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    Aprosoja e governo brasileiro criticam Danone por fala sobre boicote à soja do Brasil

    Declaração de um alto executivo da companhia francesa foi considerada "descabida", "intempestiva" e "um ato discriminatório contra o país e sua soberania"

    Caminhão carregado de soja em Mato Grosso (Foto: Paulo Whitaker / Reuters)

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    Reuters - A Aprosoja Brasil, entidade que representa agricultores do maior produtor e exportador global de soja, afirmou nesta terça-feira que há "motivos de sobra" para produtores rurais brasileiros boicotarem a Danone após um alto executivo da companhia francesa dizer que a multinacional não mais compra a oleaginosa no país.

    Já o Ministério da Agricultura do Brasil afirmou em nota que o país exige ser tratado com "a mesma justiça e equilíbrio que pautam as relações comerciais internacionais, devendo ser rechaçadas posturas intempestivas e descabidas como anunciadas por empresas europeias, com forte presença de atividade também no mercado brasileiro".

    A gigante francesa de laticínios Danone parou de comprar soja do Brasil e agora compra de países da Ásia, disse na semana passada seu diretor financeiro, Jurgen Esser, à Reuters, enquanto a União Europeia prepara uma lei que exige que as empresas provem que não estão comprando commodities de áreas desmatadas.

    Segundo a Aprosoja Brasil, a posição demonstra desconhecimento do processo produtivo no Brasil e "um ato discriminatório contra o país e sua soberania".

    "Não é de se duvidar que os produtores rurais brasileiros, cansados de serem injustamente apontados como os vilões, quando na verdade são os heróis da sustentabilidade, comecem a ter motivos de sobra para colocar a Danone e outras marcas mundiais na lista de empresas a serem boicotadas no Brasil", afirmou a Aprosoja.

    Para a entidade, o "boicote adotado pela multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros, mesmo que a legislação da União Europeia antidesmatamento ainda não tenha entrado em vigor".

    O Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que abrange importações de commodities como cacau, café e soja, estava programado para entrar em vigor em 30 de dezembro de 2024, embora a Comissão da UE tenha proposto um adiamento de 12 meses.

    Segundo a associação, "a afirmação de que o Brasil lidera a destruição de floresta tropical no mundo é fala de quem desconhece a dinâmica das florestas no Brasil".

    "Pior ainda, está discriminando o único produtor de soja no mundo que preserva o meio ambiente e os recursos hídricos dentro das suas propriedades", disse a entidade, citando a legislação brasileira, que determina que o produtor rural precisa preservar de 20% a 80% de Reserva Legal, dependendo do bioma, e mais as Áreas de Preservação Permanentes (beira de rio, topo de morro e entorno de nascentes).

    "Comparativamente, os produtores franceses não preservam quase nada", disse a Aprosoja Brasil.

    Já o ministério afirmou que o Brasil conta com uma das legislações ambientais "mais rigorosas do mundo", que "tem permitido ao país combater o desmatamento ilegal com políticas públicas que abrangem o Cerrado, a Amazônia e outras regiões sensíveis, assegurando que a produção agrícola seja feita de maneira responsável e sustentável".

    Por outro lado, a unidade brasileira da Danone afirmou em nota nesta terça-feira que "a Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais". A empresa, porém, não explicou nesta terça-feira a diferença de seu posicionamento no Brasil versus o comentário de Esser na semana passada quando questionada pela Reuters no país.

    A sede da Danone na França não retornou pedidos de comentários após a divulgação do comunicado da Aprosoja criticando a fala do executivo.

    A Aprosoja afirmou ainda que "este ato de discriminação contra a produção de grãos do Brasil é passível de reclamação por parte do governo brasileiro nas instâncias que regulam o comércio mundial", como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

    Enquanto os principais comerciantes de grãos seguem acordos como a Moratória da Soja, que proíbe a compra de soja de terras recém-desmatadas na floresta amazônica, o Cerrado brasileiro vê o avanço do cultivo, em momento em que o desmatamento nessa região tem crescido.

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