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      Mercado futuro derrete com tarifas de Trump e risco de recessão nos EUA volta ao radar

      Apple, Nike e empresas de tecnologia lideram perdas e investidores já projetam desaceleração da economia dos EUA

      Presidente dos EUA, Donald Trump, no Rose Garden da Casa Branca em Washington, D.C. - 2/4/2025 (Foto: REUTERS/Leah Millis)
      Luis Mauro Filho avatar
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      247 - Uma nova onda de tarifas anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou uma reação imediata e negativa nos mercados financeiros, com Wall Street mergulhando em um cenário de perdas expressivas e temor crescente de recessão. As informações são da agência Bloomberg.

      Logo após a Casa Branca revelar as novas medidas — que incluem uma tarifa mínima de 10% sobre todas as exportações destinadas aos EUA e sobretaxas que chegam a 46% para países com superávit comercial elevado — os contratos futuros do S&P 500 desabaram 3% às 18h01 (horário de Nova York). O Nasdaq 100 recuou quase 4%, refletindo o forte impacto sobre empresas altamente expostas à cadeia global de suprimentos.

      Apple, Nike e setor de tecnologia entre os mais atingidos

      Os papéis de gigantes como Nike, Gap e Lululemon Athletica, que dependem fortemente da produção no Vietnã — país que enfrentará a tarifa mais alta, de 46% — caíram mais de 7% cada. A Apple, cuja cadeia produtiva é amplamente concentrada na China, viu suas ações recuarem até 6,9%. Fabricantes de chips como Nvidia e AMD também foram severamente penalizadas, assim como multinacionais industriais como Caterpillar e Boeing.

      O impacto generalizado acentuou a percepção de que a nova postura protecionista do governo americano pode desencadear uma recessão, ao comprometer o consumo e pressionar os custos de produção com aumento de preços de insumos e bens de consumo.

      “No curto prazo, isso é ruim”, afirma gestora

      “No curto prazo, isso é ruim”, avaliou Kim Forrest, diretora de investimentos da Bokeh Capital Partners. “No médio e longo prazo, espero que as pessoas próximas ao presidente não deixem que ele nos empurre para uma recessão.”

      A percepção é compartilhada por analistas e economistas que veem nas tarifas não apenas uma ameaça aos mercados, mas também um gatilho para alta da inflação e retração da atividade econômica antes que eventuais ganhos para a indústria interna se materializem.

      Volatilidade e incerteza se agravam em meio à falta de diretrizes

      Vineer Bhansali, fundador da Longtail Alpha, destacou o clima de incerteza: “Está sendo jogado um jogo de múltiplas fases, com vários atores, e isso é bastante negativo globalmente porque não sabemos que tipo de jogo é. A volatilidade deve aumentar e a maioria vai jogar na defensiva.”

      A falta de clareza sobre os objetivos e o alcance das tarifas tem sido um fator de instabilidade constante. Don Calcagni, diretor de investimentos da Mercer Advisors, observou: “Incerteza, por definição, não é informação acionável. Você não pode quantificar, não sabe onde a administração vai aterrissar.”

      Nova política tarifária afeta diretamente principais parceiros comerciais

      A China foi alvo de uma tarifa de 34%, a União Europeia de 20%, e o Japão de 24%, enquanto o Vietnã — considerado pela Casa Branca um dos maiores responsáveis pelo desequilíbrio comercial — foi penalizado com a alíquota mais elevada. Produtos do México e do Canadá, desde que dentro dos parâmetros do acordo USMCA, foram poupados desta nova rodada de sanções.

      Além da tarifa mínima de 10% sobre todas as exportações ao país, Trump já havia surpreendido na semana anterior ao impor um imposto de 25% sobre todos os automóveis importados, afetando diretamente montadoras e seus fornecedores globais.

      Impacto nas expectativas e temporada de balanços no radar

      Diante do cenário de incerteza, grandes instituições como Goldman Sachs e Bank of America passaram a revisar suas projeções para o desempenho do S&P 500 até o fim do ano, e agora alertam para uma possível queda mais acentuada das bolsas americanas. Após um início de ano promissor, com recordes em fevereiro, o índice já entrou em correção — uma queda de 10% em apenas 16 pregões, a sétima mais rápida em cinco décadas.

      A temporada de balanços, que se inicia com os grandes bancos em abril, será determinante para calibrar as expectativas. Tony Roth, diretor da Wilmington Trust Investment Advisors, afirmou: “serão feitas muitas orientações sobre o que as empresas estão vivenciando, tanto do lado do consumidor quanto do investimento em capital. Esse será o próximo fator a ser observado.”

      Além disso, o volume de recompra de ações por parte das empresas americanas despencou em março, alcançando o menor patamar desde outubro de 2020 — outro sinal de cautela diante do novo ambiente de negócios.

      Risco sistêmico cresce à medida que medidas retaliatórias se desenham

      A União Europeia já articula um pacote emergencial para proteger setores vulneráveis às tarifas americanas. O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, afirmou que o país estuda medidas de retaliação. O ambiente internacional caminha, assim, para um confronto comercial de múltiplas frentes, com efeitos colaterais ainda imprevisíveis sobre o crescimento global.

      O movimento de Trump, embora esperado desde sua reeleição, vem sendo conduzido de forma errática, com idas e vindas desde fevereiro. O resultado é um mercado cada vez mais volátil, um ambiente empresarial fragilizado e uma economia que, na avaliação de muitos analistas, pode estar à beira de uma recessão anunciada.

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