Em livro, Eduardo Appio relata maus-tratos a presos da Lava Jato para forçar delação
Juiz conta que os presos eram "jogados em uma cela imunda com um colchonete inundado em urina e pulgas" e depois eram chamados para uma delação
247 - O juiz federal Eduardo Appio, que atuou diretamente na operação Lava Jato, revela, em um novo livro, denúncias de maus-tratos cometidos contra os presos para forçar delações. A obra "Tudo por dinheiro: A ganância da Lava Jato segundo Eduardo Appio", escrita por Salvio Kotter, expõe práticas que, segundo Appio, eram corriqueiras na condução das investigações e prisões, relata a Folha de S. Paulo. O livro será lançado no próximo dia 2 de outubro e já promete grandes revelações sobre as condições desumanas a que os alvos da operação eram submetidos.
Em um dos trechos mais impactantes do livro, Appio descreve como os presos, ao chegarem à carceragem da Polícia Federal em Curitiba, eram "jogados em uma cela imunda com um colchonete inundado em urina e pulgas". De acordo com o juiz, os detidos eram mantidos isolados, sem contato com familiares, e submetidos a essas condições até que, geralmente às segundas-feiras, fossem chamados para negociações de delação premiada.
"Isso ocorreu em vários casos, inclusive envolvendo idosas, avós presas na frente dos netos e que não tinham nenhuma culpa, mas sabiam de detalhes", denuncia o juiz. Segundo ele, a estratégia visava pressionar emocional e fisicamente os presos a cooperarem com as investigações, muitas vezes sob condições desumanas e degradantes.
O livro também menciona o caso de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da Petrobras e o primeiro a fazer delação no âmbito da Lava Jato. Appio relata que Costa foi privado de banho por dias e sofreu ameaças contra sua filha. "Era uma espécie de Guantánamo", compara, referindo-se à prisão militar dos Estados Unidos. "Eu concedi um habeas corpus para Paulo Roberto da Costa em abril de 2014 e entrei para a lista negra de inimigos da Lava Jato", afirma.
Em sua análise, Appio critica duramente os resultados da operação, afirmando que ela "premiou a impunidade no Brasil", com empresários corruptores saindo "ilesos e impunes".
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