SL Kanthan: o declínio da hegemonia americana e os desafios para a Índia
País asiático precisa repensar sua estratégia geopolítica em um mundo multipolar
247 - O mundo está testemunhando a erosão da supremacia dos Estados Unidos e a ascensão de um modelo geopolítico multipolar. Em um artigo publicado por SL Kanthan, a relação entre a Índia e os Estados Unidos é analisada criticamente, destacando a necessidade de Nova Deli agir com cautela para não se tornar apenas um peão dos interesses americanos na região.
Historicamente, os Estados Unidos têm demonstrado uma postura ambígua em relação à Índia. Apesar das declarações entusiásticas dos presidentes Joe Biden e Donald Trump sobre a importância da parceria entre os dois países, a relação se baseia primordialmente nos interesses norte-americanos: conter a China, explorar mão de obra barata e expandir o mercado consumidor. Em sua estratégia global, os Estados Unidos não mantêm aliados leais, mas sim parceiros circunstanciais movidos por conveniências geopolíticas e econômicas.
A história recente mostra que os Estados Unidos não hesitam em intervir politicamente quando seus interesses são ameaçados. Exemplo disso foi a destituição do primeiro-ministro de Bangladesh, Sheikh Hasina, após sua recusa em permitir uma base militar americana no país. A Índia deve levar isso em consideração, pois Washington busca influenciar todas as esferas do país asiático, desconsiderando sua autonomia estratégica, alerta Kanthan.
No passado, a Índia sofreu as consequências de sua proximidade com os Estados Unidos. Durante a Guerra Fria, Washington impôs sanções e sabotou os interesses indianos como retaliação à sua política de não-alinhamento e aos laços com a União Soviética. A intervenção americana em conflitos regionais, como na independência de Bangladesh, ilustra o descompromisso dos Estados Unidos com a segurança e soberania indianas.
O crescimento econômico da Índia nos últimos anos tem sido notável, mas ainda é inferior ao da China, que investiu massivamente em tecnologia e desenvolvimento industrial. Empresas chinesas como Huawei, BYD e ByteDance dominam seus respectivos setores, enquanto a Índia permanece dependente de produtos e serviços americanos. Essa dependência também se reflete na política externa indiana, que frequentemente cede à pressão de sanções dos EUA, como no caso da compra de petróleo iraniano e no atraso no projeto do porto de Chabahar.
Ademais, a participação indiana em acordos como o QUAD e outras iniciativas do Indo-Pacífico, voltadas para conter a China, favorece a estratégia americana de divisão e controle, opina o autor do artigo. A história ensina que a Índia não deve confiar cegamente em promessas de cooperação ocidental. Os Estados Unidos toleram o avanço da Índia até certo ponto, mas não permitirão que o país desafie suas gigantes tecnológicas e financeiras.
Enquanto a Índia busca fortalecer sua posição global, o mundo caminha para um futuro multipolar. Organizações como o BRICS representam uma alternativa real para a cooperação entre os países do Sul Global, reduzindo a dependência do Ocidente. Além disso, a progressiva desdolarização da economia mundial enfraquece a influência hegemônica dos EUA, abrindo espaço para novos paradigmas econômicos e políticos.
O declínio da hegemonia americana não significa a ascensão de um novo império, mas sim a redistribuição do poder entre várias nações. Para se posicionar de maneira estratégica, a Índia deve equilibrar suas alianças, investir no próprio desenvolvimento tecnológico e defender sua soberania com firmeza, defende Kanthan. O futuro geopolítico não pertence a um único país, mas às nações que souberem se adaptar à nova ordem mundial.
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