"Janela de oportunidade" permitiu a derrubada de Bashar al-Assad na Síria, diz Paulo Sérgio Pinheiro
Além do Hezbollah enfraquecido, 'o Irã se retirou e a Rússia não pôde vir à ajuda de Assad por estar na Ucrânia', diz o diplomata brasileiro na ONU
247 - A queda de Bashar al-Assad na Síria resultou de uma combinação de fatores geopolíticos que enfraqueceram seus principais aliados internacionais, como Rússia, Irã e Hezbollah, segundo análise de Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão de Inquérito da ONU para crimes cometidos no país, feita em entrevista a Jamil Chade, do UOL. O diplomata destacou como a guerra na Ucrânia foi determinante para a derrocada do regime sírio, ao desviar recursos militares russos e expor as fragilidades da aliança pró-Assad.
“O Irã se retirou, a Rússia não pôde vir à ajuda de Assad por estar na Ucrânia”, afirmou Pinheiro.
Durante 13 anos de trabalho na comissão, Pinheiro e sua equipe coletaram mais de 10 mil testemunhos sobre crimes atribuídos ao regime sírio e outros atores armados. Agora, ele faz um apelo para que as novas autoridades em Damasco rompam com o ciclo de violência e garantam proteção às minorias.
“O importante agora é convencer as novas autoridades a preservar as fontes, não retaliar contra as minorias”, ressaltou.
Aliados fragilizados e isolamento de Assad - Para Pinheiro, o que impediu a queda de Assad no passado foi o suporte militar maciço de Rússia, Irã e Hezbollah. No entanto, essa aliança foi progressivamente enfraquecida nos últimos anos, culminando na derrocada do regime.
A guerra na Ucrânia foi o ponto de inflexão, obrigando Moscou a desviar equipamentos militares e tropas para o conflito com Kiev. Isso abriu uma "janela de oportunidade" para as forças rebeldes sírias retomarem posições.
“As demandas de material e de efetivos abriram a janela para essa organização síria poder agir”, avaliou o diplomata.
Simultaneamente, o Hezbollah, principal aliado militar de Assad no terreno, foi severamente enfraquecido por mais de 100 ataques israelenses desde julho deste ano, limitando sua capacidade de intervenção.
Impactos geopolíticos e incertezas no futuro - A queda de Assad reorganiza o tabuleiro político do Oriente Médio. Pinheiro vê a Turquia como uma das maiores beneficiárias, devido ao seu apoio estratégico a grupos rebeldes sírios ao longo dos anos.
Por outro lado, Estados Unidos e União Europeia mantiveram um papel secundário, devido à percepção de alguns grupos sírios como entidades terroristas, deixando o cenário fora de seu controle imediato.
Futuro de Assad e o papel da ONU - O destino de Bashar al-Assad ainda é incerto. Para Pinheiro, é provável que o ex-presidente busque asilo em algum país aliado que ainda ofereça proteção. No entanto, ele destaca que o papel da ONU deve ser mais ativo daqui para frente, especialmente no Conselho de Segurança, que falhou em implementar resoluções anteriores sobre uma transição pacífica na Síria. “A resolução sobre a transição pacífica na Síria jamais foi implementada”, criticou.
Com a queda de Assad, o desafio mais urgente agora é evitar uma espiral de violência e garantir a reconstrução política e social de uma Síria devastada pela guerra.
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