Banco Central não deve "virar as costas ao poder democraticamente eleito", diz Galípolo em sabatina
“De maneira nenhuma, a autonomia deve passar a ideia de que o BC vai virar as costas para o poder democraticamente eleito”, disse Gabriel Galípolo
Fábio Matos, Infomoney - O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, indicado para assumir a presidência do BC a partir do ano que vem, disse, nesta terça-feira (8), que a missão essencial da autoridade monetária é perseguir a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), e não se deve “virar as costas” para o “poder democraticamente eleito”.
As declarações do economista foram dadas durante sabatina promovida pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Galípolo precisa ter o nome aprovado tanto pela CAE quanto pelo plenário do Senado, o que deve ocorrer ainda nesta terça.
Questionado por senadores sobre a autonomia do BC em relação ao governo, Galípolo deixou claro que defende uma relação harmônica entre a autoridade monetária e o Executivo, apesar da independência do órgão.
Questionado sobre as críticas feitas por Lula a Campos Neto desde que o petista tomou posse, Galípolo contemporizou e disse que lamenta não ter conseguido ajudar para que essa relação fosse mais saudável
“Eu aprendi que, nos debates da vida pública, existem algumas palavras-chave que quase são gatilhos. Você usa uma palavra e, de repente, vai parar em uma arquibancada de torcida e aquilo vira uma coisa acalorada. E autonomia é uma dessas palavras que geram um debate acalorado”, brincou Galípolo.
“Se pegarmos a literatura essencial sobre autonomia do BC, os cânones vão dizer que o BC tem autonomia operacional para buscar as metas estabelecidas pelo poder democraticamente eleito”, explicou.
“As metas e objetivos estabelecidos são estabelecidos pelo poder democraticamente eleito. Uma vez estabelecida, cabe ao BC perseguir essa meta. Esta é a definição que existe.”
Indicado por Lula para a presidência do BC e sabatinado no Senado, o economista disse que “existem numerosos desafios pela frente, como a construção de uma agenda capaz de tornar a economia mais equânime”.
Segundo Galípolo, “você tem de obedecer o arcabouço institucional e legal”. “Sou um daqueles que defende que o BC nem deveria votar sobre a meta nas votações do CMN. Hoje nós temos uma meta estabelecida de 3% e cabe ao BC perseguir essa meta de maneira inequívoca, colocando a taxa de juros em um patamar restritivo pelo tempo que for necessário para atingir essa meta”, afirmou.
“De maneira nenhuma, a autonomia deve passar a ideia de que o BC vai virar as costas para o poder democraticamente eleito”, concluiu Galípolo.
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