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    Putin desafia Ocidente e reforça papel da Rússia na nova ordem mundial

    Presidente russo critica dependência europeia dos EUA, destaca parcerias com China e Índia e apresenta novo míssil capaz de superar defesas ocidentais

    Vladimir Putin em coletiva de imprensa ao final da Cúpula do BRICS 2024 (Foto: Alexander Shcherbak/TASS)
    Redação Brasil 247 avatar
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    247 – Em sua tradicional coletiva de imprensa anual, realizada nesta quinta-feira (19), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, voltou a lançar críticas diretas ao Ocidente e destacou o fortalecimento da economia e da capacidade militar russas, apesar das sanções impostas desde o início do conflito na Ucrânia. A notícia foi originalmente publicada pela Sputnik Brasil, que reuniu análises de especialistas em geopolítica a respeito das declarações do líder russo.

    Na entrevista, Putin atribuiu a crise econômica da Alemanha ao que classificou como “abandono da soberania” frente aos interesses dos Estados Unidos. Enquanto Berlim seguiu a cartilha ocidental, prejudicando sua própria independência, Moscou teria adotado o caminho inverso, reforçando sua autonomia econômica e estratégica antes mesmo do início da operação especial na Ucrânia. Segundo o presidente russo, essa postura possibilitou à Rússia superar as sucessivas rodadas de sanções, reorientando seu comércio e parcerias estratégicas rumo ao Oriente.

    “As sanções que foram aplicadas à Rússia desde o início do conflito com a Ucrânia foram sem precedentes. A exclusão da Rússia do sistema SWIFT, por exemplo, foi algo que a gente nunca tinha visto”, afirmou Giovana Branco, doutoranda em ciência política na Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora de política externa russa, em entrevista à Sputnik Brasil. Para ela, a economia russa não só resistiu ao isolamento ocidental, mas também se beneficiou das relações comerciais mais estreitas com países como China e Índia, contornando o cerco econômico europeu e norte-americano.

    De acordo com Vladimir Putin, o resultado desse reposicionamento se reflete no crescimento da economia russa, que ultrapassou a Alemanha em 2023 e, posteriormente, o Japão, tornando-se a quarta maior economia do mundo. “O que as economias ocidentais não compreenderam [...] é que a economia russa já estava preparada para esse momento e que não está isolada, embora essa seja uma narrativa bastante presente”, ressaltou Branco, destacando a importância da parceria sino-russa e do fortalecimento de laços com a Índia e países da Ásia Central.

    A especialista em geopolítica lembra ainda que a consolidação do eixo Rússia–China–Índia é um projeto que remonta ao ex-primeiro-ministro russo Yevgeny Primakov, marcando a estratégia de Moscou em avançar sobre novos espaços de decisão internacional. “O que nós observamos hoje são duas potências que têm bastante consciência do seu status internacional e buscam ativamente não apenas seguir as regras liberais dos sistemas ocidentais, mas também propor novas ordens internacionais”, pontua Branco.

    Na conferência, Putin rememorou que Rússia e China foram as nações mais devastadas pela Segunda Guerra Mundial e que hoje desfrutam de uma parceria política e econômica sem precedentes. Segundo o presidente, a amizade entre Moscou e Pequim já atingiu seu maior nível histórico, com coordenação intensa na arena internacional. Para Nathana Garcez, doutoranda em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, essa aproximação sino-russa “remodela a geopolítica mundial” ao reunir duas potências com amplos recursos econômicos, militares e diplomáticos.

    Nesse contexto, Putin aproveitou para enaltecer as Forças Armadas da Rússia, que, segundo ele, mantêm a maior prontidão de combate do mundo. O líder russo também chamou atenção para o míssil Oreshnik, desenvolvido integralmente com tecnologia pós-soviética. “Não existem sistemas de defesa aérea que o atinjam”, afirmou o presidente, lançando um desafio ao Ocidente: testar as defesas em um alvo específico em Kiev para, então, Moscou demonstrar a eficácia do novo armamento.

    Para Garcez, as declarações de Putin “jogam pressão” sobre os países ocidentais em meio às dificuldades logísticas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em manter o fluxo de armas e munições para a Ucrânia. Já Branco salienta que a introdução do Oreshnik no cenário militar significa muito mais que retórica: “A partir do momento que a Rússia utiliza esse sistema, ela mostra ao sistema internacional que ela não só detém esses armamentos, como está disposta a utilizá-los”.

    As duas especialistas concordam que a ampliação do poderio bélico russo, somada à consolidação de parcerias econômicas e geopolíticas com países do Oriente, aponta para uma reconfiguração das dinâmicas internacionais. Com o enfraquecimento da influência ocidental em alguns tabuleiros, a Rússia emerge mais segura de sua posição, buscando impor seus próprios termos a um mundo em transformação.

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