Embaixador da Etiópia defende revitalização do multilateralismo e destaca papel do país nos BRICS
Leulseged Tadese Abebe afirma que desenvolvimento sustentável exige a plena participação das mulheres e destaca agricultura e turismo como prioridades
247 - Em entrevista concedida à equipe de comunicação do BRICS Brasil, o embaixador da Etiópia no Brasil, Leulseged Tadese Abebe, abordou os principais desafios e oportunidades de seu país no contexto do grupo. Membro mais recente do bloco, a Etiópia se destaca como a maior economia da África Oriental, abriga a sede da União Africana e possui um patrimônio histórico, cultural e ambiental de relevância global.
“Este é o momento de renovar e revitalizar o multilateralismo”, afirmou o diplomata ao relembrar o histórico discurso do imperador Haile Selassie na Liga das Nações, em 1936, quando alertou sobre os riscos da omissão internacional diante da agressão fascista.
Agricultura e segurança alimentar no centro da agenda - Com mais de 120 milhões de habitantes, a Etiópia tem na agricultura familiar um dos pilares de sua economia. O setor representa a maior fatia do PIB nacional e emprega cerca de 80% da população ativa. “Destinamos mais de 10% do orçamento nacional à agricultura e adotamos uma abordagem integrada de desenvolvimento rural”, destacou o embaixador.
Ele ressaltou que o país se tornou o maior exportador de trigo da África, resultado do investimento em modernização agrícola e políticas públicas. Para Leulseged Tadese Abebe, a plataforma dos BRICS representa uma oportunidade de compartilhar e aprender boas práticas, além de atrair empresas do bloco para impulsionar o setor. “Por meio de discussões produtivas e orientadas para resultados, podemos trabalhar pelo objetivo de transformar a agricultura e garantir a segurança alimentar”, declarou.
Turismo como vetor de integração econômica - Outro setor estratégico mencionado na entrevista foi o turismo. Com 17 patrimônios reconhecidos pela UNESCO, a Etiópia lidera a África em número de sítios históricos, naturais e religiosos catalogados. “A paisagem, a população acolhedora, a beleza e o clima são verdadeiramente os melhores”, afirmou o diplomata.
A inserção do tema na agenda dos BRICS é vista como positiva: “as discussões em curso têm sido muito produtivas e nos ajudam a promover o turismo como fonte de crescimento econômico e geração de empregos”.
Participação feminina como condição para o desenvolvimento - Com veemência, Leulseged Tadese Abebe defendeu a igualdade de gênero como condição imprescindível para o progresso. “Se quisermos um desenvolvimento inclusivo e sustentável, isso não será alcançado sem a participação integral das mulheres em todos os níveis e em todos os aspectos”, declarou.
Ele lembrou que o primeiro-ministro Abiy Ahmed é um defensor da presença feminina em todas as esferas do governo, mas alertou que a representação precisa ir além do Parlamento. “Quanto mais as mulheres forem empoderadas, mais condições terão de garantir a educação de seus filhos, a segurança alimentar e a boa nutrição”, completou.
Etiópia busca integrar-se plenamente ao Novo Banco de Desenvolvimento - Segundo o embaixador, a adesão da Etiópia ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também conhecido como Banco dos BRICS, é uma prioridade para 2025. “Já recebemos apoio político de todos os membros dos BRICS e esperamos concluir o processo de adesão muito em breve”, afirmou.
Após a entrada formal no NDB, o país planeja focar investimentos em áreas como agricultura, energia e manufatura. “Trabalhamos com bancos de desenvolvimento alinhados às nossas prioridades nacionais, buscando impacto real na região”, destacou.
União Africana e a voz do continente nos BRICS - A sede da União Africana em Adis Abeba não é mera coincidência, mas parte de um legado etíope na integração continental. “Aderindo ao BRICS, a Etiópia — junto com África do Sul e Egito — pode promover as posições africanas em temas como paz, segurança, desenvolvimento sustentável e clima”, afirmou o embaixador.
Ele enfatizou que o continente africano deve ser visto como destino estratégico de investimentos, comércio e turismo: “somos o segundo continente mais populoso do mundo, com 1,4 bilhão de pessoas — a maioria jovem. Esta é uma grande oportunidade para o crescimento econômico global”.
A atualidade do discurso de Haile Selassie e a defesa do Sul Global - Ao refletir sobre o histórico discurso do imperador Haile Selassie, Leulseged Tadese Abebe afirmou que suas palavras continuam ecoando nos desafios atuais. “O multilateralismo está enfraquecido e precisamos de mais multilateralismo, porque o mundo é altamente interdependente”, disse.
Para ele, as soluções para problemas globais precisam ser universais e articuladas de forma coletiva. “A mensagem do imperador em 1936, diante da invasão fascista, é ainda mais atual: se um país é atacado ilegalmente, isso deve ser considerado um ataque a todos os países que amam a paz”.
Encerrando, o embaixador reiterou que é hora de renovar as estruturas decisórias globais para dar voz às demandas legítimas do Sul Global: “devemos reformar o sistema global de tomada de decisões para construir um futuro melhor, não apenas para a geração atual, mas também para as futuras gerações”.
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