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    Entenda por que a nova doutrina nuclear da Rússia é tão importante

    Se a Ucrânia atacar a Rússia com armas de EUA, Reino Unido ou França, essas potências ocidentais serão coautoras do ataque

    Joe Biden e Vladimir Putin (Foto: Reuters | Reprodução)

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    247 – Na última quarta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou uma mudança significativa nas diretrizes nucleares de seu país, efetivamente reduzindo o limiar para o uso de armas nucleares. A declaração foi feita durante uma reunião televisionada do Conselho de Segurança da Rússia. De acordo com especialistas, a medida é vista como uma tentativa de intimidação direcionada aos Estados Unidos e seus aliados, no contexto do apoio militar que têm prestado à Ucrânia, particularmente no fornecimento de mísseis de longo alcance.

    Putin destacou que a nova postura nuclear da Rússia poderá considerar um ataque que represente uma "ameaça crítica" à soberania do país como justificativa para o uso de armas nucleares, especialmente se o ataque for conduzido com a participação ou apoio de uma potência nuclear. “Consideraremos essa possibilidade quando recebermos informações confiáveis sobre o lançamento em massa de ativos de ataque aéreo e espacial, e quando eles cruzarem nossa fronteira”, afirmou o presidente russo. Ele fez referência específica ao uso de aviões estratégicos e táticos, mísseis de cruzeiro e veículos hipersônicos, além de mencionar que ataques a Belarus, país aliado da Rússia, também poderiam disparar uma resposta nuclear.

    Essa nova posição, divulgada pela Al Jazeera, marca uma mudança significativa na doutrina nuclear de Moscou. Sob a doutrina anterior, revisada pela última vez em 2020, a Rússia estabelecia que o uso de armas nucleares seria uma resposta a ataques convencionais apenas se acreditasse que a "própria existência do Estado" estivesse em perigo. No entanto, a ambiguidade da nova política, conforme destacam analistas como Keir Giles, consultor sênior do think tank Chatham House, deixa claro que o uso de armas nucleares poderia ser considerado mesmo contra Estados não nucleares, como a Ucrânia, caso recebam apoio de potências nucleares.

    O que mudou na política nuclear da Rússia?

    A grande mudança está no que é considerado um "ataque conjunto". Putin indicou que, se a Ucrânia atacar a Rússia utilizando armamento fornecido por Estados Unidos, Reino Unido ou França, essas potências ocidentais poderão ser vistas como coautoras do ataque, aumentando as chances de Moscou retaliar diretamente esses países. Além disso, o fato de Putin ter mencionado que as novas regras também se aplicam a Belarus amplia as circunstâncias em que uma retaliação nuclear pode ocorrer.

    Risco de escalada nuclear?

    Especialistas, no entanto, afirmam que o risco imediato de uma escalada nuclear permanece baixo. "Nada mudou neste momento", afirmou Giles, lembrando que, apesar do endurecimento do discurso de Putin, os Estados Unidos e seus aliados ainda não autorizaram o uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia dentro do território russo. No entanto, o timing do anúncio de Putin não parece coincidência. Ele ocorre logo após uma incursão surpresa ucraniana na região russa de Kursk e em meio a crescentes pressões para que as forças ucranianas mantenham suas posições em território russo, como forma de barganha em futuras negociações.

    Enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, busca nos Estados Unidos o apoio para a utilização de mísseis de longo alcance, Putin parece empenhado em dissuadir qualquer ampliação do apoio militar ocidental à Ucrânia. "Sempre que a Rússia detecta um aumento no risco de apoio militar à Ucrânia que considera perigoso, as ameaças nucleares aumentam", comentou Giles, reforçando a ideia de que o objetivo de Moscou é manter o Ocidente em alerta.

    A nova postura da Rússia em relação ao uso de armas nucleares representa uma virada importante em sua política de dissuasão e amplia o espectro de possíveis alvos em caso de conflitos com países não nucleares, apoiados por potências nucleares.

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