BRB dobra de tamanho após aquisição do Master

247 – O Banco de Brasília (BRB), tradicionalmente focado em crédito consignado e financiamento imobiliário para servidores públicos do Distrito Federal, vive uma revolução em sua trajetória. A informação é do Valor Econômico, que detalhou a trajetória recente da instituição, comandada por Paulo Henrique Costa, que foi marcada por uma guinada estratégica a partir de 2020, quando firmou uma parceria inédita com o Flamengo para criação de um banco digital. O movimento foi o primeiro passo para transformar o pequeno banco estatal em um ator relevante no cenário financeiro nacional.

A ousadia da gestão rendeu frutos. A aliança com o clube de maior torcida do país permitiu ao BRB atingir escala e visibilidade em todo o território brasileiro. Agora, com a aquisição do Banco Master, a transformação se consolida. A nova estrutura resulta em um conglomerado com ativos combinados de R$ 106,4 bilhões — o que deve alçar a instituição da 25ª para a 16ª posição entre os maiores grupos financeiros do Brasil.

Expansão acelerada e desafios

Em seu balanço do terceiro trimestre de 2024, o BRB reportou R$ 55,4 bilhões em ativos, enquanto o Master, em junho do mesmo ano, somava R$ 51 bilhões. Juntos, formam uma nova força financeira, fruto de uma estratégia combinando crescimento orgânico e aquisições.

Listado na bolsa desde 1993, o BRB sofre com a baixa liquidez de suas ações. Em 2021, tentou um re-IPO que não avançou. Em 2024, lançou um ambicioso aumento de capital privado de até R$ 1 bilhão, com o objetivo de atrair mais investidores minoritários, mas a captação ficou aquém: apenas R$ 100 milhões foram levantados.

O desempenho financeiro, no entanto, mostra recuperação. Nos nove primeiros meses de 2024, o lucro líquido foi de R$ 180 milhões, uma alta de 58,1% em relação ao mesmo período de 2023. A qualidade dos números, porém, foi ofuscada por atrasos na divulgação dos balanços e ressalvas da auditoria E&Y, que, até junho, apontava três problemas nos demonstrativos contábeis, suavizados para duas "ênfases" em setembro. O índice de Basileia, termômetro da solidez financeira de um banco, fechou o terceiro trimestre em 13,4%, com capital principal de 9,23% — apenas um pouco acima do mínimo regulatório de 8%.

O Master e a estratégia de Daniel Vorcaro

O crescimento do Banco Master também impressiona. A instituição, comandada pelo empresário Daniel Vorcaro desde a aquisição do então Banco Máxima em 2017, viu seu patrimônio líquido saltar quase 12 vezes em cinco anos. Metade dessa evolução veio de reinvestimento de lucros e a outra metade de aportes de capital dos sócios.

Em 2021, o banco foi rebatizado como Master e apresentou ao Banco Central um ousado plano de negócios: atingir R$ 5 bilhões de patrimônio líquido até 2025. Com R$ 4,2 bilhões registrados em junho de 2024, a meta foi antecipada para o fim do mesmo ano.

No primeiro semestre de 2024, o Master lucrou R$ 500,8 milhões, uma alta de 72,3% sobre igual período do ano anterior. Esse resultado foi impulsionado por um ganho extraordinário de R$ 435,5 milhões relacionado à “compra vantajosa” do Voiter (ex-Indusval), quando se incorpora um patrimônio líquido superior ao valor desembolsado.

Antes de selar a compra do Master, o BRB chegou a negociar uma participação relevante no Banese (Banco do Estado de Sergipe), mas as eleições de 2022 inviabilizaram o acordo.

Perspectivas

Com a fusão, o BRB reforça sua ambição de ser mais do que um banco regional. A escala alcançada e a diversificação dos ativos proporcionam musculatura para novos movimentos estratégicos e, possivelmente, para uma retomada futura da abertura de capital. A união com o Master traz, ainda, a experiência de Vorcaro e um modelo de negócios mais agressivo, voltado para crescimento e reinvenção do setor bancário tradicional.