Gleisi critica o Banco Central após Selic diminuir só 0,5 ponto percentual: 'Campos Neto puxa o freio da economia brasileira'
De acordo com a presidente do PT, é necessária uma 'queda de juros com mais celeridade para o crescimento do Brasil'
247 - A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), publicou nesta quarta-feira (20) uma mensagem crítica ao presidente do Banco Central, Roberto Campos, após a diminuição de apenas 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), ligado ao BC.
"Mais uma vez o BC de Campos Neto puxa o freio da economia, com sua política de reduzir os juros a conta gotas. O país precisa de mais celeridade do BC para crescer", afirmou a parlamentar na rede social X.
Aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobram, desde o ano passado, mais rapidez nos cortes da taxa de juros para estimular o crédito, o consumo e o crescimento da economia.
Leia abaixo a reportagem da Reuters sobre o assunto:
Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira fazer uma nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano, e encurtou sua indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando que sua diretoria antevê corte na mesma intensidade apenas na próxima reunião, em maio.
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) ainda apresentou uma visão mais dura, segundo analistas, no ponto em que afirma que as medidas de inflação subjacente, que descartam itens com preços mais voláteis, passaram a se situar recentemente acima da meta de inflação.
"Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião", informou o Copom no comunicado.
O documento acrescentou que o Copom avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para lidar com o processo desinflacionário.
Desde agosto, quando o BC deu início a uma sequência de cortes sucessivos de 0,5 ponto percentual na Selic, a autarquia vinha indicando em seus comunicados que antevia reduções equivalentes “nas próximas reuniões”, no plural, em se confirmando o cenário esperado. Agora, o BC optou pelo singular.
Alguns economistas já vinham defendendo uma flexibilização dessa orientação para dar mais liberdade à condução da política monetária.
Apesar da mudança na indicação futura, o comunicado enfatizou que o cenário-base da autarquia não se alterou substancialmente, apesar de ter citado um aumento nas incertezas globais.
"O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária", afirmou.
A decisão do BC desta quarta veio em linha com as expectativas de mercado, conforme pesquisa da Reuters na qual todos os 47 economistas ouvidos apostavam em uma redução de 0,50 ponto na Selic.
O maior ponto de atenção do mercado estava precisamente na indicação do BC sobre o chamado “forward guidance”, a indicação sobre passos seguintes da política monetária.
Esta foi a sexta redução consecutiva na taxa básica de juros depois que o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento monetário em agosto de 2023. Desde o início da flexibilização, o Copom cortou três pontos percentuais na Selic.
Com a nova redução de 0,50 ponto, decidida por unanimidade, o Banco Central leva a taxa básica de juros ao menor nível em dois anos, com o patamar se igualando aos 10,75% vigentes em março de 2022.
INFLAÇÃO SUBJACENTE ACIMA DA META
No comunicado, o Copom apresentou uma visão mais negativa especificamente ao tratar das medidas de inflação subjacente, que desconsideram itens mais voláteis. Depois da afirmar em janeiro que as medidas de inflação subjacente se aproximavam da meta para a inflação, o BC disse agora que elas “se situaram acima” da meta nas divulgações recentes.
Mesmo com a nova avaliação, o BC deixou inalteradas suas projeções para o comportamento dos preços em relação à reunião de janeiro. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, a estimativa para a inflação segue em 3,5% para 2024 e 3,2% para 2025.
O economista João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, observou uma mensagem mais dura do BC em relação ao cenário inflacionário, acrescentando que a mudança de tom foi mais forte que a esperada.
Para o economista da ASA Investments Leonardo Costa, ao reconhecer as inflações subjacentes rodando acima da meta e citar o aumento de incertezas, o BC trouxe um comunicado “hawkish” (com tom duro).
“Seguimos com a aposta de continuidade do ciclo com cortes de 0,50%, com taxa terminal de 8,5%. Vamos esperar a ata para fazer eventuais alterações, mas o risco hoje está para uma terminal mais elevada que a nossa projeção atual, disse.
A economista chefe da SulAmerica Investimentos, Natalie Victal, avaliou que as menções à incerteza e à inflação subjecente sinalizam uma transição do BC para uma maior dependência dos dados para tomar suas decisões a partir de junho.
"Nos parece um BC cauteloso, dado o comportamento recente da inflação, e que não quis continuar a se comprometer para horizontes mais longos. Ou seja, hawk", afirmou.
Ainda com efeito incerto de medidas arrecadatórias aprovadas no ano passado pelo Congresso e sem desfecho para o impasse envolvendo a desoneração da folha de setores da economia, o BC reafirmou a importância da “firme persecução” das metas fiscais estabelecidas para ancorar expectativas e apoiar a condução da política monetária.
O BC deixou inalteradas suas projeções para o comportamento dos preços em relação à reunião de janeiro. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, a estimativa para a inflação segue em 3,5% para 2024 e 3,2% para 2025.
Mais cedo nesta quarta, o Federal Reserve manteve a taxa de juros nos Estados Unidos inalterada, mas os formuladores de política monetária indicaram que ainda esperam reduzi-la em 0,75 ponto percentual até o final de 2024, apesar do progresso mais difícil do que o esperado em direção à meta de inflação.
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