“Os Estados Unidos não são vítimas da China. São vítimas do capitalismo”, diz André Jacobina
Historiador destaca a decadência do império estadunidense e a desindustrialização em curso
247 – Em entrevista concedida ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, o historiador André Jacobina, do canal A Nova Máquina do Tempo, defendeu a tese de que os Estados Unidos estariam vivendo uma fase de decadência semelhante à de outros impérios ao longo da história. “Todos os impérios viveram sua queda. É o que está ocorrendo agora nos Estados Unidos”, afirmou.
Para justificar sua análise, Jacobina citou o economista Richard Wolff como uma de suas maiores influências. De acordo com ele, a atual disputa comercial dos Estados Unidos contra a China tem sido usada como pretexto para justificar a desindustrialização norte-americana, quando, na verdade, a causa estaria na própria lógica capitalista.
“Os Estados Unidos não são vítimas da China. São vítimas do capitalismo. Os capitalistas abandonaram o trabalhador estadunidense e buscaram custos menores”, argumentou.
Ainda segundo Jacobina, tanto os partidos Republicano quanto o Democrata contribuíram para o processo de desgaste da economia e da indústria norte-americanas. “Nos últimos cinquenta anos, a economia americana esteve em guerra contra a classe trabalhadora, contra os sindicatos. Isso aconteceu não apenas nos Estados Unidos, mas lá ocorreu de forma mais explícita, com a compra escancarada dos políticos”, explicou. Ele lembrou também que Bill Clinton foi “um grande estimulador da globalização e, portanto, da desindustrialização dos Estados Unidos”.
Troca do trabalhismo pelo identitarismo
Jacobina destacou que os democratas, ao deixarem de lado as pautas trabalhistas, acabaram se concentrando em temas identitários, como os direitos reprodutivos, o que teria afastado o apoio dos sindicatos e de grande parte da classe trabalhadora. Esse fenômeno, diz ele, abriu espaço para a ascensão de Donald Trump, eleito em 2016 com o respaldo popular e, segundo Jacobina, reeleito em 2024 também com o apoio dos trabalhadores que se sentiram abandonados pelo outro partido.
O historiador mencionou também o economista Yanis Varoufakis, que aponta a desvalorização do dólar como possível caminho para os Estados Unidos enfrentarem a competição chinesa. “A China tem uma saída para as tarifas, que os Estados Unidos não têm, que é aumentar o poder de compra da sua população”, ressaltou.
Por fim, Jacobina descreveu que, diante do “fracasso do neoliberalismo”, muitos norte-americanos começam a buscar alternativas que retomem princípios da social-democracia, incorporando elementos que já circulam em correntes mais à esquerda. “Temos que olhar para o sistema atual e chegar à conclusão de que o capitalismo não é o destino da humanidade. As ideias socialistas estão circulando mais porque há o anseio por uma outra alternativa. O socialismo é a sombra do capitalismo, e o capitalismo está mostrando todos os limites da sua experiência”, concluiu. Assista:
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