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Professor John Mearsheimer aponta o fim do império americano e a consolidação do mundo multipolar

Para o renomado acadêmico, a política externa dos EUA fracassou e o mundo caminha para a multipolaridade

Queda do Império americano (Foto: Dall-E)

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247 – O professor John Mearsheimer, renomado teórico das relações internacionais, trouxe uma avaliação contundente sobre o futuro dos Estados Unidos em um contexto de multipolaridade emergente. Durante uma palestra divulgada no canal The Strategist no YouTube, Mearsheimer argumentou que a política externa americana, desde o fim da Guerra Fria, tem sido marcada por uma sucessão de fracassos, resultado de uma aposta equivocada na hegemonia liberal.

No início da palestra, Mearsheimer questiona por que, apesar do otimismo prevalente na década de 1990, a política externa dos EUA resultou em "um desastre após o outro", com erros estratégicos em regiões-chave do mundo, como o Oriente Médio, Europa Oriental e China. "A política externa liberal é uma receita para o desastre", afirmou Mearsheimer, enfatizando que o fracasso não está no liberalismo como sistema político interno, mas na tentativa de exportá-lo globalmente.

A crítica à hegemonia liberal

O acadêmico explica que, após a Guerra Fria, os EUA adotaram uma política de "hegemonia liberal", cujo objetivo central era transformar o mundo à imagem dos Estados Unidos: uma coleção de democracias liberais interligadas por instituições e economia de mercado. Para Mearsheimer, essa estratégia encontrou obstáculos intransponíveis no nacionalismo e no realismo, duas das forças mais poderosas no cenário político global. "O nacionalismo e o realismo superaram a hegemonia liberal a cada passo", apontou.

Ele também ressaltou a diferença fundamental entre o liberalismo como filosofia interna e como política externa. Enquanto o liberalismo dentro dos Estados Unidos, por exemplo, é centrado no indivíduo e seus direitos inalienáveis, a exportação dessa visão para outras nações ignora as profundas raízes de soberania e identidade nacional que cada país carrega. "Os seres humanos são naturalmente animais sociais, nascidos em grupos", afirmou, destacando que o nacionalismo, centrado no pertencimento a uma nação, é uma força muito mais potente do que a ideologia individualista do liberalismo.

Os grandes fracassos da política externa americana

Ao avaliar os principais fracassos da política externa americana, Mearsheimer apontou três momentos-chave: a Doutrina Bush no Oriente Médio, a expansão da OTAN e da União Europeia para o Leste Europeu, e a política de engajamento com a China. Segundo ele, a Doutrina Bush, que visava democratizar o Oriente Médio, resultou em caos e violência, enquanto a tentativa de expandir a influência ocidental nas fronteiras da Rússia provocou a atual crise na Ucrânia. "A ideia de que poderíamos expandir a OTAN até as fronteiras da Rússia sem repercussões é notavelmente ingênua", criticou.

Sobre a China, Mearsheimer argumenta que os EUA ajudaram a criar um "Godzilla" econômico ao integrar o país à economia global, acreditando que isso o transformaria em uma democracia liberal. No entanto, o resultado foi o oposto: "A China está se afastando do modelo liberal, e o que criamos foi uma superpotência rival", observou.

Um futuro multipolar

Mearsheimer conclui sua análise prevendo que a era da hegemonia unipolar dos Estados Unidos está chegando ao fim, e que o país deve se preparar para um mundo multipolar, onde o poder estará dividido entre várias grandes potências, principalmente China e Rússia. Para ele, a eleição de Donald Trump em 2016 foi um reflexo da insatisfação do público americano com os fracassos da política externa e marca um ponto de virada. "Trump foi eleito porque o povo americano entendeu que nossa política externa foi um fracasso", afirmou.

O professor ressalta que, com a ascensão de novas potências, a política de hegemonia liberal se torna insustentável. "Estamos profundamente preocupados com o equilíbrio de poder, especialmente em relação à China e à Rússia", enfatizou. Segundo Mearsheimer, esse novo cenário internacional exigirá dos Estados Unidos uma adaptação às realidades do poder global, abandonando a agenda de engenharia social em prol de uma abordagem mais pragmática e realista.

A análise de John Mearsheimer destaca o fim de uma era na política externa dos Estados Unidos e antecipa um futuro onde o país terá que se ajustar a uma ordem mundial em transformação, marcada pela competição entre várias grandes potências. Ao afirmar que o nacionalismo e o realismo são forças indomáveis, ele propõe uma revisão crítica das ambições liberais globais de Washington. Como ele mesmo concluiu: "A era da hegemonia liberal dos EUA acabou. O mundo agora é multipolar". Assista:

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