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      Marco Rubio e o segundo turno no Equador

      O segundo turno de domingo (13), entre Daniel Noboa e a líder da oposição Luisa González assume uma dimensão especial para o governo Trump

      Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio - 14/03/2025 (Foto: SAUL LOEB/Pool via REUTERS)

      Por Carlos Fazio (*) no La Jornada - Devido à sua importância geoestratégica, o Equador se tornou um enclave da política militarista dos Estados Unidos (EUA) na América do Sul. Por isso, o segundo turno de domingo, 13 de abril, entre o atual presidente equatoriano, Daniel Noboa, e a líder da oposição Luisa González assume uma dimensão especial para o governo Trump. Após o empate técnico nas eleições de fevereiro, Noboa, que se encontrou com Trump neste fim de semana em Mar-a-Lago, pode perder sua candidatura à reeleição para a líder progressista, que agora recebe o apoio do setor indígena e camponês liderado por Leónidas Iza, que obteve 5% dos votos no primeiro turno. Mas devido a fatores geopolíticos e factuais que fazem parte da estrutura de poder por trás do governo Noboa — incluindo o sionismo israelense e a Embaixada dos EUA — as instituições equatorianas podem ser distorcidas e resultar em fraudes.

      A eleição presidencial no Equador será a primeira na América do Sul desde a chegada de Trump à Casa Branca. Representa o primeiro teste real para a "cruzada antiesquerda" do secretário de Estado Marco Rubio, que como senador republicano esteve diretamente envolvido com operações secretas do Comando Sul do Pentágono e da Agência Central de Inteligência (CIA) na região andino-caribenha, em conexão com setores de extrema direita na Colômbia, Venezuela, Cuba e Equador. 

      Em uma situação semelhante à que o Equador enfrenta hoje: o segundo turno eleitoral de 11 de abril de 2021 entre o então candidato do Correísmo, Andrés Arauz, e o banqueiro Guillermo Lasso, em uma aliança operacional com a inteligência militar colombiana, o Comando Sul e a CIA deram início à Operação Tiro Charlie-Odín, que um ano antes, em vista das eleições entre Joe Biden e Donald Trump nos EUA, havia sido modificada com os governos de Cuba e Venezuela como alvos centrais. 

      Datado de 5 de outubro de 2020, o plano, que buscava blindar o governo de Iván Duque, na Colômbia, do surgimento de mobilizações populares, conspirava para usar a localização de Andrés Felipe Vanegas Londoño, vulgo Uriel , terceiro comandante da frente de guerra ocidental do Exército de Libertação Nacional (ELN), para gerar um impacto político-midiático positivo perante o Departamento de Estado. O documento recomendou utilizar o canal do então embaixador colombiano em Washington e do deputado JD Vélez, com Rubio e legisladores republicanos de origem cubana na Flórida, com o objetivo de retomar acordos que não haviam sido adiantados e avançar na ação do Tiro Charlie-Odín. 

      O plano enfatizou o relacionamento da embaixada cubana em Bogotá com membros do ELN e buscou estabelecer um consenso de que as "manifestações violentas" foram coordenadas pelo Movimento Colombiano de Solidariedade com Cuba e pela Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA). A estratégia previa usar arquivos plantados nos computadores de Vanegas Londoño, que seriam enviados ao Ministério Público colombiano e à Interpol, para conectar diretamente os colombianos que apoiavam os grupos de solidariedade a Cuba. Vinte dias depois, Uriel foi morto em Chocó como parte da Operação Odin. 

      O curioso do caso é que, depois de Arauz ter vencido no primeiro turno das eleições presidenciais de 7 de fevereiro de 2021 no Equador, com 32,72% dos votos, contra Guillermo Lasso (19,74) e Yaku Pérez (19,38), cinco dias depois o Procurador-Geral da Colômbia, Francisco Barbosa, chegou a Quito para entregar à sua contraparte equatoriana, Diana Salazar, informações "encontradas" nos computadores do líder do ELN, que indicariam suposto financiamento da guerrilha à campanha de Arauz. 

      Como o site de notícias americano The Grayzone destacou na época , após a vitória de Arauz no primeiro turno, o Departamento de Estado, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o governo de direita colombiano estavam tentando impedir sua vitória no segundo turno. O curioso da trama também é que Rubio fez parte da desestabilização das eleições no Equador, e que Cuba e Venezuela continuaram sendo alvos estratégicos do Pentágono e da CIA. 

      No final, o banqueiro Lasso venceu, continuando a rendição da soberania equatoriana aos EUA, iniciada pelo desertor Lenín Moreno sob a proteção da ex-chefe do Comando Sul, General Laura Richardson. Desde então, incluindo o governo subsequente de Daniel Noboa — nascido em Miami, Flórida, membro de uma rica família equatoriana dona de um dos principais impérios do país, avaliado em 1,2 bilhão de dólares, e educado nas universidades de Nova York, Harvard e George Washington — os EUA conseguiram que suas aeronaves de vigilância naval P-3 Orion operassem a partir das bases aéreas Simón Bolívar e do aeroporto da Ilha de San Cristóbal, no arquipélago das Ilhas Galápagos, sob a conveniente desculpa de combater o narcotráfico. O general Oswaldo Jarrín, ex-ministro da Defesa do Equador, disse na época que "Galápagos é um porta-aviões natural", em reconhecimento tácito do envolvimento do Equador na projeção militar estratégica do Pentágono no Oceano Pacífico. 

      A militarização das Ilhas Galápagos e a eventual reabertura da Base Aérea de Manta às forças especiais do Comando Sul — que, segundo a CNN, fazia parte do pacote de ofertas de traição de Noboa ao governo Trump neste fim de semana, e que foi endossado pelo porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, James Hewitt — são componentes da disputa geopolítica dos EUA com a China, cujo presidente, Xi Jinping, inaugurou em novembro de 2024 o megaporto inteligente e centro logístico de Chancay (o primeiro da América do Sul), com potencial projeção em direção ao Brasil por ferrovia, e que será alvo do roteiro de guerra comercial de Trump junto com o Canal do Panamá. 

      Portanto, resta saber se, entre agora e 13 de abril, data do segundo turno das eleições equatorianas, a diplomacia de guerra de Marco Rubio, em conluio com o Pentágono, a CIA e o sionismo israelense, usará sua série de truques sujos para impedir que Luisa González, a candidata da aliança Revolução Cidadã/Pachakutik/Conaie, conquiste o protegido de Trump, Daniel Noboa.

      (*) Professor e jornalista uruguaio residente no México. Professor da Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da UNAM e da Universidade Autônoma da Cidade do México (UACM) 

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