurso. Para Manoel, esse tipo de retórica apela diretamente a um eleitorado insatisfeito com a política tradicional e reforça a ideia de que a direita, e especialmente a extrema-direita, se posiciona como a única força realmente crítica ao status quo.

Marçal, segundo Jones Manoel, já ultrapassou o status de figura marginal da política e se tornou uma liderança nacional. Ele citou o impressionante alcance de Marçal nas redes sociais e em programas como o Roda Viva, onde sua participação alcançou milhões de espectadores ao vivo. "Ele já é uma liderança nacional", ressaltou Manoel, acrescentando que, se Marçal decidir se candidatar a qualquer cargo em 2026, como deputado, senador ou até presidente, será uma força significativa nas urnas.

Manoel também destacou que a extrema-direita tem construído uma base sólida de lideranças em várias faixas etárias. "Temos jovens como Nikolas Ferreira, lideranças de 30 a 40 anos, como Pablo Marçal, e figuras mais velhas, como Bolsonaro e Damares Alves", apontou. Para ele, essa diversificação etária garante uma longevidade ao movimento e amplia seu alcance, especialmente entre os jovens, que enxergam em Marçal um símbolo de rebeldia e contestação.

Desgaste da esquerda brasileira

Outro ponto levantado por Manoel é o desgaste da esquerda brasileira, que, segundo ele, perdeu a capacidade de mobilizar e engajar seus militantes e simpatizantes. Ele critica o que vê como uma postura excessivamente conservadora da esquerda atual, afirmando que parte do problema é que a esquerda se tornou "muito carola" e perdeu o papel de questionar e subverter as normas sociais, algo que hoje é atribuído à direita.

Por fim, Manoel alertou que, apesar do crescimento eleitoral de figuras como Marçal, o fenômeno vai além de uma disputa eleitoral imediata. Ele vê um movimento de longo prazo em jogo, onde a disputa por hegemonia cultural e política é central. "O projeto de sociedade que essas lideranças de extrema-direita estão oferecendo é perigoso", afirmou, enfatizando que, embora a eleição seja importante, ela não resume a complexidade da disputa ideológica em curso no Brasil. Assista:

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