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    EUA reduzem esforços contra suposta sabotagem russa enquanto Trump busca reaproximação com Putin

    Grupos de trabalho criados na gestão Biden para monitorar ataques híbridos russos foram suspensos, levantando temores entre aliados europeus

    Donald Trump e Vladimir Putin (Foto: REUTERS)
    Redação Brasil 247 avatar
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    Reuters – Várias agências de segurança dos Estados Unidos interromperam esforços coordenados para combater sabotagem, desinformação e ataques cibernéticos russos, facilitando a atuação de Moscou enquanto o governo de Donald Trump busca um acordo para encerrar a guerra na Ucrânia.

    A administração de Joe Biden havia estabelecido grupos de trabalho interagências para monitorar a crescente guerra híbrida promovida pela Rússia contra o Ocidente. O plano era liderado pelo Conselho de Segurança Nacional (NSC) e contava com a participação de pelo menos sete órgãos de segurança dos EUA, em colaboração com aliados europeus, para frustrar operações de sabotagem contra a Europa e os próprios Estados Unidos. No entanto, desde a posse de Trump em 20 de janeiro, grande parte desse trabalho foi paralisada, segundo onze atuais e ex-funcionários do governo.

    FIM DA COORDENAÇÃO ENTRE AGÊNCIAS

    A Reuters apurou que reuniões regulares entre o NSC e autoridades europeias de segurança foram descontinuadas, e a coordenação formal entre agências como o FBI, o Departamento de Segurança Interna e o Departamento de Estado cessou.

    Embora não esteja claro se a Casa Branca determinou oficialmente a suspensão total dos trabalhos ou se as agências ainda operam de forma independente, fontes do governo afirmam que há uma forte tendência de despriorização do tema. Em linha com essa mudança de postura, o FBI desmantelou recentemente uma equipe dedicada a combater interferência estrangeira nas eleições dos EUA, incluindo ações russas. Além disso, o Departamento de Justiça dissolveu um grupo que rastreava e confiscava ativos de oligarcas russos.

    A porta-voz da União Europeia para Assuntos Externos e Política de Segurança, Anitta Hipper, disse que não tinha informações específicas sobre a suspensão de reuniões de inteligência, mas afirmou que a UE segue coordenando ações com a OTAN para combater ameaças híbridas, como ataques a infraestrutura crítica e campanhas de desinformação.

    TRUMP E A NOVA POLÍTICA PARA A RÚSSIA

    A suspensão dos esforços contra a guerra híbrida russa ocorre no momento em que Donald Trump redefine a política externa dos EUA em relação à Europa e à Ucrânia. O ex-presidente tem defendido publicamente que a guerra na Ucrânia representa um risco de escalada para a Terceira Guerra Mundial e que um relacionamento mais próximo com a Rússia seria do interesse estratégico dos Estados Unidos.

    Na terça-feira (19), o Kremlin informou que Vladimir Putin aceitou uma proposta de Trump para que Rússia e Ucrânia suspendam ataques a infraestruturas energéticas por um período de 30 dias. A medida foi vista por analistas como um gesto inicial de Trump para tentar viabilizar um acordo mais amplo entre Kiev e Moscou, possivelmente nos termos desejados pelo Kremlin.

    A decisão de reduzir o foco nas operações russas também gerou preocupações entre aliados europeus e membros da própria inteligência americana. "Estamos optando por nos cegar diante de potenciais atos de guerra contra nós", alertou Kori Schake, diretora de estudos de política externa e defesa do American Enterprise Institute, um think tank baseado em Washington.

    Nos últimos anos, Moscou intensificou sua estratégia de guerra híbrida, recrutando criminosos em países europeus para operações de sabotagem, incluindo incêndios criminosos, tentativas de assassinato e ataques a infraestrutura estratégica. Segundo fontes de inteligência citadas pela Reuters, o número de incidentes desse tipo caiu no final de 2024, mas a expectativa é de que Moscou continue sua campanha enquanto o Ocidente mantiver o apoio à Ucrânia.

    AMEAÇA DIRETA AOS EUA

    Uma das razões para a criação dos grupos de trabalho interagências durante o governo Biden foi o aumento da preocupação com ataques em território americano. No meio de 2024, agências dos EUA identificaram informações de inteligência sugerindo que a Rússia poderia detonar um dispositivo incendiário em um avião de carga ou de passageiros sobre espaço aéreo dos EUA, um cenário que alarmou as autoridades.

    Diante dessa ameaça, Biden ordenou que seu conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, e o diretor da CIA, Bill Burns, advertissem Putin e seus assessores de que, se a Rússia prosseguisse com tais ações, Washington poderia designar Moscou como Estado patrocinador do terrorismo. Esse rótulo isolaria ainda mais a economia russa do mercado global.

    Nos últimos meses de 2024, a cooperação entre os EUA e seus aliados europeus resultou na frustração de várias operações russas, incluindo uma tentativa de assassinato do CEO da Rheinmetall, empresa alemã fornecedora de armas para a Ucrânia. Autoridades alemãs, alertadas por inteligência americana, conseguiram impedir o plano.

    IMPACTOS E INCERTEZAS

    Com a suspensão dos grupos de trabalho e a mudança de abordagem de Trump, cresce a incerteza sobre o futuro da colaboração entre Washington e seus aliados para conter a guerra híbrida russa. No final de 2024, os EUA e o Reino Unido haviam elaborado um memorando conjunto defendendo o endurecimento das penas para crimes de sabotagem e a redução do número de diplomatas russos em países europeus, como forma de enfraquecer as redes de inteligência de Moscou. Agora, segundo fontes do governo, a administração Trump avalia, em sentido contrário, aumentar a presença diplomática russa em Washington.

    Enquanto aliados europeus tentam manter vigilância sobre as atividades russas, a reorientação estratégica de Trump reforça a preocupação de que Moscou possa explorar a nova conjuntura para intensificar sua campanha de desestabilização no Ocidente.

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