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      Trump ameaça Venezuela com intervenção militar e reabre disputa centenária por Essequibo

      Secretário de Estado dos EUA adverte Caracas sobre conflito territorial com Guiana e insinua envio de tropas; Breno Altman analisa o contexto histórico

      (Foto: Reuters | Divulgação )
      Dafne Ashton avatar
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      247 - Em análise publicada no canal Ópera Mundi, o jornalista Breno Altman expôs as ameaças do governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump em seu segundo mandato, contra a Venezuela. O alerta partiu do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, que declarou no último dia 27 de março que qualquer ação de Caracas sobre o território de Essequibo, atualmente sob controle da Guiana, “não terminaria bem”. Ele acrescentou: “Temos uma marinha grande e ela pode chegar praticamente a qualquer lugar”.

      Altman observa que essa retórica evidencia a disposição da Casa Branca em escalar militarmente a disputa territorial entre Venezuela e Guiana, aproveitando-se da exploração de petróleo na região por parte da gigante estadunidense ExxonMobil. O enviado especial dos EUA para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, confirmou que o governo Trump estuda instalar tropas na Guiana, à semelhança do que ocorre no Golfo Pérsico.

      O presidente da Guiana, Irfaan Ali, celebrou o apoio dos EUA: “Estou muito satisfeito com a garantia dos Estados Unidos de salvaguardar nossa integridade territorial e soberania”. Nicolás Maduro, por sua vez, respondeu duramente às ameaças: “A Venezuela não é ameaçada por ninguém, porque esta é a pátria dos libertadores. Essa é a pátria de Bolívar, imbecil”, disse, dirigindo-se a Rubio.

      A origem do litígio por Essequibo

      A disputa territorial entre Venezuela e Guiana remonta à independência da Venezuela da Espanha, em 1811. A região de Essequibo, com cerca de 160 mil km² — um território maior que o estado do Ceará —, era originalmente parte do novo país latino-americano. No entanto, em 1831, o Reino Unido comprou da Holanda o que se tornaria a Guiana Britânica e, em 1840, iniciou a demarcação da fronteira com a Venezuela por meio da chamada Linha Schomburgk, que avançava sobre territórios venezuelanos.

      Em 1899, um tribunal arbitral — formado por dois britânicos, dois norte-americanos representando a Venezuela e um russo — decidiu em favor do Reino Unido. A legitimidade da decisão, no entanto, foi contestada décadas depois. Segundo Altman, uma carta póstuma de Severo Mallet-Prevost, jurista dos EUA que assessorou a Venezuela na ocasião, revelou que a sentença foi fruto de negociações secretas, não de um julgamento imparcial.

      A Venezuela denunciou a fraude em 1962. Quatro anos mais tarde, foi firmado o Acordo de Genebra, no qual Reino Unido, Guiana e Venezuela reconheceram a pendência do litígio e se comprometeram com uma solução pacífica.

      Interesses petrolíferos e o papel da ExxonMobil

      Desde 2015, a ExxonMobil explora petróleo em Essequibo, apesar da pendência jurídica internacional. A companhia opera o campo marítimo de Stabroek, com reservas estimadas em 15 bilhões de barris e produção diária de 1,2 milhão de barris. Dois outros campos, Yellowtail e Uaru, devem somar mais 500 mil barris por dia. Para Altman, “o governo Trump está defendendo são os gigantescos lucros de uma corporação norte-americana”, e não a soberania da Guiana.

      “A Guiana não tem direito pleno sobre esse território, que está em litígio. Ela não pode explorar essas riquezas sem consultar a Venezuela e dividir os recursos”, afirma o jornalista. Segundo ele, a descoberta das reservas foi o gatilho para o endurecimento das sanções norte-americanas contra a Venezuela desde 2014.

      Maduro e a proposta de negociação

      Em entrevista a Breno Altman, publicada em janeiro por Ópera Mundi, Maduro defendeu a resolução pacífica do conflito. “A solução que ele imagina para Essequibo é por uma via negociada, por uma via pacífica”, disse Altman.

      Contudo, o governo Trump tem optado por uma política belicista. “Trump não tenta mais impor presidentes autoproclamados, como Juan Guaidó. Ele ameaça diretamente com força militar para atender interesses econômicos”, pontua o analista, referindo-se à mudança de estratégia em relação ao governo anterior de Joe Biden.

      Silêncio do Brasil e os riscos da omissão

      Altman criticou o governo Lula por não se posicionar diante da gravidade da situação. “O governo brasileiro tem preferido o silêncio diante do maior perigo de intervenção estrangeira na América do Sul desde a guerra das Malvinas em 1982”, afirmou. Ele classificou como “quietismo” a postura do Itamaraty e alertou: “Uma posição fraca ou omissa tende a enfraquecer o papel brasileiro no subcontinente e tornar o país mais vulnerável à ação norte-americana”.

      Para ele, a Venezuela se tornou uma “moeda de troca” nas relações do Brasil com Estados Unidos e União Europeia. Pesquisas que indicam perda de popularidade de Lula ao defender o país vizinho, a presença de partidos de direita na base governista e a influência de uma corrente liberal na esquerda também ajudariam a explicar o distanciamento diplomático.

      Doutrina Monroe e hegemonia

      Altman conclui que a postura agressiva da Casa Branca integra uma estratégia mais ampla de restauração da hegemonia dos EUA no continente americano, reeditando a Doutrina Monroe de 1823, cujo lema era “América para os americanos”. A doutrina, segundo ele, sempre teve como objetivo subordinar as nações latino-americanas à influência de Washington.

      “A Venezuela é o alvo prioritário, mas o verdadeiro objetivo é subjugar todo o continente, incluindo o Brasil”, alertou. “Se os EUA ameaçam e o Brasil abaixa a cabeça, quais serão as consequências para a geopolítica regional?”, questiona. Assista: 

       

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