“Tarifaço de Trump marca o fim do neoliberalismo", diz Gustavo Petro
Presidente colombiano afirma que presidente dos EUA enterrou a ideologia liberal
247 – O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou nesta quarta-feira (2) que a nova política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, representa o encerramento definitivo da era neoliberal no cenário global. A declaração foi publicada em sua conta oficial na rede X (antigo Twitter) e repercutiu fortemente em meio à escalada protecionista anunciada por Washington.
“Hoje o neoliberalismo, que proclamava uma política librecambista em todo o globo, morreu. Aqueles que se amarram a essa ideologia extrema devem saber que se amarram a um cadáver”, escreveu Petro, em uma crítica direta tanto ao modelo econômico liberal clássico quanto aos setores políticos que ainda defendem sua aplicação irrestrita.
Crítica ao modelo binário: nem protecionismo absoluto, nem livre-comércio total
Em sua análise, Petro reforçou que tanto o protecionismo cego quanto o livre-comércio irrestrito podem trazer prejuízos significativos. “Temos dito que não se pode ter uma atitude protecionista ‘per se’, nem librecambista ‘per se’. Ambas posturas são daninhas”, ponderou.
Segundo o presidente colombiano, seu governo propõe desde 2022 uma abordagem alternativa, baseada no que ele chamou de “política tarifária inteligente”. Essa diretriz visa alinhar a estrutura de tarifas de importação com os objetivos estratégicos da industrialização do país, orientada por critérios ambientais e tecnológicos.
Industrialização do século XXI: digital, verde e soberana
Petro defendeu uma industrialização descarbonizada, ancorada no desenvolvimento tecnológico avançado. “Nosso objetivo é que a Colômbia se industrialize nas formas que nosso século XXI impõe: industrialização descarbonizada e baseada em desenvolvimento digital avançado”, afirmou.
Diferentemente de Trump, que anunciou um tarifaço global de até 10% sobre todos os produtos importados como forma de estimular a indústria norte-americana, Petro propõe uma regulação tarifária flexível e guiada pelo impacto no emprego.
Tarifas como instrumento de defesa do trabalho
A política tarifária defendida pelo governo colombiano se orienta pelo saldo de postos de trabalho gerados ou perdidos com determinado nível de imposto sobre importações. “O maior indicador para nos guiarmos inteligentemente são os postos de trabalho que se geram ou que se perdem com um determinado nível de tarifa”, explicou Petro.
Com isso, o governo da Colômbia reduz tarifas sobre produtos que favorecem a geração de empregos e a modernização industrial, e eleva taxas para importações que impactam negativamente setores estratégicos nacionais.
Contraponto a Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tomou posse para seu segundo mandato em janeiro de 2025, revelou recentemente seu plano de impor tarifas “recíprocas e globais” sobre todas as importações, como estratégia para estimular a produção e o emprego domésticos. Segundo ele, as medidas visam enfrentar o que considera uma “concorrência desleal” promovida por países que subsidiam suas exportações.
Petro, no entanto, vê com ceticismo essa virada norte-americana. “Na minha opinião, pode ser um grande erro”, comentou, ao avaliar que o tarifaço pode ter efeito reverso se não for acompanhado de um projeto de reindustrialização coerente e sustentável.
Fim de uma era?
Ao associar o novo protecionismo de Trump ao colapso do modelo neoliberal globalizado, Gustavo Petro lança luz sobre a profunda transformação em curso na geopolítica econômica mundial. Seu posicionamento busca diferenciar a Colômbia de ambos os extremos — o do laissez-faire irrestrito e o do fechamento mercantil — propondo uma política industrial ativa e seletiva.
Com isso, o presidente colombiano se posiciona como uma das vozes mais influentes da nova esquerda latino-americana, que busca redefinir os rumos do desenvolvimento com foco na soberania produtiva, inclusão social e transição ecológica.
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