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"O Império americano acabou": relembre uma entrevista histórica de Noam Chomsky

Segundo o pensador, o neoliberalismo acelerou o declínio imperial

Noam Chomsky (Foto: Reprodução/BBC)

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247 – Em uma entrevista realizada em 23 de maio de 2023, Noam Chomsky, uma das figuras mais influentes da intelectualidade contemporânea, declarou que o império americano está em colapso. A conversa, conduzida por Matt Kennard, chefe de investigações do Declassified UK, foi parte de uma reflexão profunda sobre o poder dos Estados Unidos e seu impacto global. Chomsky, conhecido por suas análises incisivas e críticas à política externa norte-americana, explorou questões centrais sobre a hegemonia dos EUA em conflitos e intervenções ao longo de décadas.

Durante a entrevista, que buscava também contribuições de Chomsky para o prefácio do livro de Kennard, "The Racket: A Rogue Reporter vs the American Empire", o pensador refletiu sobre a decadência do que descreve como o "Império Americano". Para ele, a influência global dos EUA está em declínio, embora seu impacto continue sendo devastador em várias partes do mundo. Chomsky destacou como a estratégia imperialista americana, construída após a Segunda Guerra Mundial, vem enfrentando resistência crescente e, em muitos casos, fracassando em manter seu domínio.

O Papel dos EUA no Haiti: Um Exemplo de Repressão Imperial

Chomsky relembrou a longa história de interferência dos EUA no Haiti, que remonta à independência do país em 1804. Ele descreveu como o Haiti, após se tornar a primeira nação de escravos a conquistar sua liberdade, foi isolado pelas potências ocidentais, incluindo os EUA. Esse isolamento perdurou por décadas, com Washington impondo políticas que dificultaram o desenvolvimento da nação. Chomsky enfatizou que, ao longo dos séculos, o Haiti foi sistematicamente enfraquecido por intervenções militares e econômicas que consolidaram a posição de poder dos EUA na região.

A intervenção mais recente, de acordo com Chomsky, aconteceu durante a administração de Bill Clinton, que apoiou a restauração do presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide após um golpe militar, mas sob a condição de aceitar políticas econômicas que devastaram a agricultura local. Ele descreveu como essas intervenções foram desenhadas para preservar os interesses econômicos americanos, às custas do desenvolvimento haitiano.

O Apoio dos EUA à Repressão Global

A entrevista também revisitou o papel dos EUA em outras regiões de conflito, como a Turquia e a Palestina. Chomsky destacou o apoio incondicional dos EUA à Turquia durante a repressão aos curdos nos anos 1990, quando o governo turco recebeu ajuda militar americana para conduzir operações que resultaram na morte de milhares de curdos e na destruição de vilarejos inteiros. Para Chomsky, o apoio americano foi fundamental para perpetuar essas atrocidades, que eram amplamente ignoradas pela grande mídia.

Em relação à Palestina, Chomsky foi igualmente contundente ao denunciar o suporte que os EUA oferecem a Israel, permitindo que o país continue sua ocupação militar dos territórios palestinos. Ele argumentou que, sem o apoio econômico e militar dos EUA, Israel não teria como sustentar suas políticas de expansão territorial e repressão.

O Neoliberalismo e o Colapso do Império

Chomsky também apontou o advento do neoliberalismo como um fator crucial na erosão da influência dos EUA. Segundo ele, as políticas neoliberais implementadas nas últimas décadas, tanto internamente quanto em suas intervenções internacionais, agravaram as desigualdades sociais e minaram as bases do sistema imperialista. Ele vê essas políticas como uma forma de "guerra de classes" que beneficia uma elite financeira, ao mesmo tempo em que destrói a infraestrutura social e econômica dos países mais pobres.

O professor destacou, ainda, como a retórica de "livre comércio" usada pelos EUA é contraditória com suas práticas reais, que envolvem protecionismo em setores estratégicos e a imposição de acordos comerciais que favorecem as corporações americanas. Chomsky argumenta que a narrativa do "livre comércio" é, na verdade, uma ferramenta de dominação econômica, disfarçada de benevolência.

O Fim da Hegemonia Americana

A visão de Chomsky sobre o "fim" do império americano não se refere apenas a uma queda repentina ou catastrófica. Ele enxerga o colapso como um processo gradual, no qual os EUA perderam a capacidade de controlar o mundo da maneira que o fizeram no século XX. Esse declínio, segundo Chomsky, é evidente no crescente ceticismo global em relação à influência americana e na emergência de outras potências que desafiam a hegemonia dos EUA, como a China.

Apesar disso, Chomsky adverte que o fim do império não significa necessariamente o fim de sua violência e repressão. Ele observa que os EUA continuam a exercer uma influência significativa por meio de sanções, intervenções militares e apoio a regimes autoritários, mantendo uma posição de força, mesmo que sua hegemonia esteja em declínio.

Reflexões Finais

A entrevista de Chomsky com Kennard serviu como um lembrete poderoso das complexidades do poder americano e de sua decadência. Para Chomsky, o império pode estar em colapso, mas suas consequências continuam a ser sentidas em todo o mundo. Enquanto novas forças emergem no cenário global, ele alerta que a história de intervenção e repressão dos EUA ainda não chegou ao fim.

A entrevista completa, disponível no canal de Matt Kennard no YouTube, oferece uma visão abrangente e crítica sobre as dinâmicas globais de poder e a contínua relevância do pensamento de Noam Chomsky para entender o papel dos Estados Unidos no cenário mundial contemporâneo. Assista:

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