Gleisi critica artigo de Bolsonaro na Folha: "repugnante essa tentativa de normalizar um extremista"
‘Ler que Bolsonaro defende a democracia é parecido com ler artigo de um assassino defendendo a vida’, compara a presidente do PT
247 - A presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), reagiu fortemente à publicação de um artigo de Jair Bolsonaro (PL) na Folha de S. Paulo nesta segunda-feira (11). Em declaração contundente, Gleisi afirmou: “ler na Folha que Jair Bolsonaro defende a democracia é parecido com ler artigo de um assassino defendendo o direito à vida”. Ela criticou a postura editorial do jornal em abrir espaço para um político que, segundo ela, liderou uma tentativa de golpe armado contra o presidente Lula (PT) e as instituições brasileiras. “É repugnante essa tentativa de normalizar um extremista”, acrescentou, reforçando que Bolsonaro personifica uma extrema direita que “prega o ódio e pratica a violência contra qualquer opositor”.
O artigo, intitulado “Aceitem a democracia”, trouxe uma narrativa de Bolsonaro em defesa dos valores conservadores. Ele argumenta que as recentes eleições em países como os Estados Unidos e a Argentina, onde candidatos de direita tiveram vitórias expressivas, refletem uma “onda conservadora” internacional. Bolsonaro escreve que esses movimentos são impulsionados pelo desejo popular de “ordem, progresso, liberdade econômica e de expressão, respeito às famílias e à religião” — em uma clara tentativa de apresentar a direita como defensora dos interesses populares e como oposição a uma suposta ameaça autoritária da esquerda.
Para muitos críticos, o artigo é uma estratégia calculada de Bolsonaro para se reposicionar como defensor da democracia, mesmo com as acusações que pesam contra ele. Bolsonaro está próximo de ser formalmente acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como líder da ofensiva antidemocrática que culminou com a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. O episódio, marcado pela invasão do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, foi um dos momentos mais graves da história recente do Brasil e envolveu planos para sequestrar figuras centrais do governo e do Judiciário, incluindo o presidente Lula (PT) e o ministro Alexandre de Moraes.
No artigo, Bolsonaro inverteu as críticas de que a direita é “inimiga da democracia”, afirmando que é a esquerda que se recusa a aceitar os resultados eleitorais que lhe são desfavoráveis. Ele cita, entre outros exemplos, a situação na Venezuela e o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Afirmando que a esquerda “demoniza” qualquer visão contrária, Bolsonaro insiste que a direita está resistindo a um “aparelhamento midiático” que tenta silenciar a vontade popular e que a liberdade de expressão deve prevalecer.
A decisão da Folha de S.Paulo de publicar o artigo de Bolsonaro gerou reações imediatas e enérgicas, principalmente nas redes sociais. Críticos apontam que permitir que Bolsonaro utilize um espaço de expressão em um dos maiores jornais do país é, de certa forma, “normalizar” um discurso que muitos consideram uma ameaça à democracia. A escolha editorial foi interpretada como uma movimentação perigosa que pode abrir precedentes para a legitimação de lideranças autoritárias e antidemocráticas.
Nas palavras de Gleisi Hoffmann, que simbolizam o tom da crítica, a publicação de Bolsonaro em defesa da democracia “é um atentado à memória do país” e representa uma tentativa de apagar da história recente os fatos associados a ele.
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