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    Em discurso no Japão, Lula alerta para riscos à democracia no mundo com ascensão da extrema direita

    O presidente também defendeu o livre comércio, o multilateralismo e críticou o protecionismo e negacionismo climático

    Lula se reúne com sindicalistas no Japão (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
    José Reinaldo avatar
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    247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (26) que a democracia está em risco no mundo com a ascensão de forças de extrema direita. A declaração foi feita durante o discurso de encerramento do Fórum Empresarial Brasil-Japão, em Tóquio, diante de um público composto por empresários e autoridades políticas de ambos os países.

    Lula destacou que os movimentos de extrema direita que negam a ciência, as vacinas e as mudanças climáticas representam uma ameaça ao equilíbrio político e social global. "A democracia corre risco no planeta com eleição de extrema direita negacionista que não regula a vacina, não regula a instabilidade climática e não permite sequer considerar partidos políticos, sindicatos e outras coisas. E a negação da política não traz nenhum benefício para a humanidade. Inclusive, os negacionistas não querem sequer atender o cumprimento do Protocolo de Kyoto", afirmou o presidente brasileiro.

    O discurso ocorreu na presença de Shigeru Ishiba, primeiro-ministro do Japão, e de importantes representantes do setor empresarial e político brasileiro, incluindo o presidente do Congresso Nacional, o senador Davi Alcolumbre (União-AP), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Lula aprovou uma ocasião para enfatizar a importância do multilateralismo e da cooperação econômica entre Brasil e Japão. 

    "Quando fui candidato a presidente pela terceira vez, eu disse que era importante trazer ao Brasil a normalidade política e a civilidade democrática. Nessa ocasião eu disse que era preciso ter estabilidade política, estabilidade econômica, estabilidade jurídica e estabilidade social. E é isso que estamos conquistando", afirmou o petista.

    Críticas ao protecionismo e defesa do livre comércio

    Em uma crítica indireta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Lula condenou o protecionismo econômico, afirmando que o mundo não pode voltar à lógica da Guerra Fria. "Nós não queremos uma segunda Guerra Fria. O que nós queremos é comércio livre para que as pessoas possam definitivamente fazer com que nossos países se estabeleçam no movimento da democracia, no crescimento econômico e na distribuição de riqueza", declarou.

    O presidente ressaltou que o Brasil busca consolidar-se como um destino confiável para investimentos e defendeu a previsibilidade como um fator-chave para o investimento de capital estrangeiro. “Ninguém pode ser pego de surpresa com mudança de lei, com mudança de decreto, com mudança de portaria a todo santo dia. É preciso que a regra do jogo seja exigida da mesma forma que a regra do jogo de um campeonato de futebol”, disse Lula.

    Lula citou como exemplo a reforma tributária aprovada em seu governo, que simplificou o sistema de impostos e garantiu maior segurança jurídica aos investidores. Ele também destacou a importância de parcerias estratégicas entre empresas brasileiras e japonesas, mencionando o papel histórico do Japão na modernização do agronegócio brasileiro por meio do Programa de Desenvolvimento Agrícola do Cerrado (PRODECER).

    Mudanças climáticas e compromisso com o etanol

    Outro ponto central do discurso foi a questão climática. Lula elogiou a decisão do Japão de aumentar o percentual de bioetanol na gasolina, uma medida que, segundo ele, poderá trazer impacto positivo para o meio ambiente. “Quando o Japão fala que é possível fazer uma mistura de 10%, eu fico acreditando e torcendo para que isso aconteça porque será uma revolução na questão climática no nosso país”, disse o presidente.

    Lula ressaltou que o Brasil tem uma matriz energética baseada em fontes renováveis, com mais de 90% da geração elétrica proveniente de hidrelétricas, e reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento da Amazônia até 2030. "A descarbonização não é uma escolha, é uma necessidade e grande oportunidade. O envolvimento do setor privado é simplesmente fundamental", reforçou o petista.

    Fortalecimento das relações Brasil-Japão

    O presidente enfatizou o histórico de cooperação entre Brasil e Japão, destacando a presença de grandes empresas japonesas, como Toyota, Honda e Mitsubishi, no mercado brasileiro. Ele celebrou o acordo anunciado pela companhia aérea japonesa ANA para a compra de até 20 jatos da Embraer, classificando o negócio como uma demonstração da qualidade da indústria aeronáutica brasileira.

    "Eu posso dizer ao primeiro-ministro Ishiba que é de muita qualidade os aviões da Embraer. Quem compra 20 pode comprar um pouco mais e quem sabe todas as empresas japonesas podem voar de avião da Embraer", afirmou Lula, arrancando risos da plateia.

    Lula também anunciou que Brasil e Japão negociarão 10 acordos de cooperação e quase 80 instrumentos entre empresas, bancos, universidades e outras instituições. Segundo o presidente, o comércio bilateral entre os dois países caiu de US$ 17 bilhões em 2011 para US$ 11 bilhões em 2024, o que, em sua visão, é um sinal de que é preciso revitalizar a parceria comercial.

    "Este Fórum Empresarial é uma oportunidade para reverter esse declínio. Em um mundo cada vez mais complexo, é fundamental que parceiros históricos se unam para enfrentar as incertezas e instabilidades da economia global. Estou seguro de que precisamos avançar com a assinatura de um acordo de parceria econômica entre Japão e Mercosul", afirmou.

    Democracia e cooperação internacional

    Lula encerrou seu discurso com um apelo pela defesa da democracia e da cooperação internacional. "É muito importante a relação entre os países. É muito importante a relação política. É muito importante a relação entre as universidades. É muito importante a troca de experiências científicas e tecnológicas. É muito importante a relação entre os sindicatos. É muito importante a relação entre os partidos políticos. E, sobretudo, é muito importante a relação entre os povos", descobriu.

    O presidente está confiante em que as relações bilaterais com o Japão entrarão em uma nova fase de prosperidade. Lula aproveitou para convidar o primeiro-ministro Ishiba para participar da COP30, que será realizada em novembro em Belém, no Pará. “Vamos realizar a COP mais importante de todas as COPs realizadas, com muita responsabilidade, com muita serenidade, com menos ufanismo e com mais debate sério sobre a questão do controle do esquentamento do planeta Terra”, finalizou Lula.

    Leia a íntegra do pronunciamento do presidente Lula

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