Empresa da família de Daniel Noboa é ligada ao tráfico de cocaína para a Europa, revela investigação
Relatórios policiais mostram que a Noboa Trading teve ao menos três carregamentos de cocaína interceptados no Equador
247 - Uma investigação da Revista RAYA, do Equador, repercutida pelo portal PIA, lançou luz sobre um escândalo que abala o centro do poder político equatoriano: a empresa bananeira da família do presidente Daniel Noboa está envolvida em esquemas de tráfico internacional de cocaína. Documentos da Polícia Nacional revelam que, entre 2020 e 2022, cerca de 700 quilos da droga foram apreendidos em contêineres da Noboa Trading no porto de Naportec, em Guayaquil, destinados principalmente a países europeus como Croácia e Turquia.
A reportagem, assinada pela Unidade Investigativa da Revista RAYA, detalha o modus operandi da organização e o papel central desempenhado pela empresa ligada ao clã Noboa — um império que controla desde as plantações de banana até os portos privados utilizados para exportação. A investigação também revela que o único detido pelos crimes, o contratista José Luis Rivera Baquerizo, responsável pelo controle antinarcóticos da Noboa Trading, foi libertado graças à defesa feita por Edgar José Lama Von Buchwald, hoje ministro da Saúde e então assessor direto de Daniel Noboa.
Cargas milionárias de cocaína escondidas em meio a bananas - O primeiro carregamento foi interceptado em 20 de agosto de 2020, no auge da pandemia. Dentro de um contêiner destinado à Croácia, policiais encontraram 151 pacotes de cocaína camuflados sobre caixas de banana. O segundo episódio ocorreu em 30 de junho de 2022, no mesmo porto de Naportec. Desta vez, 260 tijolos da droga, identificados com o logotipo da Nike, foram escondidos no sistema de refrigeração do contêiner.
A terceira remessa ilegal foi descoberta em 24 de abril de 2024, novamente em Naportec, com 76 quilos de cocaína escondidos em um teto falso do contêiner. Em todos os casos, José Luis Rivera Baquerizo figurou como o responsável técnico pelos carregamentos — e foi liberado sem maiores consequências, o que levanta suspeitas de blindagem política e interferência nos processos judiciais.
Rota do tráfico e silêncio cúmplice - O jornalista Andrés Durán, responsável por tornar pública parte dos documentos da polícia, afirmou em entrevista à Revista RAYA que “este é o primeiro caso documentado na história do Equador em que estaria envolvida uma família presidencial com o tráfico de cocaína”. Segundo Durán, que deixou o país após sofrer ameaças de morte e assédio judicial por parte do partido governista ADN, “a família Noboa controla todo o circuito do negócio de exportação de banana, desde a colheita até os portos privados”.
Além das cargas interceptadas no Equador, outras apreensões ocorreram em portos da Europa. Em Mersin, na Turquia, 600 quilos de cocaína foram encontrados em caixas com o logotipo da empresa Banana Bonita, também pertencente ao grupo Noboa e registrada em um paraíso fiscal nas Bahamas. Relatórios da Comissão Europeia indicam que até 57% dos contêineres de banana que saem de Guayaquil chegam à Bélgica contaminados com cocaína.
Noboa admite vínculos familiares, mas nega responsabilidade - Durante o debate presidencial realizado em 23 de março, a candidata de esquerda Luisa González questionou o presidente Daniel Noboa sobre os casos. O mandatário não negou os fatos: “não sou o dono da empresa, mas sim estão membros da minha família nessa empresa. Noboa Trading cooperou em cada um dos casos e isso foi esclarecido perante a Promotoria. Isso desliga qualquer funcionário da Noboa Trading de qualquer ato ilícito”.
Contudo, a realidade descrita nos documentos oficiais contradiz a narrativa apresentada por Noboa. O afastamento de promotores envolvidos nas investigações e a reincidência dos nomes ligados à empresa familiar sugerem um padrão de impunidade e favorecimento.
Um discurso de “punho de ferro” questionado - O escândalo se torna ainda mais grave diante do discurso de combate ao narcotráfico adotado por Noboa, que propôs inclusive o uso de mercenários estrangeiros e o retorno da base militar dos EUA em Manta para lidar com a crise de segurança no país. A revelação de que a estrutura empresarial de sua família está diretamente envolvida no tráfico mina a credibilidade de seu governo e amplia a percepção de hipocrisia institucional.
A investigação da Revista RAYA expõe não apenas uma rede de tráfico internacional de drogas, mas também os laços perigosos entre elites econômicas e o poder político. Em meio à escalada da violência no Equador, as denúncias contra a Noboa Trading colocam o presidente Daniel Noboa no centro de uma crise que desafia os pilares do Estado de Direito.
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