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Lira reclama de Hugo Motta: não controla a Câmara e não escuta ninguém

Principal fiador do presidente da Câmara, ex-líder da Casa agora se queixa de seu sucessor

Hugo Motta e Arthur Lira (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

247 - O comando da Câmara dos Deputados atravessa um período de desgaste político marcado por críticas internas, derrotas em votações relevantes e atritos com o maior partido da Casa. Avaliações reservadas de lideranças parlamentares indicam um ambiente de insatisfação crescente com a condução do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB), especialmente após decisões que contrariaram expectativas de diferentes bancadas, informa Andréia Sadi, do G1.

Ex-presidente da Câmara e principal fiador de seu sucessor, Arthur Lira (PP-AL) agora reclama de Motta a interlocutores. Ele aponta que o atual presidente da Casa tem dificuldade para exercer liderança política, sendo descrito como alguém sem firmeza para comandar os deputados e pouco aberto ao diálogo com seus pares.

Um dos episódios que ampliaram o desgaste foi a votação envolvendo o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Motta levou ao plenário o parecer que recomendava a cassação do mandato do parlamentar, acusado de agredir um manifestante dentro da Câmara. O resultado, no entanto, foi uma derrota política: os deputados aprovaram apenas a suspensão, e não a perda do mandato, contrariando a expectativa dos adversários do psolista, sendo Lira o principal deles.

O enfraquecimento de Motta também atingiu sua relação com o PL, a maior bancada da Câmara. Dois movimentos recentes foram decisivos para acirrar as tensões. O primeiro foi a inclusão na pauta da cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Embora a ala bolsonarista do partido tenha votado contra, parte desse grupo esperava a cassação, por considerar a deputada responsável pela derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022 e por desejar afastá-la do cenário eleitoral de 2026.

Outro ponto sensível foi a condução do Projeto de Lei da Dosimetria, que reduz penas, mas não reverte a prisão e a inelegibilidade de Bolsonaro. O texto acabou aprovado, mas não satisfez a ala mais alinhada ao ex-presidente. Nos bastidores, integrantes do PL alegam que foram informados da estratégia de votação apenas quando ela já estava definida e desconfiam de um acordo costurado sem a participação de setores contrários da legenda.

Segundo a apuração, essa articulação teria envolvido os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antônio Rueda, além do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A ausência de uma construção mais ampla dentro do partido fez com que a aprovação do projeto não fosse suficiente para conter a pressão por anistia nem para reduzir a influência direta de Bolsonaro sobre os rumos da oposição.

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