Macron tenta convencer Trump a incluir a União Europeia nas negociações de paz para a Ucrânia
Presidente francês busca ampliar influência europeia enquanto Trump retoma contatos com Putin e tenta afastar a Rússia da China
247 – O presidente francês, Emmanuel Macron, embarcou para os Estados Unidos com o objetivo de convencer Donald Trump a incluir a União Europeia nas negociações para um possível acordo de paz na Ucrânia. A movimentação acontece no momento em que Trump, recém-retornado à Casa Branca, reaproxima-se do Kremlin. De acordo com análise da Sputnik Brasil, essa retomada do diálogo entre EUA e Rússia tem motivações econômicas e geopolíticas que vão além da simples afinidade pessoal entre Trump e Vladimir Putin.
Desde sua posse, Trump tem promovido contatos diretos com Moscou. Uma reunião de alto nível ocorreu recentemente em Riad, mediada pela Arábia Saudita, e uma chamada entre os dois presidentes reforçou a intenção de Washington em buscar um entendimento com a Rússia. O objetivo declarado da Casa Branca é a construção de um acordo que encerre o conflito no leste europeu, mas analistas apontam que há um cálculo estratégico por trás dessas movimentações.
O professor Fred Leite Siqueira, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre a Rússia (Prorus), explicou à Sputnik Brasil que o esforço de Trump para se reaproximar do Kremlin tem um viés pragmático. "Os norte-americanos olham apenas para o seu próprio bico", afirmou. Segundo ele, Washington já queimou mais de US$ 300 bilhões no apoio à Ucrânia e sofreu perdas significativas com as sanções econômicas contra a Rússia. "Do ponto de vista dos Estados Unidos, hoje a aproximação com a Rússia é estratégica em termos econômicos e em termos políticos", completou.
Outro fator crucial é a crescente desdolarização da economia global. De acordo com Siqueira, Trump teme que o domínio do dólar como moeda internacional esteja ameaçado, especialmente após as sanções contra a Rússia terem acelerado o movimento liderado pelo BRICS para reduzir a dependência da moeda norte-americana. "Os Estados Unidos serem o dono da moeda internacional é uma vantagem gigantesca. E é essa vantagem que faz os Estados Unidos serem temidos e poderosos", explicou o pesquisador.
A movimentação de Trump, no entanto, não se limita ao campo econômico. Ele também estuda reativar o G8, incluindo a Rússia no grupo do G7 sem a participação de outros países emergentes como China e Índia. O analista geopolítico Hugo Albuquerque destacou à Sputnik Brasil que essa estratégia visa afastar Moscou de Pequim. "O que Trump quer é trazer a Rússia de volta para a neutralidade, isto é, para o não alinhamento com a China", afirmou.
Contudo, Albuquerque e Siqueira concordam que essa tentativa de divisão não deve prosperar. "Mas aquela confiança de antigamente nunca vai ser retomada", declarou Albuquerque, argumentando que a relação sino-russa tem bases sólidas e dificilmente será abalada pela Casa Branca. Siqueira reforçou essa visão, destacando que, do ponto de vista russo, "fazer qualquer tipo de distensão política com a China não está em pauta".
O cenário coloca Macron em uma posição delicada. Ao insistir na participação europeia nas negociações, o presidente francês tenta garantir um protagonismo que a UE vem perdendo desde o início da guerra. Com os Estados Unidos conduzindo diretamente as tratativas e a Rússia mantendo alianças estratégicas no Oriente, a margem de manobra de Bruxelas se reduz. Se Trump conseguir avançar nas negociações sem a participação ativa da Europa, Macron sairá enfraquecido do processo, e a influência da União Europeia na política global sofrerá um novo revés.
A tentativa de Trump de se reaproximar de Putin reflete uma mudança importante na postura dos Estados Unidos diante da geopolítica global. O sucesso ou fracasso dessa estratégia terá impactos diretos não apenas na guerra da Ucrânia, mas também na economia mundial e na estrutura de poder entre as grandes potências.
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