Ocupação Vila Esperança pressiona prefeitura de Vila Velha e denuncia repressão em protesto por moradia
Comunidade cobra regularização de terreno ocupado há oito anos e acusa prefeitura de ignorar proposta de urbanização do governo federal
247 - Em mais um capítulo da luta por moradia digna no Espírito Santo, moradores da ocupação Vila Esperança, localizada na região 5 de Vila Velha, ocuparam recentemente a sede da prefeitura do município para exigir a regularização do terreno onde vivem há oito anos. A manifestação reuniu, na última terça-feira (25), cerca de 800 famílias e foi organizada pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM).
Segundo os organizadores, o objetivo do ato foi cobrar do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) e do governo estadual a realização de uma reunião com o governo federal para viabilizar a compra da área e o início das obras de urbanização. A comunidade, composta por idosos, pessoas com deficiência, mães solo e mais de 500 crianças, vive em condições extremamente precárias, sem acesso a água encanada ou energia elétrica regularizada.
Apesar de a prefeitura ter publicado um decreto em 2020 destinando o terreno à habitação social, nenhuma medida prática foi adotada desde então. “Enquanto o prefeito protege interesses de especuladores, famílias vivem sem o mínimo de dignidade”, denunciou Adriana "Baiana" Paranhos, liderança da comunidade e dirigente estadual do MNLM.
Violência durante o protesto
A mobilização, inicialmente pacífica, terminou marcada pela ação violenta da Polícia Militar. Um adolescente foi agredido e detido, mesmo sem registro de confronto. Testemunhas afirmaram que a prioridade dos policiais foi dispersar os manifestantes, em vez de garantir o direito constitucional à livre manifestação.
Esse episódio, segundo o MNLM, reforça a postura do município de criminalizar a luta por moradia, ignorando os apelos de uma população que há anos transforma uma área abandonada em espaço de vida comunitária e resistência.
Terreno alvo de disputa
A ocupação está instalada em um terreno sem documentação formal, que permaneceu abandonado por mais de uma década. Em 2022, a comunidade foi alvo de um episódio de violência: pistoleiros armados, supostamente contratados por empresários interessados na área, tentaram derrubar casas com o uso de um trator. Na ocasião, a Polícia Militar revistou moradores, mas não prendeu nem desarmou os agressores.
Apesar da ausência do Estado, os moradores construíram redes de solidariedade e iniciativas sociais, como hortas comunitárias, aulas para crianças e sistemas internos de doações, sem qualquer apoio institucional.
Governo federal quer regularizar
O governo federal já sinalizou a intenção de comprar o terreno e iniciar a urbanização da área, com a instalação de infraestrutura básica. No entanto, a efetivação do projeto depende da adesão da prefeitura de Vila Velha, que, segundo os moradores, se mantém alinhada aos interesses de empresários do setor imobiliário.
“Borgo prefere ver crianças sem água a contrariar a especulação imobiliária”, criticou Baiana. Para ela, a omissão do município revela a escolha deliberada por um modelo de cidade excludente, que ignora as necessidades das populações mais vulneráveis.
Pauta de reivindicações
- Durante a manifestação, o MNLM apresentou quatro exigências imediatas:
- A libertação do adolescente detido;
- A realização de uma audiência pública com os três níveis de governo;
- A apuração dos ataques de 2022;
- A implementação do projeto federal de urbanização.
“Não vamos recuar. Transformaremos essa área em um bairro digno para quem constrói a cidade todos os dias”, afirmou Baiana, resumindo o sentimento de uma comunidade que resiste há quase uma década ao abandono e à repressão.
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