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    'Tragédia ambiental no RS está vinculada às escolhas políticas dos agentes públicos', diz Tarso Genro

    "Não pensar, politicamente, o que ocorre na nossa cidade neste momento é o melhor caminho para nos tornarmos, todos, perfeitos idiotas negacionistas", diz o ex-governador do estado

    (Foto: Reprodução | Palácio Piratini)

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    247 - O ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, avalia que parte da imprensa aderiu à tese de que “seria errado discutir” a tragédia ambiental registrada em Porto Alegre por meio da posição política dos agentes públicos, embora não expliquem “como separar técnicas de controle climático e gestão do Estado, sem vincular esses temas às escolhas políticas dos agentes públicos”.

    “A sua visão ideológica, mais negacionista ou menos negacionista -nesta visão dos proeminentes jornalistas daquele órgão de imprensa – não tem importância para o que devemos construir no futuro. Até parece que o Prefeito da cidade não é um rematado bolsonarista-negacionista de primeira hora e que suas omissões nada tem a ver com a sua ideologia e com a dimensão da nossa tragédia”, diz Tarso Genro em um artigo publicado no site Rede Estação Democracia.

    No texto, ele ressalta que “a hecatombe de Porto Alegre tem revelado, não só a decadência das funções públicas do Estado provocada pela inércia e omissão deliberada de gestão dos “liberais” e negacionistas da cidade, mas também porque os resultados da tragédia serão expostos – ainda no cenário da nossa vida – de forma reiterada e previsível” e que a ofensiva nacional contra o poder público e contra os rituais da política democrática, contra o serviço público em particular – e até contra políticas compensatórias timidamente social-democratas – teve um momento bem marcado no ciclo democrático que começou em 88”.

    Ainda segundo Tarso Genro, a entrega de bens e serviços públicos à iniciativa privada, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), aprofundou o desmonte do estado e prejudicou a população com a cobrança de “tarifas lucrativas para as empresas, fora do controle dos consumidores. O que se viu foi uma grande capacidade das empresas privatizadas ou concedidas de aparelhar o Estado, para proteger-se da sua fiscalização e do controle a que estariam submetidas”.

    “As empresas que “compram” (ou recebem de graça) as estatais, não serão derrotadas nas eleições nem terão a sua posse ou concessões subtraídas, já transformadas numa máquina de lucros para o setor privado. Seus prepostos políticos, todavia, podem, também, mudar de partido e acompanhá-las nos próximos governos, com todas as benesses legais e ilegais que isso possibilita. É que se tem visto em escala industrial, país afora e América Latina a dentro”, observa.

    “Privatizações de bens e serviços que não deveriam ser regulados pelas leis mercado e deveriam estar disponíveis para todos, sob direção e controle do Estado, como são a água, saneamento, energia elétrica, serviços de saúde pública, sistemas de proteção contra desastres naturais, instituições de pesquisa, indústria militar e órgãos de polícia eco-ambientais. O mundo mudou e a força coercitiva das grandes potências, para expandir os seus negócios, tornou-se um elemento central para compreender o que ocorre em escala global e local. Cada efeito da decomposição climática e dos problemas econômicos e sociais de qualquer lugar do mundo, cidade, região ou país, não podem ser mais pensados ‘por fora’ das grandes questões políticas do mundo”, destaca.

    “Não pensar, politicamente, o que ocorre na nossa cidade neste momento é o melhor caminho para nos tornarmos, todos, perfeitos idiotas negacionistas, ultraliberais latino-americanos. Esperando não Godot, como na peça Ionesco, mas um novo Síndico para um edifício arruinado”, finaliza.

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