Cirurgião-geral dos EUA quer alertas sobre risco de câncer nos rótulos de bebidas alcoólicas
Proposta reacende debate sobre regulamentação semelhante à do tabaco e poderia mudar o consumo de álcool
Reuters – O cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, defendeu na última sexta-feira que bebidas alcoólicas passem a trazer um alerta sobre o risco de câncer em seus rótulos. De acordo com o especialista, o consumo de álcool está associado a pelo menos sete tipos de câncer, como mama, cólon e fígado, mas boa parte dos norte-americanos desconhece esse perigo.
Segundo Murthy, o aumento de casos de câncer associados ao álcool exige uma revisão das diretrizes de consumo no país. Atualmente, as orientações dietéticas norte-americanas recomendam o limite de até duas doses por dia para homens e uma para mulheres. “O consumo de álcool é a terceira maior causa de câncer evitável nos Estados Unidos, depois do tabaco e da obesidade”, destacou o escritório do cirurgião-geral em comunicado oficial, reforçando que o tipo de bebida não faz diferença quando se trata de riscos.
Em resposta à proposta, a Distilled Spirits Council of the United States (DISCUS), que representa os principais fabricantes de destilados, citou um relatório recente da National Academies of Sciences, Engineering and Medicine. A vice-presidente de ciência da entidade, Amanda Burger, declarou: “A atual advertência de saúde nos produtos alcoólicos há muito tempo informa os consumidores sobre os riscos potenciais do consumo de álcool”. No entanto, ela ressaltou que ninguém deveria beber visando benefícios à saúde.
A ideia de colocar alertas de câncer nos rótulos remete às iniciativas que ocorreram com o tabaco a partir de 1964, quando um relatório do então cirurgião-geral concluía que o cigarro provocava câncer. Da mesma forma, o álcool nos Estados Unidos já traz alguns avisos, como o risco de má-formação no bebê durante a gravidez e os perigos de operar máquinas sob a influência da bebida, mas de forma bastante discreta. A proposta de Murthy pede a atualização desses rótulos, e não a substituição por alertas visíveis em toda a embalagem, como ocorreu com os cigarros.
Entidades de saúde internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), também vêm reforçando que não existe nível de consumo de álcool totalmente seguro. A Mayo Clinic, por sua vez, afirma que o risco de desenvolver doenças é baixo em consumo moderado, mas cresce significativamente conforme a quantidade ingerida aumenta. De acordo com o relatório do cirurgião-geral, beber duas doses por dia aumentaria o risco para cerca de cinco a cada cem mulheres e três a cada cem homens desenvolverem câncer.
Outro ponto que pode influenciar essa discussão é a queda nas vendas de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, após um breve crescimento no período pós-pandemia, e a preocupação do setor com possíveis tarifas e mudanças de hábitos dos consumidores mais jovens, que estão reduzindo o consumo de álcool em alguns mercados. Em contrapartida, fabricantes de cerveja têm observado um crescimento na procura por produtos de baixo ou nenhum teor alcoólico, como o exemplo da Heineken 0.0, cujas vendas em 16 países tiveram avanço expressivo no último ano.
A adoção definitiva das recomendações de Murthy dependerá do Congresso norte-americano. O atual governo do presidente Joe Biden está próximo de encerrar o mandato e, caso haja mudanças no comando do Departamento de Saúde, as propostas poderão ser revistas ou até mesmo descartadas. Ainda assim, o debate sobre rotulagem de bebidas alcoólicas tende a ganhar força com a atenção de organismos internacionais e os custos crescentes para o sistema de saúde decorrentes de enfermidades relacionadas ao consumo de álcool.
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