“Quem quer comer, não pode esperar”, diz Débora Nunes, coordenadora do setor de produção do MST
Coordenadora do MST critica agronegócio, exportações e falta de políticas para a agricultura familiar no alto custo dos alimentos
247 - “Quem quer comer não pode esperar”. Com essa frase contundente, Débora Nunes, integrante da Coordenação Nacional do Setor de Produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sintetiza a urgência de políticas públicas que enfrentem o aumento do preço dos alimentos no Brasil. Durante uma entrevista, Débora destacou as múltiplas causas que influenciam a alta nos preços, incluindo fatores climáticos, econômicos e estruturais no campo.
Segundo Débora, as mudanças climáticas têm agravado os desafios para a produção de alimentos. “O aquecimento global, períodos mais longos de estiagem ou chuvas muito intensas impactam diretamente a produção. Essa realidade é consequência de um modelo hegemônico de agricultura no Brasil, centrado no agronegócio, que prioriza exportações e gera consequências danosas não só para os camponeses, mas para toda a sociedade.”
Ela também abordou a lógica de priorização do mercado externo pelo agronegócio. “Durante a pandemia, vimos produtores priorizarem a exportação de arroz porque o preço no mercado externo era mais atrativo, deixando a população brasileira desabastecida. O mesmo acontece com commodities como soja, carne e café, que têm forte impacto nos preços internos.”
Débora enfatizou a necessidade de investimentos na agricultura familiar, que, segundo ela, é responsável por produzir os alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. “Hoje, cerca de 70% dos estabelecimentos agropecuários são de agricultura familiar, mas esses detêm menos de 25% das terras agricultáveis. Isso reflete a concentração de terras no Brasil e a falta de prioridade para quem produz alimentos saudáveis e acessíveis.”
Entre as medidas defendidas pelo MST estão o fortalecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a ampliação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Débora criticou as políticas do governo anterior, que, segundo ela, enfraqueceram a Conab e dificultaram o acesso da agricultura familiar ao mercado. “Os armazéns foram fechados e políticas como o PAA, essenciais para garantir a compra de alimentos pela Conab, foram descontinuadas. Isso ainda reflete hoje no aumento dos preços.”
A entrevista também abordou as iniciativas do MST para viabilizar a mecanização da agricultura familiar por meio de parcerias internacionais. Débora mencionou os testes com equipamentos agrícolas chineses adaptados para pequenas propriedades. “Já estamos testando máquinas trazidas da China, que são acessíveis e tecnificam o trabalho no campo. O objetivo é instalar fábricas no Brasil, fortalecendo a indústria nacional e reduzindo os custos para os agricultores.”
Ao ser questionada sobre a reforma agrária, Débora afirmou que ela é essencial para resolver estruturalmente os problemas de soberania alimentar e de acesso a alimentos no país. “Hoje temos cerca de 100 mil famílias acampadas, esperando pela democratização da terra. Terra democratizada significa mais produção, mais alimentos saudáveis e mais renda para quem vive no campo.”
Débora concluiu sua fala reforçando a urgência de ações imediatas e estruturais para enfrentar o aumento dos preços. “O governo precisa priorizar políticas que garantam a produção e distribuição de alimentos saudáveis a preços acessíveis. Quem quer comer não pode esperar para amanhã.”
Com essas declarações, Débora Nunes aponta os desafios e os caminhos para um sistema agrícola mais justo e sustentável no Brasil, destacando o papel central da agricultura familiar na garantia da soberania alimentar. Assista:
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