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Entenda por que o Brasil se mantém 'aberto' à Nova Rota da Seda sem aderir formalmente a ela

Governo brasileiro se equilibra entre Washington e Pequim e busca direcionar benefícios da parceria com a China para áreas mais estratégicas

(Foto: Reuters)

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247 - Em visita oficial recente a Pequim, o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula (PT) para assuntos internacionais, anunciou que o Brasil não ingressará na Nova Rota da Seda, programa de infraestrutura global da China que já envolve mais de 140 países. Segundo reportagem de Cirilo Ip, do South China Morning Post, a decisão reflete uma posição estratégica do Brasil: enquanto evita uma adesão formal à iniciativa, o país busca fortalecer suas relações econômicas com a China, seu principal parceiro comercial, e explora formas alternativas de cooperação que atendam a seus próprios interesses.

A decisão foi resultado de um debate interno no governo brasileiro, onde vozes no Ministério da Economia e no Ministério das Relações Exteriores expressaram dúvidas sobre os ganhos imediatos da adesão à iniciativa chinesa. Ao mesmo tempo, setores como o da Agricultura defendem que a participação do Brasil poderia contrabalançar medidas protecionistas dos Estados Unidos e da União Europeia, em uma disputa antiga por mercados de produtos agrícolas como soja e milho. “Embora a China seja o maior parceiro comercial do Brasil, o padrão comercial ainda é muito desequilibrado, com o Brasil exportando commodities de baixo valor agregado”, pontua Marco Fernandes, analista geopolítico brasileiro em Pequim.

A decisão de se manter 'aberto', mas sem formalizar uma adesão completa, revela a abordagem pragmática do Brasil, que opta por priorizar setores estratégicos, como energia renovável, telecomunicações e inteligência artificial. O objetivo é claro: elevar o nível de inovação e valor agregado na relação com a China, um passo essencial para o crescimento sustentável da economia brasileira. Segundo Fernandes, “o Brasil busca uma ‘sinergia’ com a Nova Rota da Seda, de forma que os investimentos chineses possam ser direcionados para áreas de maior impacto estratégico”.

Especialistas afirmam que a postura do Brasil se assemelha à da Índia, outro membro do BRICS que, embora próximo da China, também evitou ingressar na Nova Rota da Seda. Zoon Ahmed Khan, pesquisadora da Universidade de Tsinghua, destaca que os ganhos da Nova Rota da Seda para o Brasil poderiam ser mais simbólicos do que práticos, considerando que os países já colaboram em fóruns como o BRICS e o G20. Segundo Khan, “a parceria econômica entre Brasil e China já se desenvolve bem por outras vias, e tende a se fortalecer com ou sem o BRI”.

Outro ponto que pesou na decisão foi a necessidade de equilibrar a relação com Washington e Pequim. A representante comercial dos EUA, Katherine Tai, incentivou o Brasil a analisar os riscos da iniciativa, enfatizando a importância de considerar o impacto sobre a resiliência econômica do país. Em resposta, a Embaixada da China em Brasília considerou as declarações de Tai “irresponsáveis” e reafirmou a soberania do Brasil em suas escolhas comerciais.

Para Josef Gregory Mahoney, professor de política internacional na East China Normal University, a posição do Brasil reflete o cenário midiático e político em que o país opera. Mahoney afirma que “as narrativas locais sobre a Nova Rota da Seda, que frequentemente apontam riscos como armadilhas de endividamento, pesam nas decisões políticas”. Em sua visão, a alternativa escolhida pelo Brasil é positiva para a estabilidade regional e para sua própria independência econômica.

Por fim, fontes indicam que o Brasil optou por não formalizar a adesão à iniciativa chinesa antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Com o cenário eleitoral ainda incerto, uma aproximação oficial com a China poderia afetar as relações com Washington, especialmente caso um governo mais protecionista assuma a Casa Branca. Com a decisão de se manter em uma posição independente, o Brasil dá um sinal de pragmatismo ao buscar expandir sua cooperação com a China em setores estratégicos, mas preservando sua autonomia nas relações internacionais.

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