TV 247 logo
      HOME > Mundo

      O que levou Trump a revogar vistos de sul sudaneses nos Estados Unidos?

      Decisão do presidente dos EUA visa punir o país africano por não aceitar suposto cidadão sul sudanês deportado

      Presidente dos EUA, Donald Trump - 07/04/2025 (Foto: REUTERS/Kevin Mohatt)
      Luis Mauro Filho avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - A revogação de todos os vistos concedidos a cidadãos do Sudão do Sul pelos Estados Unidos gerou repercussões diplomáticas e humanitárias. A medida extrema foi anunciada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, no último sábado (6), e representa a primeira sanção coletiva desse tipo desde a posse do presidente Donald Trump para seu segundo mandato em janeiro. As informações são da Al Jazeera.

      De acordo com Rubio, o governo de transição do Sudão do Sul teria se recusado a cooperar com os EUA ao não aceitar o retorno de um suposto nacional deportado, o que configuraria uma violação dos protocolos internacionais de repatriação. “Todo país deve aceitar o retorno de seus cidadãos de maneira oportuna quando outro país, incluindo os Estados Unidos, busca removê-los”, afirmou o secretário. Em publicações nas redes sociais, ele ainda acusou Juba de “tirar vantagem” de Washington.

      A decisão já está em vigor e afeta todos os portadores de passaporte sul-sudanês, impedindo novas entradas em solo norte-americano. Embora o governo de Juba ainda não tenha se pronunciado oficialmente, nas redes sociais, cidadãos do Sudão do Sul acusaram os EUA de “intimidação” e de aplicar uma “punição coletiva”.

      Impasse sobre deportação expõe falhas diplomáticas

      O centro da crise foi o caso de um homem identificado como Makula Kintu. Segundo o subsecretário de Estado, Christopher Landau, ele foi reconhecido como sul-sudanês pela embaixada do país em Washington em 13 de fevereiro. Um documento de viagem emergencial foi emitido, permitindo sua deportação para Juba. No entanto, ao chegar à capital, autoridades locais o consideraram congolês e o devolveram aos Estados Unidos.

      “É inaceitável e irresponsável que autoridades do Sudão do Sul questionem a decisão de sua própria embaixada – para nós, a certificação da embaixada é conclusiva e o assunto está encerrado”, afirmou Landau. Ele destacou ainda que “não podemos ter um sistema de repatriação que permita aos governos reabrir e reavaliar a elegibilidade para repatriação após terem previamente certificado tal elegibilidade”.

      Uma gravação não verificada, publicada por um blog local no Facebook, mostra um homem afirmando ser Makula Kintu, natural da província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo. Ele disse que nasceu em 1977, quando o atual território do Sudão do Sul ainda fazia parte do Sudão.

      Impactos sobre a diáspora sul-sudanesa nos EUA

      A medida poderá atingir diretamente uma comunidade significativa. Estimativas de 2007 indicavam que cerca de 100 mil sul-sudaneses viviam nos Estados Unidos, embora não se saiba quantos mantêm visto ou obtiveram cidadania americana. Muitos deles estudam em universidades norte-americanas ou integram programas de bolsas acadêmicas.

      Um dos mais conhecidos representantes da diáspora é o jovem Khaman Maluach, estrela da equipe de basquete da Universidade Duke e cotado para o próximo draft da NBA. Maluach pode ser um dos diretamente impactados pela suspensão. “Estamos cientes do anúncio. Estamos analisando a situação e trabalhando para compreender quaisquer implicações para os estudantes da Duke”, disse o porta-voz Frank Tramble.

      O país africano também possui dezenas de cidadãos sob proteção especial concedida por administrações anteriores. Em 2011, o governo do então presidente Barack Obama ofereceu status de proteção temporária (TPS) a 133 sul-sudaneses, em razão do conflito civil. A classificação garante residência e autorização de trabalho a nacionais de países em guerra ou sob grave crise humanitária. Em 2023, o governo Joe Biden prorrogou o status até maio de 2025, beneficiando também outros 140 sul-sudaneses.

      Crise interna agrava isolamento internacional do Sudão do Sul

      A punição dos EUA ocorre em meio a uma nova escalada de tensão no país africano, marcado por instabilidade desde sua independência do Sudão, em 2011. Após uma guerra civil entre 2013 e 2018, que deixou mais de 400 mil mortos, o Sudão do Sul enfrenta atualmente novos confrontos entre forças ligadas ao presidente Salva Kiir e ao vice-presidente Riek Machar.

      O ponto crítico mais recente foi a ofensiva do Exército nacional contra a White Army, milícia localizada no estado de Upper Nile e historicamente ligada a Machar. Segundo as Nações Unidas, o Exército usou bombas incendiárias em ataques aéreos contra a milícia, após rumores de desarmamento forçado. Kiir também colocou Machar em prisão domiciliar junto com sua esposa e ministra do Interior, Angelina Teny. Diversos aliados do vice-presidente foram presos ou fugiram do país.

      A oposição declarou na semana passada que o acordo de paz de 2018 está, na prática, rompido. A União Africana, a ONU e a União Europeia manifestaram preocupação com o agravamento do cenário. Em 8 de março, os EUA ordenaram a retirada de funcionários não essenciais de sua embaixada em Juba. Países europeus como Alemanha encerraram temporariamente seus serviços consulares na capital sul-sudanesa.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Relacionados