Mercadante homenageia Mujica e exalta seu legado: "civilidade política que está muito acima das clivagens que nos desunem"
"Pepe Mujica e seu fusquinha azul: um legado de simplicidade e humanidade que inspira o mundo", diz presidente do BNDES em artigo
247 - Em um artigo emocionante publicado no jornal O Globo, Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), prestou uma homenagem ao ex-presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, destacando sua trajetória de vida, suas lições de humanidade e sua capacidade de inspirar gerações. Mercadante descreve Mujica como um homem que transcende as divisões políticas e sociais, um líder cuja simplicidade e compromisso com a vida o tornam uma figura única no cenário mundial.
"Se pudesse, Mujica colocaria todos nós em seu fusquinha azul e nos conduziria a um lugar muito melhor. Um lugar mágico, que está dentro do seu coração", escreveu Mercadante, ressaltando a simplicidade que define a vida do ex-presidente. Para ele, a história de Mujica é uma inspiração atemporal, marcada por escolhas que reforçam a essência do servir público como uma missão, e não uma via de enriquecimento pessoal.
A trajetória do líder uruguaio é indissociável de sua experiência como preso político durante a ditadura militar, quando passou 14 anos encarcerado, boa parte em isolamento. "Aprendemos na orfandade das masmorras que com pouco se pode ser feliz, e se com isso você não consegue, você não consegue com nada", relatou Mujica, em uma das muitas reflexões citadas por Mercadante.
A busca por riqueza material como um caminho ilusório para a felicidade foi uma das lições que Mujica trouxe de sua vivência nas prisões uruguaias. "Não sou pobre, sou sóbrio, tenho bagagem leve, vivo com o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade", disse ele, exemplificando sua visão de mundo pautada pela autonomia e pela resistência às tentações do poder.
Outro ensinamento fundamental de Mujica, ressaltado por Mercadante, é sua relação com a vida em todas as suas formas. Privado do convívio humano na prisão, ele encontrou nas pequenas criaturas seu único laço com a existência. "Na prisão, gostávamos de aranhas, gostávamos de formigas, porque eram os únicos seres vivos que tínhamos, na solidão de nossas masmorras", afirmou o ex-presidente uruguaio. Essa conexão com o mundo natural se reflete até hoje em sua paixão por cultivar flores, um ofício que aprendeu com a mãe e que se tornou um símbolo de sua forma de encarar a política: "Política é a arte maior de cuidar da vida".
A rejeição ao ódio também é um pilar de sua filosofia. Mujica, que poderia ter saído da prisão com rancor por seus algozes, preferiu semear o amor. "Não cultivo ódio no meu jardim há décadas. O ódio acaba nos deixando estúpidos porque nos faz perder a objetividade diante das coisas. O ódio é cego como o amor, mas o amor é criativo, e o ódio nos destrói", refletiu ele.
Para Mercadante, essas lições são imortais, e fazem de Mujica um dos grandes estadistas de nosso tempo, ao lado de nomes como Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do BNDES destaca que a austeridade de Mujica nunca foi um artifício de marketing político, mas sim uma expressão autêntica de seu compromisso com a vida e com a humanidade.
Ao concluir sua homenagem, Mercadante exalta a simplicidade e a grandeza de Mujica: "Mujica está deixando a vida que tanto ama, de que tanto cuida. Mas ele nunca morrerá, de fato. Como no fantástico poema de Francisco de Quevedo, ele será cinzas, mas cinzas com sentido, e se tornará pó, mas pó apaixonado. Nesse dia, todas as flores do mundo desabrocharão em sua homenagem".
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