TV 247 logo
      HOME > Entrevistas

      “O Exército estava de frente para nós”, diz Cappelli sobre impasse que travou ação para desmontar acampamento golpista

      Ricardo Cappelli relata bastidores da tentativa de golpe em 8 de janeiro, o impasse com militares e a operação para prender mas de mil pessoas

      (Foto: ABR)
      Dafne Ashton avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - Em entrevista concedida ao programa Boa Noite 247, o ex-interventor federal no Distrito Federal e atual presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, detalhou os bastidores da intervenção decretada após os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. Ele descreveu a escalada dos atos, a conivência de setores militares e a tensão diante da tentativa de desmontar os acampamentos instalados em frente aos quartéis.

      Segundo Cappelli, os eventos daquele domingo foram o ápice de uma conspiração golpista que começou bem antes. “É a primeira vez na história do país que uma conspiração golpista irá a julgamento colocando no banco dos réus civis e militares envolvidos”, afirmou.

      Ele enfatizou que os acampamentos nos entornos dos quartéis eram estruturas com apoio logístico e militar. “Não eram barracas improvisadas, eram cidadelas golpistas. Foram gestados, planejados, e contaram com proteção. As pessoas saíam de lá para cometer crimes e voltavam para se abrigar. Se aquilo foi autorizado, inclusive com apoio operacional de parte das Forças Armadas, eu não tenho dúvida que partiu do então comandante em chefe, Jair Bolsonaro.”

      Cappelli relatou que, em 8 de janeiro, quando liderava a tropa da Polícia Militar para desmobilizar o acampamento no Setor Militar Urbano, encontrou resistência direta do Exército. “Eu comandava uma tropa e tinha uma tropa virada para mim. Era tropa contra tropa. Não é que ameaçaram, os blindados estavam lá.”

      O então comandante militar do Planalto, general Henrique Dutra, confrontou Cappelli: “Se o senhor entrar, nós teremos um banho de sangue.” O interventor respondeu: “Um banho de sangue por quê? O Exército está protegendo homens armados no setor militar urbano?”

      O impasse só foi resolvido após o general telefonar ao presidente Lula e relatar a situação. Segundo Cappelli, o presidente pediu que aguardassem a chegada dos ministros Flávio Dino, Rui Costa e José Múcio para pactuar a ação. “Aquela noite foi tensa. Eu não dormi. Passei a madrugada montando o plano para a operação de prisão em massa. Foi a maior operação de polícia judiciária da história do Brasil.”

      A operação, segundo ele, envolveu a prisão de mais de mil pessoas e a coordenação entre Polícia Federal, Polícia Civil e Polícia Militar. “A gente teve que pensar em como transportar, identificar, custodiar e autuar judicialmente cada uma daquelas pessoas. Não era uma simples manifestação. Tinha homem treinado, com rádio, com tática de combate.”

      Cappelli também rebateu a defesa de anistia aos envolvidos: “Não vi nenhuma dona de casa ou trabalhador falando disso. É uma pauta restrita às bolhas políticas. O que aconteceu foi muito grave e precisa de resposta firme. Não é possível passar pano.”

      Ao abordar a atuação do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, nomeado secretário de Segurança Pública do DF por Ibaneis Rocha às vésperas do 8 de janeiro, Cappelli afirmou: “Anderson Torres não é uma peça qualquer. Foi encontrado com a minuta golpista em casa. Ele assumiu o cargo, desmontou a estrutura de segurança e viajou aos EUA. É coincidência?”

      Cappelli também destacou que o golpe só não avançou por fatores institucionais e políticos. “Houve um esforço para cooptar os comandos das Forças Armadas. O almirante Garnier dizia que Lula não subiria a rampa. Mas não conseguiram maioria no Alto Comando do Exército. A maioria se manteve legalista.”

      Ele elogiou a reação de Lula e das instituições. “Houve uma ação imediata do presidente Lula, do ministro Flávio Dino, e uma resposta do Supremo e do Congresso. Foi isso que impediu o pior.”

      Ao final da entrevista, Cappelli revelou que está finalizando um livro com os bastidores dos 23 dias da intervenção. “Não estou opinando, estou relatando fatos. Para que não se diga que nada aconteceu.” Assista: 

       

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Relacionados