Esquerda é maioria no Bluesky, enquanto no X, do nazista Elon Musk, o ódio prevalece
Comprado por Musk, o X, antigo Twitter, teve um aumento considerável no volume de postagens racistas, homofóbicas e transfóbicas
247 - Um estudo inédito sobre o perfil ideológico dos usuários do Bluesky, rede social que mais atrai usuários insatisfeitos com o X (antigo Twitter), confirmou a predominância da esquerda na plataforma. A pesquisa, conduzida pelos cientistas da Suíça Dorian Quelle e Alexandre Bovet, revela que 75% dos usuários do Bluesky se identificam com a esquerda, e que 63% dos links compartilhados provêm de veículos considerados de esquerda ou centro-esquerda. O estudo foi publicado pela revista acadêmica PLoS One na quarta-feira (26), informa o jornal O Globo.
A pesquisa utilizou um sistema de classificação do Media Bias/Fact Check, que avalia a inclinação política de diferentes veículos de comunicação. Os resultados mostram que apenas 8% dos links compartilhados no Bluesky são oriundos de mídias classificadas como de direita ou centro-direita, enquanto 20% pertencem a fontes consideradas neutras.
Polarização e debate sobre Israel e Palestina - Apesar da homogeneidade ideológica, a plataforma também abriga debates intensos e antagonismos, especialmente em torno do genocídio do povo palestino na Faixa de Gaza. Esse tema tem sido o mais controverso no Bluesky, onde a discussão acalorada remete às dinâmicas do antigo Twitter, quando a plataforma era o epicentro dos debates políticos na internet.
O estudo chega pouco depois de outra pesquisa, também publicada na PLoS One, que analisou os impactos da aquisição do Twitter pelo nazista Elon Musk em outubro de 2022. Segundo esse levantamento, realizado por pesquisadores do Vale do Silício, o discurso de ódio no X cresceu 50% após o magnata assumir o controle da rede social.
A mudança ocorreu paralelamente à revogação de políticas de moderação de conteúdo e à implantação de uma política de liberdade de expressão sem restrições, o que permitiu a permanência de postagens que antes seriam removidas. Segundo o cientista da computação Daniel Hickey, da Universidade da Califórnia em Berkeley, o aumento da agressividade se reflete nos números: postagens racistas aumentaram 42% semanalmente, homofóbicas cresceram 33% e transfóbicas tiveram um aumento alarmante de 260%.
A influência de Musk e o impacto no Brasil - Elon Musk, que atualmente também faz parte do governo de Donald Trump, continua sendo o proprietário do X, mas nomeou Linda Yaccarino como CEO. Antes da publicação do estudo, a empresa sustentava que a aquisição havia reduzido os discursos de ódio, e não o contrário.
Nenhum dos estudos analisou especificamente a crise envolvendo Musk e o Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil. Em setembro do ano passado, a plataforma foi suspensa no país por descumprir decisões judiciais, o que resultou na migração de mais de 1 milhão de brasileiros para o Bluesky.
Apesar de o Bluesky ainda ter uma base de usuários modesta, com aproximadamente 30 milhões de membros em comparação aos mais de 500 milhões do X, a rivalidade entre as plataformas tem aprofundado a segregação ideológica. Se antes havia bolhas dentro de uma mesma rede social, agora elas se expandem para plataformas distintas, onde a direita e a esquerda parecem estar cada vez mais isoladas.
Origens e desafios do Bluesky - O Bluesky nasceu dentro do antigo Twitter, concebido pelo então CEO Jack Dorsey como um projeto de rede social descentralizada. Com um sistema que permite aos usuários criarem seus próprios algoritmos de recomendação de conteúdo, a plataforma se tornou um refúgio para aqueles que rejeitam as diretrizes de Musk no X.
Porém, há dúvidas sobre o real poder de influência do X. A base de usuários pode não ser o melhor indicador, já que muitas pessoas deixam de acessar a plataforma sem necessariamente deletar suas contas. Além disso, os pesquisadores têm enfrentado dificuldades para estudar a nova dinâmica da rede de Musk, pois a empresa restringiu o acesso à API que permitia a análise automatizada de postagens.
Dificuldades para a pesquisa independente - Antes da aquisição por Musk, o Twitter era descrito como um espaço ideologicamente diverso, abrigando desde a extrema esquerda à extrema direita. Agora, Alexandre Bovet tenta avaliar o quanto isso mudou, mas esbarra na falta de acesso aos dados da plataforma.
"Infelizmente, o acesso de cientistas à API foi revogado pouco depois de Musk se tornar CEO. Para conduzir pesquisa no X, nós teríamos que pagar o preço de acesso completo, cerca de US$ 40 mil (R$ 236 mil) por mês, algo fora da realidade do orçamento da maioria dos pesquisadores. Isso significa que, no momento, não seria possível replicar nosso estudo sobre o Bluesky também no X, e praticamente não existem meios de conduzir uma pesquisa independente sobre a plataforma", disse Bovet.
O estudo de Hickey sobre o discurso de ódio só foi possível porque ele aproveitou os últimos meses em que a API do X ainda estava aberta. A pesquisa também revelou que o volume de postagens geradas por robôs não diminuiu, ao contrário do que Musk havia alegado.
“O aumento em longo prazo do discurso de ódio e a prevalência de contas potencialmente inautênticas são preocupantes, pois esses fatores podem prejudicar ambientes online seguros e democráticos e aumentar o risco de danos offline”, concluiu Hickey.
Enquanto o Bluesky ainda precisa enfrentar desafios de crescimento e moderação, incluindo a circulação de conteúdo inapropriado, o X segue sob críticas por sua gestão do discurso de ódio. O embate entre as plataformas não apenas redesenha o futuro das redes sociais, mas também influencia diretamente a formação das opiniões políticas na internet.
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