Brasil busca apoio do Sul Global para blindar a COP30 de Donald Trump
Com ajuda de opositores de Trump dentro dos EUA, Brasil quer formar uma coalizão para pressionar por um texto final com compromissos climáticos claros
247 - A perspectiva de que Donald Trump atue para esvaziar a Cúpula do Clima (COP30) levou o governo Lula (PT) a reformular sua estratégia para o evento. O Palácio do Planalto busca intensificar parcerias com o chamado 'Sul Global', a fim de compensar uma possível resistência dos Estados Unidos a novos compromissos ambientais, segundo o jornal O Globo.
A estratégia do governo brasileiro é montar uma coalizão de países emergentes capaz de pressionar por metas concretas, como o pagamento efetivo de ajuda climática a nações em desenvolvimento e a aceleração na redução de emissões de carbono. Com esse movimento, o Brasil também busca evitar que outros países sigam o exemplo de Trump e enfraqueçam acordos ambientais.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, alerta que a postura dos EUA pode fomentar divisões internas sobre a realidade da mudança climática, mas também vê oportunidades. "O Sul Global poderá ganhar mais voz e, com isso, dar forma a uma resposta à crise climática que atenda às nossas prioridades e necessidades, que seja feita de modo sinérgico com o desenvolvimento econômico e a redução das desigualdades sociais", declarou.
EUA sob Trump e o impacto na COP30 - A diplomacia brasileira não trabalha com o cenário de uma ausência total dos Estados Unidos na COP30, programada para novembro de 2025 em Belém, no Pará. O país segue como signatário da Convenção do Clima da ONU, e a saída formal do Acordo de Paris, defendida por Trump, não ocorre de imediato. Ainda assim, a expectativa no Itamaraty é que os EUA enviem apenas representantes de escalão inferior, o que poderia comprometer o andamento das negociações e enfraquecer um possível acordo ambicioso.
Segundo diplomatas, a primeira amostra da postura americana será vista na reunião ministerial do G20, que ocorre em breve. O grau de envolvimento dos EUA indicará se o governo Trump pretende boicotar foros multilaterais ou manter algum nível de participação.
Brasil aposta no pragmatismo e amplia frentes de negociação - Para minimizar a resistência dos EUA, o governo Lula adotou uma estratégia de três frentes: consolidar alianças com o Sul Global, dialogar com o setor produtivo americano e fortalecer laços com governadores dos EUA comprometidos com a agenda climática.
A China desponta como principal parceira do Brasil nessa empreitada, não apenas por seu enfrentamento geopolítico com os EUA, mas também por seu investimento em economia verde. O país é líder na produção de veículos elétricos e energia solar, o que fortalece seu interesse em compromissos climáticos globais. Já a Índia, apesar de desafios internos, é considerada um parceiro essencial para viabilizar essa coalizão.
A construção de um bloco robusto de aliados também visa evitar que outros países sigam os passos de Trump e endureçam o discurso contra compromissos ambientais. A Argentina de Javier Milei é um ponto de atenção. O presidente argentino retirou a delegação do país da COP29 e dificultou acordos na Cúpula do G20.
Cúpula do BRICS e agenda global para a COP30 - A Cúpula do BRICS, marcada para julho no Rio de Janeiro, ganhou ainda mais importância dentro da estratégia brasileira. Um dos principais temas do encontro será a crise climática, sugerido pelo Brasil. O governo Lula pretende sair da reunião com um compromisso firme do BRICS em relação à COP30.
O climatologista Carlos Nobre reforça que a COP de Belém será um marco histórico. "Já está claro que a COP de Belém será a mais importante das 30 COPs. Ninguém previa que a elevação da temperatura global ocorreria na velocidade que estamos vendo. Será preciso algo muito ambicioso. Com a eleição de um presidente negacionista nos EUA, os países terão de se comprometer ainda mais para compensar. A China, por exemplo, vai ter de assumir esse espaço", avalia.
O governo brasileiro também pretende usar outras plataformas internacionais para impulsionar sua agenda climática. Em junho, Lula participará da Conferência da ONU sobre o Oceano, na França, e terá uma reunião bilateral com Emmanuel Macron, colocando o clima no centro das discussões. No Brasil, abrirá a Cúpula Brasil-Caribe, buscando apoio das nações insulares ameaçadas pela elevação do nível do mar.
Em setembro, Lula planeja focar seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nos desafios climáticos. A estratégia é chegar a Nova York com pontos avançados de negociação para reforçar a pressão global antes da COP30.
Com essa movimentação diplomática e um pragmatismo inédito, o governo brasileiro busca transformar o evento em Belém em um marco global para o combate à mudança climática, mesmo diante do desafio representado pelo possível retorno de Trump à Casa Branca.
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