Washington usa TikTok como peça de xadrez na disputa geopolítica com a China, aponta pesquisador
Ensaio de Einar Tangen, do Taihe Institute destaca que restrições ao TikTok refletem inseguranças dos EUA e não preocupações com segurança nacional
247 – A intensificação da rivalidade entre Estados Unidos e China não se limita ao comércio e à tecnologia, mas também alcança as redes sociais, com plataformas como TikTok e WeChat se tornando peças no tabuleiro da disputa geopolítica. Em um ensaio publicado pelo Taihe Institute, um dos principais think-tanks chineses, o pesquisador Einar Tangen argumenta que o embate em torno do TikTok não tem base real em segurança nacional, mas sim no sucesso da plataforma e no temor norte-americano sobre sua influência cultural e comercial.
Desde 2012, Washington tem adotado estratégias de contenção para lidar com a ascensão chinesa, buscando preservar sua hegemonia global. Já a China, por sua vez, evita confrontos diretos, apostando em iniciativas como a Nova Rota da Seda (BRI), o RCEP, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) e os BRICS para expandir sua influência no cenário internacional.
No campo das mídias sociais, os Estados Unidos alegam que plataformas chinesas representam riscos de segurança nacional, levantando preocupações sobre privacidade de dados e possíveis operações de influência. No entanto, como destaca o artigo do Taihe Institute, essas acusações carecem de provas concretas. Além disso, o próprio governo dos EUA já esteve envolvido em campanhas de desinformação – como a revelada por Edward Snowden, que expôs o monitoramento global da Agência de Segurança Nacional (NSA), e a recente ação do Pentágono para desacreditar as vacinas chinesas nas Filipinas, conforme reportado pela Reuters em 2024.
TikTok como “ameaça” ao domínio das Big Techs norte-americanas
Com 170 milhões de usuários nos EUA, o TikTok se tornou um fenômeno cultural, especialmente entre os jovens. Washington argumenta que a plataforma pode coletar dados e influenciar opiniões, mas, segundo o estudo do Taihe Institute, o verdadeiro problema para os EUA é o sucesso da plataforma e sua origem chinesa.
Ao contrário do que alegam os políticos norte-americanos, os algoritmos do TikTok não têm uma agenda ideológica, mas sim um objetivo comercial: prender a atenção dos usuários para vender anúncios. Os conteúdos predominantes na plataforma envolvem música, humor e dança – muito longe das alegações de interferência política.
Uma pesquisa do Pew Research Center apontou que a maioria dos jovens que consome notícias no TikTok acessa conteúdos produzidos por outros usuários jovens, e não por atores mal-intencionados. Em contraste, teorias conspiratórias como “Stop the Steal” (que negava a vitória de Biden em 2020) se espalharam muito mais no Facebook e no Twitter do que no TikTok.
Desinformação e hipocrisia na guerra tecnológica
O artigo de Einar Tangen também destaca o papel dos EUA como líder mundial em desinformação e operações psicológicas. Segundo o estudo, Washington não hesita em difamar a China diariamente, associando o país a conflitos como a guerra na Ucrânia ou manipulando fatos sobre sua posição no Oriente Médio.
O caso do TikTok, segundo o autor, faz parte desse mesmo padrão. A suposta ameaça à segurança nacional é usada para justificar sanções a empresas chinesas, como Huawei e ZTE, além da proibição de exportação de chips de IA para a China. Recentemente, o governo Biden incluiu mais 14 empresas chinesas em sua lista de restrições comerciais, evidenciando que o embate tecnológico não tem previsão de trégua.
O financiamento por trás da máquina de desinformação
A capacidade dos EUA de sustentar essa campanha contra a China não é coincidência. O artigo detalha como Washington investe bilhões de dólares anualmente para manter sua estrutura de inteligência e desinformação:
• US$ 135 bilhões anuais para espionagem e operações de inteligência;
• US$ 73,4 bilhões destinados ao Programa Nacional de Inteligência (NIP);
• US$ 4,9 bilhões para pesquisas universitárias voltadas para tecnologia e defesa;
• US$ 360 milhões para think tanks que promovem políticas militares dos EUA;
• US$ 170 milhões para a National Endowment for Democracy, entidade que financia mudanças de regime em outros países.
A desconexão entre a narrativa ocidental e a realidade chinesa
O artigo ressalta que há uma enorme dissonância entre a percepção ocidental sobre a China e a realidade vivida dentro do país. Enquanto os EUA retratam a China como um regime autoritário que usa redes sociais para controle, plataformas chinesas como Weibo e Baidu são amplamente utilizadas para debate público e engajamento entre o governo e a sociedade.
A consequência dessa divergência é que quando estrangeiros visitam a China, frequentemente se surpreendem com a normalidade do cotidiano e a ausência da repressão retratada pelos meios de comunicação ocidentais.
TikTok: um peão no jogo geopolítico
Com a recente decisão da Suprema Corte dos EUA contra o TikTok, o estudo do Taihe Institute conclui que a campanha contra a plataforma reflete os próprios medos e inseguranças de Washington. A tentativa de forçar a venda da plataforma para investidores norte-americanos tem menos a ver com segurança nacional e mais com uma disputa econômica e tecnológica.
No entanto, essa postura agressiva pode sair pela culatra. A proibição do TikTok já levou milhões de usuários norte-americanos a migrar para Xiaohongshu, uma plataforma chinesa semelhante ao Instagram, evidenciando a ineficácia da estratégia dos EUA em suprimir a influência chinesa na internet global.
No fim das contas, como aponta o artigo, o TikTok é apenas um peão em um jogo de xadrez geopolítico, onde Washington insiste em usar sua imprevisibilidade como tática para testar fraquezas e explorar oportunidades. No entanto, se a política externa dos EUA continuar sendo guiada por paranoia e desinformação, o resultado poderá ser o caos global, adverte Einar Tangen.
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