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    BRICS oferece a Cuba chance de driblar 60 anos de embargo dos EUA via banco do grupo, dizem analistas

    Além disso, a adesão ao BRICS pode impulsionar a economia cubana por meio do turismo, um dos principais motores econômicos do país

    Guindastes pontilham o horizonte enquanto a construção de hotéis de luxo e a reforma de edifícios históricos estão em andamento, em Havana, Cuba (Foto: REUTERS/Stringer)

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    247 - O governo de Cuba formalizou, no início de outubro, seu pedido para aderir ao BRICS, um grupo que passou recentemente por uma ampliação e agora inclui, além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, países como Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Arábia Saudita. O convite para a parceria foi lançado durante a Cúpula do BRICS, realizada entre os dias 22 e 24 de outubro, em Kazan, na Rússia.

    Em uma entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas discutem as potenciais contribuições de Cuba ao BRICS e as oportunidades que essa adesão pode trazer para a ilha, que enfrenta há 60 anos o embargo imposto pelos Estados Unidos, o que compromete sua soberania econômica. Guilherme Barbosa Pedreschi, advogado, procurador federal e autor do livro "Na estrada com Fidel: o outdoor na Revolução Cubana", analisa que a principal meta de Havana é estabelecer condições mais favoráveis para contornar as sanções norte-americanas, buscando "efetivamente fazer trocas mais justas".

    "Entrar no sistema financeiro de uma maneira mais eficiente e comercializar de uma maneira mais justa. Então essa me parece que é a grande esperança, a grande boia de salvação que se sinaliza para Cuba ter acesso a crédito do Novo Banco de Desenvolvimento e assim se fortalecer nesse mundo multipolar que está se redesenhando", destaca o especialista.

    A entrada de Cuba no BRICS é vista como um ganho significativo para a América Latina, que, segundo Pedreschi, encontra-se sob a influência "ruim" e "maléfica" dos EUA. Ele argumenta que Cuba se tornará um ator mais relevante nas economias da região, favorecendo a intercambialidade entre os países latino-americanos.

     "Esse ganho diplomático que Cuba vai ter, esse aumento no peso de Cuba na comunidade internacional, tende a florescer nos demais países aqui [...]. Eu vejo com muito bons olhos que uma nova roupagem realmente vai se desenhando na América Latina."

    Além disso, a adesão ao BRICS pode impulsionar a economia cubana por meio do turismo, um dos principais motores econômicos do país, que tem sido severamente impactado desde a presidência de Donald Trump (2017–2021). "Cuba já é bastante aberta e muito fácil de conseguir visto de qualquer lugar do mundo [...]. Mas com os parceiros do BRICS, tende a ser melhor ainda você fomentar agências de viagem especializadas dentro desses países do BRICS. Então você tem pacotes especiais, você tem uma gama de possibilidades de aumentar o turismo", explica.

    Quando questionado sobre como a população cubana tem conseguido resistir a seis décadas de embargo, Pedreschi destaca a "consciência política" como um fator central. "O povo cubano é muito consciente; ele sofre duramente, é castigado, mas eles têm cultura política para entender, de um modo geral, que estão sendo sufocados. É um país que não tem soberania econômica, ele é isolado, qualquer empresa do mundo que negociar com Cuba vai sofrer um processo nos EUA."

    Nesse cenário, ele afirma que a população cubana "não tem outra opção senão resistir", ressaltando que a alternativa seria "entregar o país para os EUA", que agiriam para transformá-lo em "um outro Porto Rico". "Então o povo resiste porque tem que resistir e dribla como vem driblando desde 1960, quando começaram as sanções. [...] E agora, mais uma vez, com o BRICS, é mais uma chance da nação e do povo resistir", conclui.

    José Niemeyer, professor de relações internacionais do Ibmec, afirma que a possível entrada de Cuba representa uma reformulação do BRICS como um grupo econômico. "Eu não considero um bloco de integração regional porque muitos países não têm um link geográfico. [...] É um bloco de representação econômica, mas cada vez mais eu tenho visto o BRICS como uma intenção de países do Oriente, principalmente Rússia e China, de criar um contraponto ao bloco ocidental, principalmente aquele bloco ocidental que é formado na perspectiva militar pela OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]."

    Niemeyer enfatiza que a adesão de Cuba ao BRICS tem um caráter mais político-ideológico, dado que se trata de um país que sempre desafiou Washington, com a Rússia e a China vendo nele um novo centro para se contrapor ao mundo ocidental.

    Por fim, ao abordar a possibilidade de o Brasil sofrer sanções por apoiar a adesão de Cuba, Niemeyer destaca a necessidade de um equilíbrio nas relações internacionais do país. "O Brasil está nesse meio-termo dessa disputa que eu tenho visualizado entre o Ocidente e o Oriente. Não é uma nova Guerra Fria, [...] mas você vê hoje decididamente dois blocos de países, países como EUA e União Europeia e países como China e Rússia, e o Brasil tem que saber se equilibrar no meio disso."

    Ele lembra que o Brasil é uma potência verde, um grande produtor de alimentos e energia, e deve manter um papel relevante neste novo cenário global. "Se você me perguntar, do ponto de vista estratégico militar, 'O Brasil está mais próximo dos EUA do que da China?', está mais próximo dos EUA. Mas, do ponto de vista comercial, a China é tão importante quanto os EUA hoje para a balança comercial brasileira", finaliza o especialista.

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