"Amigos para sempre, jamais inimigos": o novo princípio das relações China-Rússia

247 – Em entrevista publicada nesta terça-feira (1º) pela agência estatal russa RIA Novosti, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, destacou que Pequim e Moscou são “amigos para sempre, jamais inimigos”, em clara demonstração da profundidade do vínculo estratégico entre os dois países. A visita de Wang a Moscou, que ocorre entre os dias 30 de março e 1º de abril, foi coberta pela Reuters e ocorre em um contexto de tensões geopolíticas e tentativa de retomada do diálogo para um cessar-fogo na guerra da Ucrânia.

 “O princípio de ‘amigos para sempre, jamais inimigos’... serve como uma base legal sólida para promover a cooperação estratégica em um nível mais elevado”, declarou Wang à RIA.

A viagem do chanceler chinês, que inclui encontros com o presidente Vladimir Putin e com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, ocorre num momento em que a China reforça seu papel como potência estabilizadora no cenário internacional. Wang também elogiou os sinais de aproximação entre Rússia e Estados Unidos, após o presidente norte-americano Donald Trump adotar um tom mais conciliador desde o início de seu mandato em janeiro de 2025.

 “É encorajador ver Rússia e Estados Unidos avançando na melhoria de suas relações. Isso contribui para estabilizar o equilíbrio de poder entre as grandes potências e inspira otimismo em um cenário internacional decepcionante”, afirmou Wang.

Aliança sem limites

China e Rússia anunciaram uma parceria estratégica "sem limites" poucos dias antes da invasão da Ucrânia por tropas russas, em fevereiro de 2022. Desde então, o presidente Xi Jinping e Putin já se encontraram mais de 40 vezes, estreitando os laços em áreas como política externa, segurança, energia e resistência conjunta à influência dos Estados Unidos.

A visita de Wang reforça esse alinhamento, com discussões centradas no aprofundamento da cooperação diplomática e econômica, especialmente diante das incertezas provocadas pela guerra na Ucrânia e pela reorganização do tabuleiro global.

Mediação chinesa para a paz na Ucrânia

Wang Yi também reiterou a disposição de Pequim em contribuir para a resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia. Segundo ele, as recentes conversas sobre cessar-fogo “já trouxeram resultados”, ainda que modestos, e devem ser mantidas como base para avanços.

 “O passo em direção à paz, embora pequeno, é construtivo – vale a pena ser aproveitado”, afirmou o chanceler. “Com a paz, não há ganhos sem esforços. É preciso trabalhar duro para alcançá-la.”

Pequim tem proposto, inclusive com o Brasil, princípios gerais para pôr fim à guerra, que já dura mais de três anos. No entanto, tais propostas vêm recebendo acolhimento limitado por parte das potências ocidentais. Ainda assim, a China insiste em sua atuação diplomática, defendendo uma solução de consenso que seja justa, duradoura e vinculante.

 “Defendemos erradicar as causas da crise por meio do diálogo e da negociação, buscando um acordo de paz justo, de longo prazo e vinculante, que seja aceitável para todos os envolvidos”, declarou Wang.

Crítica ao pensamento de blocos

Em resposta a análises segundo as quais Trump estaria incentivando a Rússia para isolá-la da China, Wang condenou essa perspectiva como ultrapassada:

 “Essa ideia representa uma recaída em uma mentalidade obsoleta de confronto e formação de blocos”, disse.

Com o princípio de “amizade eterna” agora formalizado como base legal da relação bilateral sino-russa, a China sinaliza ao mundo sua intenção de continuar exercendo papel central na reorganização das alianças globais, atuando simultaneamente como parceira de Moscou e agente diplomático na busca por soluções multilaterais.