"Ou o Brasil se torna líder na América Latina ou será vassalo do Ocidente", diz especialista

247 - Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o analista geopolítico Thomas de Toledo abordou a guerra na Ucrânia, os desdobramentos das negociações entre os Estados Unidos e a Rússia e a forma como a mídia brasileira tem tratado o conflito. Segundo ele, "a Rússia vê o tempo como seu maior aliado", pois a estratégia de avanço territorial e fortalecimento diplomático beneficia Moscou.

Toledo explicou que, desde o início da guerra, a Rússia buscava um acordo, mas agora suas exigências mudaram: "A Rússia sempre quis paz, mas agora quer consolidar seus ganhos territoriais". O analista destacou que Moscou pretende garantir o reconhecimento da Crimeia, Donetsk, Lugansk e outras regiões como parte de seu território. "Isso deixaria a Ucrânia com uma pequena faixa costeira e praticamente encurralada", afirmou.

O analista também criticou a postura da imprensa brasileira, que, em sua visão, replica narrativas ocidentais sem questionamentos. "A mídia brasileira é subserviente. No início da guerra, ‘O Estado de S. Paulo’ fez uma reportagem sobre animais morrendo em um zoológico na Ucrânia por culpa da Rússia. Isso foi patético", comentou. Para ele, a russofobia está profundamente enraizada no Ocidente e reflete um preconceito histórico contra os povos eslavos.

Sobre o futuro da guerra, Toledo afirmou que a Ucrânia está em uma posição desfavorável: "O exército ucraniano está esgotado. Zelensky perdeu apoio interno e depende exclusivamente da União Europeia e do Reino Unido". Segundo ele, a Ucrânia pode ser apenas comunicada dos termos de um eventual acordo entre Putin e Donald Trump. "A Ucrânia não terá nada a negociar, apenas receberá as decisões", acrescentou.

O analista também abordou a influência dos Estados Unidos na política global, especialmente na América Latina. Ele destacou a atuação da National Endowment for Democracy (NED), organização financiada pelo Congresso norte-americano que apoia movimentos oposicionistas em diversos países. "Dizem que a oposição venezuelana é financiada pelos Estados Unidos. Isso não é teoria da conspiração, é um fato documentado", declarou.Toledo criticou a visão de parte da elite brasileira, que se considera parte do Ocidente. "O Brasil jamais será aceito no clube do Ocidente. Para eles, somos apenas latino-americanos, não importa a ascendência europeia de alguns brasileiros". Ele citou o pensador Samuel Huntington, autor de O Choque de Civilizações, para explicar a posição do Brasil no contexto global: "Huntington dizia que o Brasil tem duas opções: ou se torna líder na América Latina ou será um vassalo do Ocidente".

Por fim, Toledo comentou sobre sua própria ascendência e a forma como a identidade brasileira é vista no exterior. "Descobri que sou um típico brasileiro misturado: eslavo, nórdico, italiano, alemão, indígena e africano. Mas, nos Estados Unidos, todos seremos vistos como latinos", afirmou. Para ele, é essencial que o Brasil compreenda seu papel na multipolaridade e deixe de reproduzir uma visão dependente dos interesses norte-americanos.

Ao encerrar a entrevista, o analista reafirmou sua posição crítica sobre o discurso predominante na imprensa. "Minha crítica não é pró-Rússia, é contra a narrativa vendida pelos Estados Unidos sobre essa guerra", concluiu. Assista: