Por que Trump voltou ao poder? Richard Wolff explica
A reeleição de Trump expõe a persistente negação dos EUA diante de crises econômicas e sociais enquanto o sistema político ignora questões estruturais
247 – Em uma análise profunda das recentes eleições presidenciais nos Estados Unidos, o economista Richard Wolff, em apresentação para a Democracy at Work e a Left Forum, destacou os fatores econômicos, sociais e políticos que culminaram na vitória de Donald Trump. Em sua palestra intitulada "Global Capitalism: The U.S. Election and Trump 2.0 in Historical Perspective", Wolff expôs a continuidade de práticas que ignoram os desafios estruturais do país. Segundo ele, “os dois partidos principais são cúmplices em preservar o sistema capitalista e em evitar debates fundamentais sobre desigualdade e instabilidade”
Wolff iniciou sua análise criticando a estrutura política dos EUA, que restringe a competição eleitoral a dois grandes partidos — Republicano e Democrata. “Embora o país celebre a liberdade de escolha, na prática essa escolha é severamente limitada nas eleições. Ambas as partes trabalham para preservar o status quo econômico, sem criticar o sistema capitalista ou o duopólio partidário”, afirmou.
Essa limitação reflete-se na campanha de Trump, que, mesmo se apresentando como um outsider, manteve-se dentro dos moldes tradicionais ao evitar questionamentos ao capitalismo e culpar os democratas pelos problemas econômicos, como inflação e alta nos custos de moradia. “A estratégia republicana sempre foi culpar o partido oposto. Tudo de ruim que acontece é ‘culpa dos democratas’ — uma tática que Trump usou de forma agressiva”, disse Wolff.
As bases da vitória de Trump
A reeleição de Trump foi sustentada por grupos tradicionais, como cristãos evangélicos, moradores de áreas rurais, entusiastas das armas e comunidades militares, mas também por novas bases de apoio. Wolff apontou que a imagem de Trump como um político “fora do sistema” atraiu trabalhadores insatisfeitos com décadas de estagnação salarial e precarização do trabalho.
“Trump prometeu ser o protetor do povo comum, aquele que enfrentaria os problemas que afetam a classe trabalhadora. Mas, na prática, ele não ofereceu soluções reais, apenas discursos vazios e promessas impossíveis”, analisou o economista. Um exemplo disso foi sua defesa de tarifas de importação, que, segundo Wolff, são contraditórias e inflacionárias, impactando negativamente os próprios consumidores.
Negação como estratégia
Wolff destacou que, tanto Trump quanto sua adversária, Kamala Harris, evitaram abordar os problemas mais profundos da sociedade americana. Ele classificou essa atitude como um exemplo de “negação coletiva”. “A extrema desigualdade de renda, a instabilidade econômica e o declínio do império americano são questões ignoradas por ambos os partidos. O sistema político simplesmente nega essas realidades, preferindo distrações e culpando terceiros”, afirmou.
O economista também criticou a falta de debate sobre as derrotas militares recentes dos EUA e o impacto do declínio imperial no cenário global. Segundo ele, essa negação impede que o país enfrente de forma séria os desafios econômicos e sociais que prejudicam a maioria da população.
Um futuro de incertezas
A análise de Wolff termina com uma reflexão sombria: “A eleição de Trump não resolve os problemas fundamentais dos Estados Unidos. As promessas feitas durante a campanha, como a construção de muros e a deportação em massa de imigrantes, são economicamente incoerentes e socialmente divisivas. O verdadeiro problema é o capitalismo, que nenhum dos dois partidos ousa questionar.”
Com um sistema político incapaz de enfrentar as crises estruturais, a perspectiva para os próximos anos é de mais polarização, desigualdade e instabilidade. Para Wolff, o futuro depende de uma mudança radical na abordagem política e econômica dos EUA — algo que, por enquanto, parece estar fora de alcance. Assista:
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