“O crime organizado está entranhado no Estado brasileiro”, diz Gisele Ricobon
Advogada Gisele Ricobon alerta sobre a profundidade do crime organizado no Brasil e critica a instrumentalização política da segurança pública
247 - A advogada Gisele Ricobon, em entrevista ao programa Boa Noite 247, abordou questões cruciais relacionadas à segurança pública e ao avanço do crime organizado no Brasil. Segundo Ricobon, os recentes eventos de violência, como o assassinato de um delator do PCC no aeroporto de Guarulhos, em plena luz do dia, evidenciam o desprezo das facções pelo Estado brasileiro. “É muito preocupante, pois um ato realizado no principal aeroporto do país [...] demonstra que realmente não estão preocupados com o Estado brasileiro”, afirmou a advogada.
Para Ricobon, a ideia de que o crime organizado atua como um "estado paralelo" no Brasil é incorreta. Segundo ela, o crime está profundamente “entranhado no Estado brasileiro” e, nas últimas décadas, tem permeado instituições, inclusive alcançando o governo federal durante a gestão Bolsonaro. Ela aponta que o crescimento do poder das milícias e do PCC ganhou impulso a partir dessa conexão com setores estatais, o que amplia as dificuldades de combate ao crime. “Essa relação precisa ser esclarecida”, declarou, referindo-se à delação feita pelo empresário assassinado, que indicava o envolvimento de policiais.
Outro ponto destacado pela advogada foi a infiltração do PCC no sistema prisional e a expansão da facção criminosa desde os anos 1990. A organização, de acordo com Ricobon, movimenta milhões de reais por ano e não hesita em utilizar violência extrema para proteger seus interesses. Ela lembrou que o atentado contra o delator reforça discursos políticos de combate ao crime que, na visão dela, são puramente eleitoreiros. “Esses ataques [...] reforçam o discurso de força de políticos como Tarcísio e Bolsonaro, que fingem combater o crime organizado enquanto promovem apenas retórica eleitoreira”, criticou.
A advogada também abordou a pressão do bolsonarismo sobre o STF, que ela considera uma manobra de oportunismo político. Para Ricobon, a estratégia de Bolsonaro é usar o discurso da segurança pública para manter o medo na população e, assim, conquistar legitimidade. Ela comparou essa instrumentalização do medo com a estratégia usada por Trump nos Estados Unidos. “Vejo [...] um oportunismo político bolsonarista”, disse, defendendo a importância de respeitar as decisões do STF, que é “o guardião da Constituição”.
Segundo Ricobon, a segurança pública no Brasil é tema constantemente usado como moeda política, especialmente em estados como São Paulo. Ela destacou que a falha nas investigações do assassinato do delator no aeroporto de Guarulhos demonstra o grau de infiltração do crime organizado na polícia e criticou a postura de alguns governadores, que evitam tratar a questão com seriedade. “Os governadores sabem dessa polarização, mas, por medo de perder legitimidade, evitam debater o tema de maneira séria”, afirmou.
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