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    Palestinos temem expulsão ao estilo de Gaza no campo de Jenin, na Cisjordânia

    "Jenin é uma repetição do que aconteceu em Jabalia", disse porta-voz, referindo-se ao campo de refugiados no norte de Gaza esvaziado por Israel

    Operação de soldados israelenses perto do campo de Jenin, na Cisjordânia (Foto: REUTERS/Raneen Sawafta)
    Guilherme Paladino avatar
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    JENIN, CISJORDÂNIA (Reuters) - Escavadeiras israelenses demoliram extensas áreas do campo de refugiados de Jenin, agora praticamente vazio, e parecem abrir estradas largas no meio dos becos antes lotados, repetindo táticas já empregadas em Gaza, à medida que tropas se preparam para uma permanência de longo prazo.

    Pelo menos 40.000 palestinos deixaram suas casas em Jenin e na cidade vizinha de Tulkarm, no norte da Cisjordânia, desde que Israel iniciou sua operação, um dia depois de chegar a um acordo de cessar-fogo em Gaza, após 15 meses de guerra.

    "Jenin é uma repetição do que aconteceu em Jabalia", disse Basheer Matahen, porta-voz da prefeitura de Jenin, referindo-se ao campo de refugiados no norte de Gaza, esvaziado pelo Exército israelense após semanas de intensos combates. "O campo se tornou inabitável", afirmou.

    Segundo Matahen, pelo menos 12 escavadeiras trabalhavam na demolição de casas e da infraestrutura do campo, que já foi um abrigo populoso de descendentes de palestinos que fugiram de suas casas ou foram expulsos na guerra de 1948.

    Equipes de engenharia do Exército puderam ser vistas fazendo os preparativos para uma permanência de longo prazo, trazendo tanques de água e geradores para uma área especial, disse Matahen.

    O Exército israelense não fez comentários de imediato, mas no domingo, o ministro da Defesa, Israel Katz, ordenou que tropas se preparassem para "uma permanência prolongada", dizendo que os acampamentos foram esvaziados "para o próximo ano" e que os residentes não teriam permissão para retornar.

    A operação de um mês no norte da Cisjordânia foi uma das maiores já vistas desde o levante dos palestinos na Segunda Intifada, há mais de 20 anos. As ações envolvem várias brigadas de tropas israelenses apoiadas por drones, helicópteros e, pela primeira vez em décadas, tanques de guerra.

    "Há uma expulsão ampla e contínua da população, principalmente nos dois campos de refugiados, Nur Shams, perto de Tulkarm, e Jenin", disse Michael Milshtein, ex-oficial da inteligência militar que dirige o Fórum de Estudos Palestinos no Centro Moshe Dayan de Estudos do Oriente Médio e da África.

    "Não sei qual é a estratégia geral, mas não há dúvida de que nunca vimos uma medida como essa no passado", afirmou Milshtein.

    Israel lançou a operação dizendo que pretendia enfrentar grupos militantes apoiados pelo Irã, como o Hamas e a Jihad Islâmica, que estão instalados em campos de refugiados há décadas, apesar das repetidas tentativas israelenses de eliminá-los.

    Porém, com o passar das semanas, os palestinos disseram que a verdadeira intenção parece ser o deslocamento permanente e em larga escala da população, destruindo casas e impossibilitando sua permanência.

    "Israel quer acabar com os campos e a memória dos campos, moral e financeiramente. Quer apagar o nome dos refugiados da memória do povo", disse Hassan al-Katib, de 85 anos, que morava no campo de Jenin com 20 filhos e netos antes de abandonar sua casa e todos os seus pertences durante a operação israelense.

    Israel já fez campanha para enfraquecer a UNRWA, a principal agência de ajuda humanitária palestina, banindo a entidade de sua antiga sede em Jerusalém Oriental e ordenando que interrompa suas operações em Jenin.

    "Não sabemos qual é a intenção do Estado de Israel. Sabemos que há muito deslocamento para fora dos campos", disse a porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, acrescentando que os refugiados têm status de proteção independentemente de sua localização física.

    "OPERAÇÃO MILITAR" - Os campos, símbolos permanentes do status não resolvido de 5,9 milhões de refugiados palestinos, têm sido um alvo constante de Israel, que afirma que a questão dos refugiados tem impedido qualquer resolução do conflito que já dura décadas.

    O país, no entanto, sempre evitou eliminá-los permanentemente. Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, negou que a operação na Cisjordânia tivesse um objetivo mais amplo do que o combate a grupos militantes.

    "São operações militares realizadas contra terroristas, e nenhum outro objetivo além desse", disse ele a repórteres em Bruxelas, onde se reuniu com autoridades da União Europeia no Conselho de Associação UE-Israel.

    Muitos palestinos, porém, veem um eco do pedido do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para que os palestinos sejam retirados de Gaza para dar lugar a um projeto de desenvolvimento imobiliário dos EUA, uma proposta que foi endossada pelo gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

    Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do presidente palestino Mahmoud Abbas, disse que a operação no norte da Cisjordânia parecia estar repetindo as táticas usadas em Gaza, onde as tropas israelenses deslocaram sistematicamente milhares de palestinos à medida que avançavam pelo enclave.

    "Exigimos que o governo dos EUA force o Estado de ocupação a interromper imediatamente a agressão que está praticando nas cidades da Cisjordânia", disse ele.

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