Presidente da Nvidia defende liderança em IA, mas avanço chinês desafia modelo ocidental
Ascensão de tecnologias abertas, como o DeepSeek, ameaça domínio de grandes corporações norte-americanas no setor de inteligência artificial
247 - Durante conferência anual de desenvolvedores da Nvidia, realizada nesta semana, o presidente-executivo Jensen Huang defendeu a manutenção da liderança global da empresa no setor de inteligência artificial (IA). As informações são da agência Reuters.
A Nvidia enfrenta atualmente desafios tanto de rivais tradicionais, como AMD, quanto de dezenas de startups que apostam em tecnologias mais econômicas para conquistar espaço especialmente no segmento conhecido como "inferência". Este refere-se ao uso da IA para realizar tarefas práticas, imediatas, e efetivas, que vão desde respostas automáticas em smartphones a análises financeiras complexas.
Um dos principais focos do evento é o anúncio do sistema de chips Vera Rubin, que leva o nome da pioneira astrônoma norte-americana conhecida por suas pesquisas sobre a matéria escura. Apesar da expectativa pelo novo produto, a Nvidia enfrenta atrasos na produção de seu modelo anterior, o chip David Blackwell, o que gerou prejuízos significativos para as margens da empresa.
Jensen Huang argumentou que o crescimento da IA de raciocínio — modalidade que demanda maior poder de computação e na qual os chips da Nvidia se destacam — ajudará a empresa a manter sua liderança. Contudo, especialistas alertam para as mudanças em curso no setor. Jay Goldberg, presidente-executivo da consultoria D2D Advisory, ressalta que embora a participação relativa da Nvidia possa diminuir, o mercado total de inferência promete ser muito maior e pode trazer receitas expressivas para novos competidores.
Para Bob Beachler, vice-presidente da startup Untether AI, o modelo atual da Nvidia enfrenta limitações importantes. "Eles têm um martelo e estão apenas fazendo martelos maiores", ironiza Beachler, destacando que os novos concorrentes oferecem soluções mais adaptadas às atuais necessidades do mercado.
Modelo aberto avança na China
Enquanto a Nvidia procura preservar seu domínio global, na China, o avanço da tecnologia aberta RISC-V ganha força com incentivo de Pequim, que prepara uma política nacional para acelerar sua adoção. Essa arquitetura aberta é considerada uma alternativa estratégica para reduzir a dependência chinesa de tecnologias proprietárias ocidentais.
O lançamento recente do DeepSeek, um chatbot chinês de arquitetura aberta e baixo custo, também surpreendeu o mercado e chamou atenção por exigir menos recursos computacionais, desafiando diretamente a lógica de altas despesas promovida por gigantes como Nvidia e OpenAI. Esse movimento chinês foi interpretado por analistas como uma ameaça real ao modelo capitalista vigente, focado em elevados investimentos e lucros expressivos.
Em entrevista recente ao Brasil 247, Dilma Rousseff, presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) dos BRICS, destacou o impacto do DeepSeek como um marco para a democratização tecnológica. "O que o DeepSeek mostra? Mostra que mesmo quando tentam barrar o investimento tecnológico, a inovação baseada nesse investimento, você não consegue superar o quê? A diferença que faz quem pensa", afirmou. Segundo ela, a abordagem aberta permite maior inclusão global no desenvolvimento de tecnologias avançadas.
Especialistas concordam que iniciativas como o DeepSeek têm potencial disruptivo significativo. Claudio Miceli, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que o modelo chinês é superior às versões anteriores abertas existentes, destacando-se justamente por sua eficiência e acessibilidade.
Já Henrique Carlos de Castro, professor de relações internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), enfatiza que o avanço do DeepSeek representa uma contestação direta à supremacia tecnológica do Ocidente, especialmente dos Estados Unidos, que têm adotado medidas para frear a ascensão tecnológica chinesa. "Suas ações são claramente imperialistas", pontuou Castro, mencionando as sanções impostas pelos EUA no passado recente.
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