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      Ações globais registram baixa e dólar cai em meio à incertezas do tarifaço

      Mercado reage com alívio à isenção parcial de tarifas, mas incertezas sobre nova escalada comercial mantêm investidores cautelosos

      Bolsa de Valores de Nova York (Foto: Reuters)
      Luis Mauro Filho avatar
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      BOSTON/LONDRES, 14 de abril (Reuters) - As ações dos Estados Unidos registraram leve alta nesta segunda-feira (14), enquanto o dólar e os preços do petróleo recuaram, após a Casa Branca isentar smartphones e computadores da guerra tarifária. 

      O índice Dow Jones subiu cerca de 0,4%, o S&P 500 avançou 0,3% e o Nasdaq Composite ganhou 0,5%, impulsionado por ações de tecnologia, especialmente da Apple, cujos papéis valorizaram cerca de 2,3%. Na semana anterior, o S&P 500 havia subido 5,7%, mas ainda permanecia mais de 5% abaixo do nível registrado antes de Trump anunciar, no início de abril, o que chamou de tarifas “recíprocas”.

      Segundo o boletim informativo Reuters Tariff Watch, que reúne diariamente as últimas notícias sobre comércio global e tarifas, a isenção de 20 categorias de produtos — equivalentes a 23% das importações americanas provenientes da China — foi inicialmente recebida como um alívio para os fabricantes. No entanto, o impacto positivo foi limitado nos títulos do governo americano, que ainda buscavam se recuperar das perdas recentes. O dólar também apresentou pouca variação, refletindo o ambiente de instabilidade na política comercial, que gerou incertezas entre investidores e pessimismo entre analistas quanto ao médio e longo prazo.

      A pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas e novas concessões obtidas no fim de semana “reduzem a probabilidade de uma recessão a curto prazo”, escreveram estrategistas do Morgan Stanley em nota nesta segunda-feira. Ainda assim, alertaram que “a guinada política deve continuar agravando a incerteza para empresas e consumidores”.

      “O mercado de ações provavelmente permanecerá em uma ampla faixa de negociação, com alta volatilidade, até que tenhamos mais clareza sobre a profundidade da desaceleração do crescimento e o momento da recuperação”, afirmaram.

      Esse sentimento de otimismo moderado também foi observado nos mercados europeus e asiáticos, que se beneficiaram por não terem acompanhado o final da recuperação registrada em Wall Street na sexta-feira.

      O índice europeu STOXX 600 subiu cerca de 2,7%, após perder 2% na semana anterior. Já o índice MSCI da Ásia-Pacífico (excluindo o Japão) avançou 1,6%, depois de uma queda superior a 4% na semana passada. As ações de empresas de tecnologia e de grandes fornecedores da Apple lideraram os ganhos, tanto na Ásia quanto na Europa.

      Nesta semana, o mercado estará atento aos balanços corporativos. O Goldman Sachs divulgou na segunda-feira um aumento de 15% no lucro do primeiro trimestre, impulsionado por investidores que se beneficiaram da volatilidade dos mercados — o que fez suas ações subirem cerca de 2%. O Bank of America e o Citigroup também devem divulgar seus resultados ainda nesta semana.

      Outro destaque será o balanço da fabricante de chips TSMC, considerado relevante diante da intenção do governo Trump de investigar toda a cadeia global de fornecimento de semicondutores.

      Dados econômicos recentes indicaram um crescimento de 12,4% nas exportações chinesas em março, resultado da antecipação de pedidos por parte das empresas, temendo a imposição das tarifas americanas.

      Na agenda da semana, estão previstas a divulgação das vendas no varejo dos EUA e o PIB da China. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, fará um discurso sobre as perspectivas econômicas na quarta-feira, ocasião em que deve ser questionado sobre a possibilidade de cortes nas taxas de juros e o recente estresse no mercado de títulos do Tesouro.

      Não tão seguro

      Os títulos do Tesouro dos EUA tentavam se recuperar, com o rendimento do papel de 10 anos caindo cerca de sete pontos-base, para 4,421%. Entretanto, considerando que na semana anterior o rendimento havia subido 50 pontos-base — o maior salto semanal nos custos de empréstimos em décadas —, o entusiasmo dos investidores se mostrou contido.

      O aumento dos rendimentos coincidiu com a queda do dólar frente a moedas consideradas porto seguro, como o iene e o franco suíço, além do euro. A tendência de baixa continuou nesta segunda-feira, com o índice do dólar recuando 0,2%.

      Segundo analistas, os recuos recentes podem estar relacionados à retirada de capital estrangeiro dos ativos americanos, em um movimento de retorno aos países de origem, embora existam também preocupações mais amplas.

      “Qualquer ambiente sustentado de dólar americano mais fraco, com preços de ações e títulos em queda, sugere uma saída de capital de ativos dos EUA”, escreveram estrategistas do Wells Fargo Investment Institute. “Acreditamos que isso reflete o fim do excepcionalismo do crescimento econômico americano e a perda de atratividade marginal dos ativos em dólar como reservas, em um cenário de decisões erráticas por parte do governo dos EUA.”

      Autoridades japonesas se preparam para negociações comerciais com os EUA, que devem incluir discussões sobre política monetária. Há expectativa de que Washington solicite apoio ao iene — algo que pode acontecer de forma indireta, já que o dólar tem sofrido com as incertezas geradas pela condução da política comercial do presidente Trump.

      Na segunda-feira, o dólar caiu novamente em relação ao iene, recuando 0,3%, para 143,08, após ter atingido a mínima de seis meses (142,05) na semana anterior. O euro manteve-se praticamente estável, cotado a US$ 1,135, ainda próximo da máxima de três anos, de US$ 1,1474, registrada na semana passada. O Banco Central Europeu se reúne na quinta-feira, e o mercado já projeta um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, que deve cair para 2,25%.

      Nos mercados de commodities, o ouro à vista caiu cerca de 1% nesta segunda-feira, para US$ 3.206 por onça. Apesar disso, a incerteza global tem favorecido o metal, que chegou a atingir um pico histórico de US$ 3.245.

      Já os preços do petróleo apresentaram instabilidade, refletindo a incerteza quanto às tarifas dos EUA, os dados de recuperação das importações chinesas de petróleo bruto em março e os temores de que a guerra comercial entre Estados Unidos e China possa comprometer o crescimento global e afetar negativamente a demanda por combustíveis.

      O petróleo WTI caiu 0,85%, para US$ 60,98 o barril, enquanto o Brent recuou 0,62%, sendo negociado a US$ 64,36 o barril.

      Reportagem de Lawrence Delevingne (Boston), Alun John (Londres) e Wayne Cole (Sydney); edição de Toby Chopra, Will Dunham, Sharon Singleton e Susan Fenton

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