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      Na presidência do BRICS, Brasil exige reforma global contra hegemonia das potências

      Chanceler Mauro Vieira defende maior representatividade dos países do Sul Global e critica desigualdades no sistema internacional

      Mauro Vieira, em reunião do BRICS (Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – O Brasil deu início à sua presidência do Brics com um discurso contundente pela reforma da governança global e pelo fortalecimento da cooperação entre os países do Sul Global. Durante a primeira reunião de sherpas sob a liderança brasileira, realizada em Brasília nos dias 24 e 25 de fevereiro, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, destacou a necessidade de reequilibrar a ordem mundial e garantir voz ativa às nações emergentes.

      A reunião ocorreu no Palácio Itamaraty e contou com a participação de representantes dos 11 países que atualmente compõem o Brics. De acordo com a Agência Gov, a agenda do encontro abordou temas como a reforma do sistema multilateral, o papel do Brics na economia global e desafios como inteligência artificial e mudanças climáticas.

      "Nenhuma governança global pode ser legítima sem o Brics"

      No discurso de abertura, Mauro Vieira enfatizou que o mundo vive um período de transformações intensas, no qual as economias emergentes não podem mais ser tratadas como coadjuvantes. "Instituições de longa data enfrentam dificuldades para se adaptar, enquanto economias emergentes reivindicam, com razão, um papel mais equitativo na definição de decisões que nos afetam a todos", afirmou.

      O ministro celebrou a recente ampliação do Brics, que passou de cinco para 11 países, tornando-se um bloco ainda mais representativo da população e da economia globais. "Representamos quase metade da população mundial e 39% do PIB global, além de sermos responsáveis por metade da produção global de energia. Esse Brics ampliado simboliza um Sul Global que não é mais apenas um participante dos assuntos globais, mas uma força influente e construtiva na configuração da ordem internacional", pontuou.

      Vieira também rejeitou qualquer tentativa de imposição unilateral das potências ocidentais sobre os países emergentes. "As instituições mundiais devem evoluir para acomodar perspectivas diversas, garantindo que as nações em desenvolvimento não sejam meros espectadores, mas sim arquitetos ativos do futuro. O Brics representa uma nova visão de governança global — uma que prioriza inclusão, equidade e cooperação em detrimento da hegemonia, injustiça, desigualdade e unilateralismo”, afirmou.

      Críticas à fragmentação econômica e ao modelo financeiro global

      O chanceler criticou as tendências recentes de "desglobalização" e a crescente fragmentação da economia mundial. Para ele, o Brics deve liderar a defesa de um sistema de comércio multilateral justo e equilibrado, que favoreça o Sul Global. "O Brics deve resistir a essa fragmentação e advogar por um sistema de comércio multilateral aberto, justo e equilibrado — um que atenda às necessidades do Sul Global e promova uma ordem econômica verdadeiramente multipolar", declarou.

      Vieira também enfatizou a necessidade de reformar a arquitetura financeira global, citando o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) como uma ferramenta estratégica para financiar projetos em economias emergentes. "O status econômico não pode determinar o acesso ao desenvolvimento. Precisamos de instituições que financiem a transição dos países do Sul para um crescimento sustentável, sem que esses fiquem à mercê de estruturas financeiras que perpetuam desigualdades históricas", afirmou.

      Desafios globais: segurança, tecnologia e mudanças climáticas

      Os desafios globais também estiveram no centro da discussão. Vieira defendeu uma abordagem multilateral para a resolução de conflitos e reforçou o compromisso do Brics com a estabilidade internacional. "O Brics deve defender uma abordagem multilateral para a resolução de conflitos, enfatizando a diplomacia, a mediação, a prevenção de crises e o desenvolvimento sustentável", disse.

      No campo tecnológico, o ministro ressaltou a urgência de uma governança inclusiva da inteligência artificial (IA). "A governança global de IA deve ser inclusiva e democrática, além de contribuir para o desenvolvimento econômico. Ela não pode ser ditada por um pequeno grupo de atores enquanto o restante do mundo é forçado a se adaptar a regras que não ajudou a estabelecer", argumentou.

      A crise climática também foi um ponto central do encontro, com Vieira cobrando mais justiça ambiental e recursos para os países emergentes. "A justiça climática deve estar no centro das discussões internacionais, garantindo que as nações em desenvolvimento tenham tanto a autonomia quanto os recursos necessários para realizar a transição rumo a economias de baixo carbono, sem abrir mão de seus objetivos de desenvolvimento", enfatizou.

      Brasil assume protagonismo no Brics e na geopolítica global

      A presidência brasileira do Brics se concentrará em seis áreas prioritárias:

      • Cooperação em saúde global
      • Comércio, investimento e finanças
      • Combate à mudança do clima
      • Governança da inteligência artificial
      • Reforma do sistema multilateral de paz e segurança
      • Desenvolvimento institucional do Brics

      Encerrando seu discurso, Mauro Vieira fez um chamado à ação coletiva para redefinir as bases da governança global. "O mundo está em uma encruzilhada, e as escolhas que fizermos hoje moldarão o futuro da governança global pelas próximas gerações. O Brics foi fundado com base nos princípios de cooperação, equidade e respeito mútuo. Ao iniciarmos esta jornada juntos, reafirmamos nosso compromisso de construir uma ordem internacional mais justa, inclusiva e sustentável", concluiu.

      A postura do Brasil indica que o país pretende assumir um papel ativo na geopolítica global, consolidando o Brics como um bloco essencial na construção de um mundo multipolar e menos subordinado às potências tradicionais.

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