Ex-presidente dos EUA Jimmy Carter é lembrado por transcender a política partidária

(Reuters) - Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA que serviu apenas um mandato, mas foi amplamente admirado por seu trabalho humanitário após deixar a Casa Branca, foi lembrado em seu funeral de Estado nesta quinta-feira como um homem que colocou a honestidade e a gentileza acima das divisões partidárias.

Centenas de pessoas, incluindo os cinco presidentes norte-americanos vivos, atuais e ex-mandatários, reuniram-se na Catedral Nacional de Washington, onde o caixão de Carter, coberto pela bandeira americana, foi vigiado por uma guarda de honra militar.

O presidente democrata Joe Biden fez um elogio ao 39º presidente, que faleceu em 29 de dezembro aos 100 anos, dizendo que a vida de Carter era "a história de um homem que nunca permitiu que as marés da política o afastassem de sua missão de servir e moldar o mundo".

"Ele tinha caráter", disse Biden. "Ele nos mostrou como o caráter e a fé começam em nós mesmos e, então, se expandem para os outros."

Dezenas de milhares de americanos passaram pela Rotunda do Capitólio dos EUA nos últimos dois dias para prestar suas homenagens a Carter, presidente entre 1977 e 1981, que enfrentou desafios como uma economia debilitada e a crise dos reféns no Irã. Muitos o elogiaram como um exemplo de decência e humildade, características raramente vistas nos políticos altamente polarizados de hoje.

O presidente eleito republicano Donald Trump, que assumirá o cargo em 20 de janeiro, estava entre as figuras de destaque presentes no funeral.

"O HOMEM DE PLAINS VOLTA PARA CASA" - Carter nasceu como agricultor de amendoim em Plains, Geórgia, e serviu como governador do estado de 1971 a 1975. Em 2002, recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho humanitário.

Um de seus netos, Jason Carter, presidente do Conselho de Administração do Carter Center, destacou que o homem que ele chamava de "Paw-paw" e sua avó, Rosalynn Carter, que faleceu em 2023, permaneceram humildes e fiéis a seus valores, optando por viver em sua casa modesta em Plains.

"Sim, eles passaram quatro anos na mansão do governador e quatro anos na Casa Branca, mas os outros 92 anos foram vividos em casa, em Plains, Geórgia", disse Jason Carter.

RIVAIS QUE SE TORNARAM AMIGOS - Jimmy Carter venceu a eleição presidencial de 1976, derrotando o então presidente republicano Gerald Ford, após o escândalo de Watergate envolvendo Richard Nixon. Apesar de adversários políticos, Carter e Ford desenvolveram uma amizade duradoura, e Carter chegou a fazer um elogio no funeral de Ford em 2006.

O filho de Ford, Steven, leu nesta quinta-feira um elogio que seu pai havia escrito para Carter.

"Jimmy e eu nos respeitávamos como adversários antes mesmo de nos valorizarmos como grandes amigos", disse Ford em suas palavras. "Jimmy conhecia minhas vulnerabilidades políticas e as destacou com sucesso. Eu não gostei disso, mas mal sabia que o resultado daquela eleição de 1976 traria uma das amizades mais profundas e duradouras da minha vida."

UM LEGADO DE HUMANIDADE - Muitos dos que prestaram homenagens a Carter no Capitólio o lembraram como um homem gentil, cuja negociação do tratado de paz entre Egito e Israel em 1979 marcou sua liderança como mais humanitária do que combativa.

"Viemos de tão longe do que Jimmy Carter era como pessoa, e isso é meio triste", disse Dorian DeHaan, de 67 anos, que viajou cerca de 440 km de Sugar Loaf, Nova York, para prestar suas homenagens. "Espero que isso seja um lembrete do que precisamos recuperar - que não se trata de poder, mas das pessoas."